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A alta do dólar registrada nos últimos meses, e principalmente nas últimas semanas de 2019, tem impactos diretos no bolso do consumidor brasileiro. Não só o preço da carne, que visivelmente já aumentou, mas outros alimentos, produtos e até serviços podem ter reflexos imediatos ou até no médio prazo, dependendo de por quanto tempo a valorização continuar.
Mas o que está acontecendo? Quando falamos em alta do dólar, na verdade o que ocorre é o contrário, é o real que se desvaloriza diante da moeda norte-americana que é referência no mercado internacional. Isso gera impactos nas relações comerciais entre o Brasil e o mercado externo, ou seja, tudo que o país importa e exporta é afetado positivamente e negativamente.
As exportações são beneficiadas porque com a moeda brasileira em baixa, o país fica mais competitivo em preço internacional e os produtores recebem em dólar por tudo que for exportado.
Como o Brasil é líder em produção agropecuária, produtores de carnes (bovina, suína e frango), soja, açúcar e café, por exemplo, passam a ter um ambiente favorável às exportações. Para otimizar ganhos, a produção é destinada para o mercado externo, reduzindo a quantidade para o mercado interno.
O envio de grande parte da produção para o exterior afeta o consumo das famílias brasileiras que, devido a menor oferta interna, veem o aumento de preço nos supermercados e açougues.
Somado a isso, os setores da economia brasileira que dependem de matéria prima de outros países, ou possuem componentes com preço fixado no mercado internacional, são impactados negativamente.
Ou seja, o real desvalorizado encarece tudo que for importado e todos os preços internacionais ficam mais caros para os brasileiros. Os impactos negativos são muitos e afetam os consumidores diretamente.
Essa alta ocorre por fatores das políticas macroeconômicas decorrentes de decisões do governo e do mercado. Não é de hoje que o abastecimento interno é tratado sem prioridade, de forma irresponsável, fazendo com que consumidores brasileiros sofram com decisões que não consideram as suas necessidades. Os interesses dos consumidores e o mercado de consumo interno de bens essenciais deveria ser levado mais a sério.
Para o consumidor, há escolhas que podem ser feitas para minimizar esses efeitos. Abaixo o Idec listou como o seu bolso pode ser afetado, a curto e médio prazo, e algumas dicas.
De imediato
Na alimentação
A alta do preço da carne nos últimos meses não foi só causada pela alta do dólar, mas ele também influenciou. Neste caso, há outros fatores que contribuem para que o produto tenha ficado mais caro para o brasileiro: um deles foi o aumento das exportações para os chineses depois que uma peste suína matou grande parte do rebanho que abastecia o país.
Mas o dólar tem seu papel importante. Valorizado em relação ao real, é mais interessante para o produtor brasileiro vender seu produto no exterior com o preço mais alto do que vender no mercado interno. Com a diminuição da oferta de carne nos supermercados, os preços tendem a aumentar.
Enquanto persistir a alta dos preços, a dica é procurar fontes alternativas de proteína. O consumidor vai precisar usar a criatividade para não se endividar.
Aproveite o momento para experimentar novos sabores e comer mais alimentos in natura ou minimamente processados, como verduras, legumes, ovos, leites e frutas da estação. O Idec preparou algumas dicas saudáveis baseadas no Guia Alimentar para a População Brasileira: 10 passos para uma alimentação saudável
No período de festas natalinas, o dólar também afeta os principais produtos da ceia que são importados como castanhas, bacalhau e bebidas. Mas há solução. Neste caso, substitua! Castanhas, nozes e avelãs podem ser trocadas por frutas encontradas com mais facilidade e por um menor preço, como pêssegos e ameixas. Confira as dicas do Idec e economize nas compras para a ceia de Natal.
Na mobilidade
A Petrobras já anunciou o aumento do preço do litro da gasolina nas refinarias, o que deve refletir na hora de abastecer o veículo. Neste caso, opção é tentar diminuir o uso do carro e andar mais de transportes público, talvez até pedalar ou andar a pé.
Para isso, o Idec tem dicas para você andar, em segurança, de bicicleta e a pé pela cidade.
E claro, não se esqueça dos seus direitos enquanto consumidor ao utilizar os transportes públicos.
No turismo
Para viajar ao exterior o consumidor pagará mais caro pela passagem aérea, hospedagem, alimentação. Então planeje!
Avalie se é melhor adiar uma viagem internacional para outro período com dólar mais favorável, fazer uma viagem nacional, trocar o nível do hotel e reduzir o consumo no país visitado. Saiba como se prevenir de problemas nas viagens.
