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Por que tão poucos ônibus elétricos no Brasil?

Com menos de 1% da frota de ônibus eletrificada, país enfrenta obstáculo do custo financeiro e político da mudança de tecnologia

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Atualizado: 

26/02/2024

Na semana passada, demos início a uma campanha sobre a necessidade de eletrificação do transporte público. Começamos contando os efeitos negativos da poluição e da emissão de CO2 sobre o clima e a nossa saúde. Nesta semana, vamos entender  por que há tão poucos ônibus elétricos no Brasil, correspondendo a menos de 0,5% da nossa frota.

De acordo com dados da NTU - Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos de abril de 2023, a frota de ônibus no Brasil inclui 107 mil veículos. Desses, apenas 376 são elétricos, segundo o E-Bus Radar. As cidades com maior número de ônibus elétricos empregados no transporte público são: São Paulo (SP), com 219; São José dos Campos (SP) com 12; Salvador (BA), com 8; Santos (SP), com 7; e Brasília (DF), com 6.

A dificuldade para a eletrificação está nos custos financeiro e político que essa troca de tecnologia envolve. Veículos elétricos ainda são, em média, três vezes mais caros do que veículos movidos a diesel ou gás natural (que são os combustíveis mais usados no transporte público no Brasil). Esse é um problema bastante relevante em um país onde se investe tão pouco no transporte público. Afinal, se já é difícil para boa parte das cidades brasileiras ter dinheiro para renovar suas frotas movidas à diesel ou gás, para trocar os veículos tradicionais por elétricos seria necessária uma verba muito mais alta.

Para complicar ainda mais, existe a questão da autonomia e potência das baterias. Ônibus elétricos andam menos quilômetros "por tanque" (ou, no caso dos elétricos, por carga, ou carregamento da bateria). Ou seja, se um ônibus a diesel consegue fazer dez viagens entre seus pontos finais sem reabastecer, um ônibus elétrico teria que interromper sua rotina de viagens pelo menos uma vez durante o dia para recarregar as baterias. 

Isso significa mais custo na forma de mais pontos de recarga ou de mais ônibus para cobrir o tempo que os veículos ficam recarregando. A parte positiva é que a tecnologia empregada nas baterias vem avançando rapidamente e espera-se que em pouco tempo ela proporcione mais autonomia e potência aos veículos.

Outro ponto é que uma mudança como esta afeta muito os profissionais que atuam no transporte público. Isso porque os ônibus elétricos exigem um treinamento diferente tanto para motoristas quanto para mecânicos que cuidam deles nas garagens, envolvendo investimento de tempo e dinheiro. 

Finalmente, existe a questão das regras e regulamentos de compras, de segurança e de emissões de poluentes. Essas normas  estabelecem quais tipos de ônibus devem rodar na cidade, qual combustível devem usar, dentre outros detalhes, que podem variar de município para município. Ou seja, para que uma cidade possa adotar o uso de ônibus elétricos, precisará adaptar essas regras, e isso depende da atitude de prefeitos, vereadores e deputados. É aqui que entra o custo político: para que uma mudança dessas seja priorizada, ela tem que render frutos aos envolvidos, e de preferência em um curto período de tempo. O que dificilmente acontece.

Enfim, são muitos obstáculos. Porém, existem formas de vencê-los. Países como Chile, Colômbia e México, apenas para citar nossos vizinhos, já estão em estágios mais avançados do que nós nessa migração, cada um tendo encontrado soluções mais adequadas à sua realidade. E é esse o caminho que devemos seguir.

Na semana que vem falaremos um pouco mais sobre como acelerar a migração para ônibus elétricos no Brasil olhando para exemplos de outros países. Até lá!

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