Para você entender o começo dessa reflexão, sugerimos ler esse conteúdo que traz dados de uma pesquisa que realizamos no ano passado para compreendermos a percepção das pessoas consumidoras sobre a relação entre a sua alimentação e as mudanças climáticas.
Nós do Idec, enquanto organização da sociedade civil, nos preocupamos que a criação extensiva de animais esteja acontecendo em áreas de preservação ambiental e o quanto isso acelera o desequilíbrio ambiental.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui um rebanho de mais de 230 milhões de cabeças de gado, o que garante ao país o título de maior rebanho bovino do mundo e o maior exportador de carne bovina.
E segundo dados analisados anualmente, desde 1988, pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), a pecuária é uma das principais causas do desmatamento na Amazônia.
Outro apontamento importante foi feito pelo MapBiomas, que mostra que as áreas de pastagem triplicaram na Amazônia nos últimos 30 anos. Atualmente, ocupam 13% do bioma, sendo que quase metade do rebanho brasileiro (43%) está concentrada sobre a área da maior floresta tropical do planeta.
Com isso, a carne bovina tem sido identificada como a commodity - que quer dizer: produto de origem agropecuária ou de extração mineral, em estado bruto ou pequeno grau de industrialização, produzido em larga escala e destinado ao comércio externo - que mais causa desmatamento.
O cenário mostra que, pela maneira como a cadeia de produção da carne está estruturada no Brasil, faltam informações públicas para garantir que o produto consumido e exportado não está associado ao desmatamento durante sua produção, porque o ciclo é longo e fragmentado.
Isso é refletido na resposta das pessoas que entrevistamos na pesquisa citada na abertura do conteúdo.
Também perguntamos se as pessoas gostariam de ter informações sobre a origem da carne que consomem e 56% disseram não ter acesso a dados precisos e confiáveis sobre as consequências da produção da carne e dos laticínios nas mudanças climáticas.
Nesse contexto, uma pesquisa do Radar Verde de 2023 indicou que 95% dos maiores varejistas do Brasil e 92% dos frigoríficos localizados na Amazônia Legal possuem um baixo controle da cadeia pecuária.
Esse dado é reforçado pelo fato de que o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (SISBOV) não tem exigência sobre a origem dos animais para fins ambientais, e sim pela identificação individual dos animais para contabilizar o volume do rebanho.
Com todos esses dados, queremos te abastecer de informações e trazer a reflexão sobre o quanto é importante que as carnes comercializadas no país tenham uma origem sustentável, respeitem os biomas brasileiros e contribuam para reduzir os impactos no meio ambiente.
Recomendamos que você fique de olho e observe quais são os impactos que o produto adquirido no mercado tem em relação ao meio ambiente, aos direitos trabalhistas, a toda a cadeia de demandas que nos cerca.
Voltando a outro ponto da pesquisa, perguntamos: se as pessoas tivessem informação sobre a origem da carne no rótulo do produto, o que fariam? E 95% delas afirmou que levaria em consideração esse dado ao adquirir uma carne, porém, em outro tópico, pedimos para colocar em ordem de importância quais fatores influenciam na decisão de compra e em penúltimo lugar, com 2% estava a preocupação com o impacto da agricultura e da produção de carne nas mudanças climáticas.
E deste total, 77% informou que costuma dar preferência a marcas que apoiam causas ambientais e possuem uma produção mais sustentável.
Então fica o convite para essa reflexão e a possibilidade de mudar hábitos, escrever para empresas que comercializam carne para sugerir que passe a constar a informação na embalagem, cobrar de pessoas candidatas nestas eleições municipais que alterem a Instrução Normativa que fiscaliza as propriedades rurais que produzem e comercializam carne e buscar por marcas que tenham esse compromisso ambiental.
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