A médio prazo
Na energia
Parte da energia consumida no Brasil vem das termelétricas que consomem diesel, cujo preço é definido com base na variação barril do petróleo, em dólar. Dessa forma, com a alta da moeda norte americana, pode haver repasse para as tarifas pagas pelo consumidor.
Outro fator é que o Brasil compra, em dólar, a parte da energia produzida pela metade paraguaia de Itaipu que não é utilizada pelo país vizinho.
Para não ficar refém da alta do dólar, a dica é reduzir o consumo e economizar os gastos.
Na alimentação
O preço do pão e das massas em geral pode ser afetado. Isso porque metade da farinha consumida no Brasil é importada, portanto, comprada em dólar. Contudo, o prazo de quando esse repasse deve ocorrer vai depender dos estoques do produto e por quanto tempo o dólar continuará em alta.
O café é outro produto que também é negociado no exterior e em dólar. Neste caso, pode acontecer algo semelhante à carne. Com maior valor fora do Brasil, é mais interessante exportar que manter o produto no país. Mais uma vez, use a criatividade para substituir os produtos enquanto os preços estiverem altos.
Na saúde
Se a tendência de alta do dólar seguir estável, o setor de saúde também deve ter impactos. A variação cambial possui influência direta sobre procedimentos e dispositivos médicos utilizados na atenção de alta complexidade, que exige, por exemplo, exames de imagens mais apurados e intervenções mais delicadas. Grande parte dessas operações se vale de insumos importados. A alta pode servir de fundamento para as operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços aumentarem os preços, por exemplo, com reajustes mais elevados. O Idec sempre defendeu transparência na formação de preços base e reajustes, o que se torna ainda mais latente em um cenário como esse. Veja dicas antes de contratar um plano de saúde.
No setor de medicamentos, pode-se esperar resultado semelhante. Medicamentos com preços altamente elevados, como oncológicos e para doenças raras, são muitas vezes importados, inclusive por estarem sob proteção patentária, o que os torna suscetíveis a alta do dólar. Esses fármacos raramente são custeados diretamente pelo consumidor final no Brasil, em razão da política de acesso universal existente no SUS, mas o aumento do preço impõe pressão sobre os grandes compradores, especialmente o setor público, que - ainda mais em um contexto de redução fiscal - pode optar por racionar a distribuição, resultado em desabastecimento.
Além disso, a maior parte dos medicamentos consumidos no Brasil, inclusive os não inovadores e os que são comprados diretamente em farmácias, tem grande parte de seus insumos primários importados, o que torna todo o setor suscetível a alta do dólar. Os aumentos de preços podem reduzir os descontos que o varejo fornece comumente aos consumidores. Vale lembrar que os preços dos medicamentos no Brasil são regulados e tem um teto fixado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). O Idec é crítico a essa política, por considerar o teto muito elevado, em geral.
A situação, como um todo, chama ainda a atenção para a importância de políticas de inovação e produção nacional de medicamentos e dispositivos médicos, o que daria ao país independência em relação a flutuações cambiais.
Eletrônicos
Na aquisição de produtos eletroeletrônicos e celulares pode ser afetada. Mas como no processo industrial o impacto é mais lento, esse efeito pode demorar mais para surgir e com o reequilíbrio do mercado ser absorvido pela política de preço e concorrência.
Caso a alta do dólar seja repassada, é hora de pensar se é o melhor momento para se fazer a compra. Avalie a real necessidade daquele produto antes de comprar. Assim você também passa a ter uma atitude de consumo mais sustentável.
A longo prazo: Economize!
Ao fazer uma dieta de redução de carne bovina e mudar hábitos de consumo com energia e produtos eletrônicos, por exemplo - mesmo por necessidade econômica imediata -, você pode se interessar por continuar mantendo a economia.
Na alimentação, a redução do consumo da carne pode ser um ato de protesto como consumidor consciente de seu papel. Afinal, se o fornecedor de carne não está valorizando o seu dinheiro neste momento, preferindo vender para outros mercados externos, porque você deveria ser leal com o produto dele quando seu dinheiro voltar a valer mais? Você pode manter o boicote à carne!
Lembre-se que muitos direitos dos consumidores surgiram com boicotes de produtos. Essa sempre foi a melhor arma dos consumidores conscientes para chamar atenção dos fornecedores e dos governantes para que seus interesses sejam atendidos.