Você deve ter notado que alguns produtos agora possuem a lupa de “alto em” açúcar adicionado, gordura saturada e sódio, certo?
Essa é a nova informação obrigatória da norma de rotulagem nutricional da Anvisa (RDC nº 429/2020 e IN nº 75/2020) que veio para melhorar o acesso à informação e garantir que você consiga identificar de forma simples e rápida os produtos com excesso de ingredientes que estão relacionados com prejuízos à saúde para poder fazer escolhas de forma mais consciente.
Isso começou em 2014 e foi fruto de oito anos em que nós do Idec participamos ativamente pressionando para aprimorar a rotulagem nutricional dos alimentos embalados.
Quando a norma finalmente foi aprovada em 2020, a maior parte dos fabricantes receberam o prazo de 3 anos para adequarem suas embalagens, que acabaria no último dia 9 de outubro de 2023.
E para monitorar como estava o andamento da implementação da nova rotulagem no Brasil, a equipe do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (NUPENS/USP) da Universidade de São Paulo fez uma análise dos produtos disponíveis no mercado até setembro de 2023, por meio das informações disponíveis em uma base de dados.
No período de 9 de outubro de 2022 a 9 de setembro de 2023 foram examinados 8.619 rótulos de alimentos e bebidas embalados.
Deste total, 4.574 produtos tinham algum ingrediente crítico em alta quantidade, ou seja, estavam elegíveis para receber o selo de alto em açúcar adicionado, gordura saturada ou sódio.
Porém, só 559, ou seja, 12% deles estavam rotulados. É um número muito baixo de produtos com os rótulos atualizados.
Significa que a indústria precisa avançar de forma mais ágil na implementação da rotulagem nutricional, melhorando o acesso à informação.
No mesmo período, nós do Idec elaboramos um dossiê com as imagens de produtos com a lupa que recebemos, de forma espontânea, dos consumidores.
Nele conseguimos identificar que alguns produtos não estavam com a lupa aplicada de acordo com as especificações da Anvisa.
Existe um modelo específico de lupa e ele precisa ser posicionado no painel principal da embalagem, mas encontramos lupas fora do design padrão e com a letra diferente, além de lupas localizadas em lugares aleatórios da embalagem, dificultando o acesso à informação.
E não foram só esses desrespeitos aos consumidores. Na segunda-feira da semana passada, dia 9, sem comunicação prévia, a Anvisa estendeu em mais um ano o período para adequação dos produtos.
A norma foi prorrogada no dia que ia terminar o prazo para implementação da rotulagem frontal para a maioria dos produtos.
Apesar de alguns revezes, o modelo de rotulagem nutricional frontal é um avanço para o Brasil.
Outros países que já implementaram a rotulagem tiveram benefícios na saúde pública e batalhamos para que isso aconteça aqui.
Para isso, é importante que a implementação da norma seja concluída, oferecendo informações claras, transparentes e não enganosas nos produtos.
A rotulagem nutricional frontal é uma importante estratégia para a prevenção e controle das doenças relacionadas à má alimentação, como obesidade, diabetes e hipertensão.
O consumo de quantidades elevadas de sódio, gorduras saturadas e açúcares adicionados está associado com a má alimentação e está diretamente relacionado com o desenvolvimento de obesidade e de doenças crônicas não transmissíveis.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo e outras instituições concluíram que cerca de 57 mil mortes prematuras (de 30 a 69 anos) ocorreram no Brasil em 2019 em razão do consumo de produtos ultraprocessados, que muitas vezes contém os nutrientes críticos, apresentados na rotulagem frontal, em excesso.
Atente-se à lupa, mas vá além: leia os rótulos em sua integralidade e dê preferência a consumir alimentos in natura ou minimamente processados e as preparações culinárias.
Veja mais detalhes sobre a norma e como entender as informações aqui no nosso especial.
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