Em junho do ano passado o Brasil lamentou o agravamento da fome constatado pelo estudo da Rede PENSSAN (que divulgamos aqui).
Agora, nove meses depois, ainda é muito importante e necessário olhar para esses dados, pois eles ajudam a analisar o tema tendo as mulheres como referência.
Historicamente, a alimentação foi associada como uma responsabilidade das mulheres dentro das famílias devido, entre vários fatores, à desigual divisão do trabalho, mais especificamente, do trabalho doméstico.
Toda cadeia do alimento até o prato tem o trabalho direto das mulheres. Seja no campo, transporte, reposição nos supermercados ou preparo das refeições em casa. Elas planejam, compram, preparam e servem toda a família.
E apesar disso, as mulheres passam mais fome do que os homens no Brasil.
O Centro de Políticas Sociais FGV Social sobre insegurança alimentar, aponta que entre 2019 a 2021 houve queda no risco de fome para homens, caindo de 27% para 26% enquanto esse percentual aumentou 14 pontos entre as mulheres, subindo de 33% para 47%.
Quer saber quais são os fatores que ocasionam essa diferença?
A taxa de desemprego é maior entre mulheres.
Com baixa renda ou sem renda fixa, são elas que precisam prover sustento para crianças, em muitos casos sem contar com alguém para dividir a responsabilidade.
Com isso, a alimentação das mulheres que cuidam de lares sozinhas fica em segundo plano.
O geógrafo José Raimundo Ribeiro estuda a fome no município de São Paulo desde os anos 2000 e afirma:
"Mesmo nos lares chefiados por homens, as mulheres são as últimas a comer. As mulheres são as primeiras a sofrer porque elas tendem a priorizar a alimentação dos filhos e em seguida a dos maridos ”, diz o pesquisador.
Nessa reportagem, Ribeiro fala mais sobre o agravamento da fome e o esforço das mulheres em adquirir alimentos, em fazer o dinheiro render para alimentar as crianças e como é a ordem na alimentação na periferia.
A qualidade e a segurança alimentar nos lares brasileiros envolve um esforço coletivo. Entenda como se mobilizar não só no 8M mas no ano todo:
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Cobrar políticas públicas que garantam à mulheres agricultoras o direito e acesso à terras férteis e água
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Cobrar para que a bancada federal vote pela desoneração dos 13 alimentos que compõem a cesta básica, são eles: carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, pão, café, banana, açúcar, óleo e manteiga
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Incentivar e promover mais postos de trabalhos para mulheres
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Ter maior participação nas decisões relacionadas à alimentação familiar. Visitar as feiras, escolher os alimentos e cozinhar com maior regularidade para diminuir a sobrecarga feminina
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Colocar mais e mais as mulheres em posição de decisão política e poder.
Está feito o convite. O que estaremos escrevendo no 8 de março de 2024? Que sejamos um país capaz de promover oportunidades e equiparação social.
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