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De acordo com relatos e pesquisas, a ligação do marolo com Paraguaçu data de mais de mil anos.
Com pessoas chaves que viveram e são a prova viva desta história, vamos contar o movimento a partir de cem anos atrás.
O marolo era colhido do chão por produtores rurais de Paraguaçu, no Sul de Minas Gerais, colocado em balaios para ser transportado em animais cargueiros e vendido nas cidades próximas para o consumo in natura das famílias.
Era comum formar fila em outros municípios para a compra do fruto.
O marolo (Annona crassiflora Mart.), que em guarani quer dizer “fruta mole”, é nativo do Cerrado brasileiro e pertence à família das anonáceas.
Botanicamente a espécie é um primo da graviola, a fruta-do-conde, a atemoia, entre outras frutas.
Além de Minas Gerais, ele pode ser encontrado também no Mato Grosso do Sul, interior de São Paulo e em alguns pontos do leste da Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso e Tocantins, e ao longo de todo bioma do Cerrado.
É também conhecido, popularmente como arixicum, ariticum, articum, cabeça-de-negro, panã, pinha-do-cerrado, cortiça-de-comer, fruta-do-conde pequena, imbira, entre outros nomes.
Com polpa alaranjada e um sabor e odor bem característicos, a fruta não pode ser arrancada do pé, se não ela seca, mumifica.
A fruta está boa para consumo quando ela cai espontaneamente no chão.
E justamente pelo odor forte e adocicado da fruta, que no passado as comunidades vizinhas a Paraguaçu chamavam os moradores da cidade de “maroleiros” e isso era sinônimo de ofensa na época.
Já na década de 60, o cultivo do marolo diminuiu por conta das lavouras de café e ao plantio de outras culturas na cidade.
Mas a década dos anos dois mil marcou uma divisão na história da fruta com a cidade.
Até aquele momento, houveram manifestações culturais positivas, como a escola de samba “Marolo Atômico” formada em 1977 que desfilou com vigor pelo centro da cidade até o início dos anos 90.
Mas a produção em si da fruta estava estacionada frente a outras culturas que eram vistas como mais rentáveis para os produtores.
E a tradição estava se perdendo silenciosamente, ponto que foi questionado em uma reportagem em 2008 e que representou a virada de chave para alguns produtores.
A matéria no jornal foi o empurrão que os produtores precisavam para começar a agir.
Em apenas dois anos, o marolo deixou de ser só uma fruta e virou o símbolo de um povo que corre atrás do progresso e de uma comunidade interessada em um desenvolvimento sustentável.
Com suporte da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater/MG), da Universidade Federal de Alfenas (Unifal) e do Museu Alferes Belisário criaram a associação de produtores de marolo com o objetivo de apresentar para a sociedade a potência do fruto.
A primeira festa do marolo, que acontece há 15 anos sempre no mês de março, aconteceu em 2010 e deu muito certo.
Além da feira gastronômica, o evento também se desdobra no segmento cultural.
Tem apresentações de grupo de dança, Folia de Reis e até concurso de música com competição de canções inéditas.
E o auxílio dos pesquisadores da Unifal se estendeu para a parte do plantio.
Foram plantadas novas mudas de marolo em sistema de plantio intercalado com café e outras espécies em sistema de consórcio de agroflorestal com outras espécies do Cerrado.
Tudo visando mitigar os efeitos das mudanças climáticas na região, preservar o símbolo da cidade que representa identidade e renda para a população.
E com apoio de políticas públicas junto ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS) buscam conseguir uma indicação geográfica do marolo de Paraguaçu.
Desde 2009, o doce de leite e o licor de marolo são patrimônios imateriais municipais.
Em 2021, o livro "Marolo: Saberes e Sabores do Cerrado" foi finalista do prêmio Jabuti e garantiu às pessoas de Paraguaçu mais um motivo para orgulhar-se de quem são.
O alimento também é capaz de construir a identidade de um povo.
Tem uma citação da associação de produtores que diz que “a cada maroleiro que preserva uma receita, a cada família que cuida de um pé de marolo, a cultura de Paraguaçu se fortalece”.
É assim, com respeito à terra e ao tempo, que são mantidas vivas as raízes de uma comunidade.
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