O ponto de partida dessa edição é explicar o que são as sementes transgênicas.
A transgenia é um processo de transferência artificial de genes de plantas, animais, vírus ou bactérias - que possuem determinadas características desejadas pelas empresas que detém a patente dessas sementes - de uma espécie para outra.
Por exemplo: acrescentam um aminoácido que existe naturalmente na castanha-do-pará para “enriquecer” o feijão que será plantado.
Ou acrescentam bactérias nos genes dessas sementes para tornar os alimentos resistentes a insetos e pragas.
Esse processo de modificar sementes teve um ‘boom' em 1986 e em 1995, quando a Argentina aprovou o plantio da soja transgênica.
Alguns agricultores do Rio Grande do Sul trouxeram ilegalmente as sementes para cá e fizeram campanha para importar as sementes pro Brasil.
Enquanto nação, não fizemos um estudo para avaliar os riscos desses plantios no nosso ecossistema. A soja simplesmente entrou.
Tanto que, em 2003, o governo brasileiro se deparou com uma safra inteira de soja transgênica colhida e ela nem tinha sido liberada oficialmente para ser plantada.
Tudo começou com a soja, porém, hoje o milho, feijão e trigo estão entre as principais espécies de alimentos transgênicos cultivados no país.
O argumento para ampliar o uso das sementes transgênicas segue o mesmo da época da Revolução Verde da década de 70: promover alimentação e sanar a fome das populações mundiais.
Só que essa narrativa das grandes empresas do agronegócio é uma grande falácia.
Quem modifica, “cria” as sementes em laboratório é dono delas.
Elas são códigos genéticos patenteados, não sendo permitidas a reprodução das mesmas, só as grandes corporações detêm os direitos e monopólios de reprodução.
Quem compra para plantar, paga royalties, uma espécie de taxa pelo direito de usar, explorar e comercializar essas sementes que virarão alimentos.
Indústrias que comercializam alimentos transgênicos contribuem pouco com o abastecimento interno e menos ainda com a tributação.
É a concentração de renda na mão de poucos.
Pois quem efetivamente abastece o mercado interno e produz 70% dos alimentos que estão na mesa dos brasileiros é a agricultura familiar.
O cultivo dessas monoculturas que servem de base para produtos ultraprocessados e cheios de veneno é uma continuação da colonização da nossa terra e do nosso paladar.
Além disso, essa modalidade de cultivo esconde sérios riscos para a nossa saúde e para o meio ambiente.
Pesquisas científicas já provaram que não é possível ter controle e exatidão da mutação genética das sementes transgênicas.
Elas podem desenvolver resistência à aplicação de agrotóxicos.
Imagina só que são pulverizadas atualmente nas monoculturas aqui no Brasil o chamado 2,4-D, um veneno que foi usado como arma química na Guerra do Vietnã.
O solo, rios, mananciais, os animais e o ar também ficam contaminados com essa alta carga de agrotóxicos.
Estudos já comprovaram o alto potencial cancerígeno desses venenos em nosso organismo.
Não só podem causar câncer, mas sementes transgênicas repletas de agrotóxicos são neurotóxicas, podem afetar o sistema endócrino e o sistema reprodutor humano.
E as plantações agroecológicas de sementes crioulas (falaremos delas na próxima edição) ficam seriamente comprometidas em virtude da contaminação aérea.
É que o milho transgênico, por exemplo, gera uma flor que tem seu pólen espalhado pelo vento. Se houver plantações de milho não-transgênico próximo, essa plantação acaba se tornando transgênica por consequência.
Precisamos romper com esse sistema alimentar e sermos os agentes definidores do que será produzido nas terras brasileiras e pra quem está sendo produzido.
E quais são os caminhos para isso?
- É direito de toda pessoa a liberdade de escolha. Não há opções de óleos vegetais de cozinha que não sejam transgênicos.
- É aconselhável desenvolver melhores hábitos de consumo e seguir as recomendações do Guia Popular para a População Brasileira, resgatando as características socioculturais do país.
- É preciso que o governo atual faça uma reformulação do Plano Safra, implementando uma política de fiscalização dos cultivos e do uso de agrotóxicos.
- Que exista incentivo para pequenos produtores rurais comprometidos com sistemas de produção ambientalmente sustentáveis e também com a preservação de sementes ancestrais, sem modificação genética.
Se ainda ficaram dúvidas sobre o que são os alimentos transgênicos, você pode aprofundar mais no tema por meio desse conteúdo aqui
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