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Na série sobre a necessidade de eletrificação do transporte público, já tratamos das razões, relacionadas à saúde e à emergência climática, e também dos obstáculos que dificultam o avanço do Brasil na pauta, relacionados ao custo financeiro e político dessa mudança. Agora, abordaremos soluções que alguns países já encontraram para este desafio e que nos podem servir de exemplo.
Hoje, já existem mais de 600 mil ônibus elétricos à bateria rodando no planeta, segundo o EV Outlook 2021. A China lidera com vantagem, correspondendo a 98% desse número. A cidade de Shenzhen, por exemplo, já está com toda a sua frota de transporte público eletrificada, somando 16.500 ônibus.
Na América do Sul, Chile, Colômbia e México estão bem à frente do Brasil nesse processo. Mas se é tão custoso, politicamente e financeiramente, eletrificar o transporte público, como estes países estão conseguindo? Não existe uma resposta única. Cada local tem encontrado soluções adequadas à sua realidade.
No Chile, por exemplo, a capital Santiago implementou um modelo de negócio inovador. Ao invés dos empresários serem donos da frota de ônibus, como é comum acontecer, o governo contratou de forma separada uma empresa para fornecer ônibus elétricos e outra para operar o serviço. Dessa maneira, o contrato da frota, que foi feito por meio de aluguel, ficou mais barato e ágil, diminuindo o custo do serviço como um todo. Isso porque, além de as empresas não precisarem gastar com a compra dos veículos, a operação do ônibus elétrico é mais barata que aqueles movidos a diesel. De acordo com o Departamento de Transporte Público Metropolitano do Chile, em 2021 haviam 1193 ônibus elétricos rodando no sistema público de Santiago.
No caso da Colômbia - que possui a segunda maior frota elétrica do mundo, com 1.589 ônibus, segundo o E-bus de junho de 2023 -, desde o ano passado, a prefeitura de Bogotá está obrigada por lei a contratar, para o sistema BRT Transmilenio, somente companhias que usam ônibus elétricos. Para superar as dificuldades relacionadas ao valor do investimento, a cidade adotou um modelo que divide os custos da mudança no transporte coletivo com os automóveis. Ou seja, reconhecendo os benefícios que a eletrificação gera para a cidade e todos os seus moradores, a prefeitura faz com que os donos de veículos particulares paguem parte da conta por meio de uma taxa sobre o combustível. O valor arrecadado vai para um fundo que subsidia as concessionárias.
Segundo Sofia Zarama Valenzuela, chefe de planejamento do TransMilenio Bogotá, "o aporte do fundo que, normalmente, cobre 28% dos custos do sistema, chegou a 69% durante a pandemia. É o que tem permitido à cidade manter a qualidade e segurança do serviço".
E qual o melhor caminho para o Brasil avançar nessa migração? Existem várias propostas em discussão. Entre elas está a de aluguel da frota elétrica pelo governo federal, para ceder, sem custo, aos municípios. Essa é uma forma viável de ultrapassar a barreira econômica que impede as cidades de adquirir os veículos. Esse modelo traz, ainda, outras vantagens ligadas à gestão, monitoramento e custo para os usuários. Na próxima publicação desta série, explicaremos com mais detalhes dessa proposta e sobre como estamos lutando por ela. Até lá!
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