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A conta de luz cara se tornou um desafio para milhões de brasileiros. O valor da fatura pesa cada vez mais no orçamento das famílias. Você já se perguntou o que causa esses aumentos tão constantes na energia elétrica?
Segundo levantamento da Abrace de 2024, luz e gás já comprometem cerca de 9% da renda das famílias mais pobres. Esse peso no orçamento exige escolhas difíceis no dia a dia. A seguir, entenda os principais fatores por trás da conta de luz cara!
O que encarece a conta de luz?
Afinal, o que torna a conta de luz cara? Em primeiro lugar, as usinas termelétricas movidas a combustíveis fósseis e que não podem ser ligadas e desligadas com facilidade ou rapidez são fontes mais onerosas e poluentes do que as de energia renovável, como a solar. Mesmo assim, as térmicas vêm sendo acionadas com frequência no Brasil, aumentando os custos de geração da eletricidade e, consequentemente, a tarifa paga pelos consumidores.
O uso contínuo das termelétricas ocorre até em períodos sem escassez hídrica. Isso se deve a problemas relacionados ao planejamento do setor elétrico e a decisões políticas que priorizam fontes caras e poluentes, negligenciando alternativas mais baratas e renováveis. Outro fator relevante são os subsídios cruzados.
Eles financiam políticas públicas — como a Tarifa Social, o uso de combustíveis fósseis em regiões isoladas, a geração de energia elétrica a carvão mineral, benefícios tarifários para grandes consumidores de energia, etc.
Essas despesas, que deveriam ser bancadas pelo orçamento público, acabam repassadas ao consumidor comum como encargos setoriais de energia embutidos na conta. Além de financiarem subsídios de maneira desproporcional, também cobrem outros custos do sistema, aumentando ainda mais a conta e tornando o sistema pouco transparente.
Como os custos da energia afetam a vida do consumidor
Ainda segundo o levantamento da Abrace, nas famílias de baixa renda os gastos com energia, incluindo eletricidade, gás de cozinha e outros energéticos, representam até 18% do orçamento. Isso inclui a energia embutida no preço final de mercadorias, como o pão (31%), a cesta básica (23%), carnes e leite (33%), vestuário (12,5%), automóveis (14%), entre outros.
Com uma parcela tão significativa da renda comprometida, o consumo de bens essenciais é diretamente afetado. Dessa forma, o brasileiro passa a fazer escolhas difíceis, sendo obrigado a escolher entre pagar a conta de luz ou arcar com outras necessidades básicas do dia a dia.
A importância de rever os subsídios
Muitos subsídios da conta de luz beneficiam setores que não precisam mais de apoio. Empresas de grande porte e sistemas de geração distribuída, por exemplo, ainda recebem incentivos, sobrecarregando os consumidores residenciais, que arcam com parte desses custos injustamente.
Rever esses subsídios é fundamental para tornar o sistema mais justo. O modelo atual é desproporcional e pouco transparente, cobrando do consumidor final valores que deveriam ser redistribuídos de maneira mais equitativa e racional pela sociedade.
Como as tarifas de energia podem ajudar a reduzir custos?
Diversos países vêm adotando modelos tarifários inteligentes para tornar o consumo de energia mais eficaz e acessível. Essas tarifas variam conforme o horário, a demanda e até a estação do ano, estimulando hábitos mais sustentáveis.
Isso porque o custo real de gerar e distribuir energia variam conforme a demanda — por exemplo, nos horários de pico, a energia é mais cara; já durante o dia, quando há mais oferta de energia solar, o preço tende a ser menor. No entanto, a tarifa praticada no Brasil hoje cobra o mesmo valor por kWh independentemente do horário, o que não estimula um consumo mais consciente e eficiente para o sistema.
Essas experiências de modernização das tarifas mostram caminhos possíveis para o Brasil. A seguir, entenda como funcionam alguns modelos aplicados internacionalmente: Tarifas horárias, tarifas dinâmicas e o sistema de desconto para horário de pico.
Tarifas horárias
As tarifas horárias (também chamadas de Time of Use - ToU) definem preços diferentes para horários de ponta, intermediários e fora de ponta. Usadas em países como EUA e Austrália, elas estimulam o consumo fora dos períodos mais críticos, aliviando a rede e reduzindo custos. No Brasil, o consumidor já possui uma opção de tarifa horária: a tarifa branca.
Tarifas dinâmicas
Comuns no Reino Unido e em partes da Europa, esse tipo de tarifa de energia muda em tempo real, conforme a demanda e o custo. Ela exige medidores inteligentes para que o consumidor possa controlar melhor seu consumo de acordo com os preços, e para que a distribuidora calcule corretamente o valor da conta.
Desconto para horário de pico
Adotado em estados como Califórnia e Maryland, essa tarifa (em inglês, Peak Time Rebate - PTR) oferece bônus a quem economizar energia nos horários de pico. É uma forma de premiar o consumidor por ajudar a manter o equilíbrio do sistema em momentos de maior estresse.
Caminhos para uma conta de luz mais justa
A utilização de tarifas inteligentes já está em teste no Brasil. Com o apoio da ANEEL, algumas distribuidoras estão conduzindo projetos-piloto para avaliar diversos modelos, como tarifas horárias, tarifas locacionais, tarifas fixas, programas de cashback, entre outros, que podem reduzir custos sem comprometer a qualidade do serviço.
Entretanto, para garantir um sistema mais equilibrado, é essencial revisar os subsídios. Atualmente, geração distribuída, grandes empresas e usinas térmicas ineficientes recebem incentivos que pesam sobre o consumidor comum. Uma redistribuição mais justa desses custos tornaria a conta de luz menos onerosa.
Além disso, uma transição energética justa é essencial. Isso significa ampliar o uso de fontes renováveis sem sobrecarregar a população com custos extras. Investimentos em energia solar e eólica devem vir acompanhados de políticas que garantam acesso equitativo à eletricidade.
Por fim, ampliar a eficiência energética também é parte da solução contra a conta de luz cara. Equipamentos mais econômicos, redes elétricas modernas e incentivos ao consumo consciente podem reduzir desperdícios e tornar a energia mais acessível para todos, garantindo um sistema mais sustentável e justo.
O que você pode fazer?
A luta contra a conta de luz cara também passa pelo engajamento da sociedade. Por isso, é fundamental conhecer seus direitos, entender os custos e pressionar por políticas públicas que priorizem o consumidor e a justiça energética.
Nós, do Idec, atuamos em defesa de uma transição energética justa, pelo fim dos subsídios desnecessários e por mais transparência na conta de luz. Junte-se a esta causa e ajude a construir um futuro mais verde, acessível e equilibrado para todos!