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Em 2022 nós produzimos essa edição que reverberou um dado muito alarmante e difícil pelo qual o Brasil passava.
Cerca de 33 milhões de pessoas estavam em situação de insegurança alimentar.
Passados três anos, temos o anúncio que o país saiu do Mapa da Fome. É um fato para ser comemorado e, sobretudo, refletido sobre como conseguimos reverter um quadro tão crítico e quais são as perspectivas de futuro.
Primeiro de tudo, é importante entender como a insegurança alimentar é medida.
O termo ‘insegurança alimentar’ surgiu no período pós Primeira Guerra Mundial, e é classificado em três níveis.
No leve, a família já sente a falta de algum alimento básico em casa.
No moderado, essa ausência começa a comprometer a alimentação de forma mais séria.
Já no grave, a situação é extrema: a pessoa pode passar um dia inteiro ou mais sem conseguir fazer nenhuma refeição.
Nos inquéritos domiciliares (no Brasil e no mundo), isso é medido por escalas de experiências: questionários que captam desde a preocupação de faltar comida até redução de qualidade/variedade, corte de porções, pular refeições e, nos casos graves, fome.
Em síntese, ‘insegurança alimentar’ nos estudos não é só sobre o pouco recurso financeiro para adquirir os alimentos: é evidência vivida de falta de comida adequada/regular no domicílio, escalonada por níveis de severidade a partir das respostas das pessoas.
Entendido isso, segundo os critérios da ONU, um país deixa de figurar no Mapa da Fome quando menos de 2,5% da população está em risco de subalimentação, que foi o caso do Brasil.
E aqui vale pontuar que a ONU utiliza o termo subalimentação como sinônimo de fome.
Ou seja, tínhamos 33 milhões de pessoas em insegurança alimentar em 2022 e, em 2025, o país deixou o Mapa da Fome, por reduzir o percentual de pessoas em estado de fome, mas ainda precisamos vencer quem ainda vive sob a insegurança alimentar.
Dados da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), publicados pelo IBGE, atestam que entre 2022 e 2023, aproximadamente 24 milhões de brasileiros saíram da condição de insegurança alimentar grave.
Também em 2023, a pobreza extrema no Brasil foi reduzida a 4,4% — 10 milhões de brasileiros a menos do que em 2021.
Mesmo fora do Mapa da Fome, ainda existem 35 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar leve ou moderada. Isso indica que devemos seguir avançando com estratégias efetivas para o enfrentamento da fome.
O Brasil já conhece o caminho para enfrentar a fome. Citamos eles na edição de 2022 e hoje reforçamos essas ações adotadas pelo Governo:
- Fortalecer o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e reinstalar o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea);
- Garantir que a alimentação adequada e saudável volte para a pauta prioritária da agenda política por meio de um conjunto de programas, políticas e ações articuladas que olhem para a multidimensionalidade da fome e da insegurança alimentar;
- Fortalecer as políticas, programas e ações que oportunizem o acesso e a oferta a alimentos adequados e saudáveis.
Mas entre os pontos, notamos que ainda falta:
- Impulsionar iniciativas agroecológicas e formas de produção mais sustentáveis. Afinal, se o pequeno produtor não tem financiamento e apoio técnico e científico para comprar outros alimentos que ele não cultiva, ele também vive em insegurança alimentar. O controle de terras nas mãos de poucos que utilizam a monocultura, é um problema para o futuro da produção de alimentos no Brasil.
- É preciso garantir acesso físico e econômico da população a alimentos in natura. Ou seja, contar com políticas que fomentem hortas urbanas e maior qualidade de trabalho no campo aos produtores e produtoras e oportunidades de vendas que encurtam as cadeias, reduzam atravessadores e ampliem sua capacidade de lucro, como as feiras nos centros urbanos e coletivos que adquirem a produção de forma direta.
- Incentivar a produção e compra de alimentos in natura, bem como a maior tributação aos produtos ultraprocessados. É fundamental que as políticas públicas e os recursos financeiros priorizem a produção e o consumo de alimentos adequados e saudáveis, garantindo apoio técnico e crédito para os pequenos agricultores. Também é importante avançar em medidas fiscais que facilitem o acesso a alimentos de qualidade e, ao mesmo tempo, desestimulem o consumo de ultraprocessados. Na Reforma Tributária, o Brasil deu um passo importante ao aprovar a cesta básica e incluir as bebidas açucaradas nos impostos seletivos. No entanto, é preciso seguir atentos às alíquotas aplicadas, para evitar que a produção e o consumo desses produtos recebam incentivos públicos ou fiscais.Esse trabalho é conjunto.
Garantir o direito humano à alimentação adequada está garantido na Constituição Federal e requer ação pública e mobilização social.
Assegurar os seus direitos é a nossa luta e não ficamos só na teoria.
Defendemos que o Decreto da cesta básica seja implementado e que seja intensificada a agricultura agroecológica e orgânica por meio de feiras locais, cooperativas e assentamentos que produzem diversidade de alimentos.
Que se amplie os pontos de hortas urbanas e comunitárias – estimulando o cultivo em escolas, bairros e espaços públicos, ampliando o acesso direto a alimentos frescos.
Continuaremos pressionando pela adoção de políticas públicas que contribuam para adaptação e mitigação às mudanças climáticas, desde a perspectiva da produção até o consumo de alimentos.
É por isso que o trabalho do Idec é tão importante: junte-se a nós para exigir maior compromisso com a população e para que possamos erradicar a fome.
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