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A música tem o poder de evocar muitas memórias, identidades e até a cultura regional. Quer ver só? Ninguém fica parado, principalmente os nortistas, quando ouvem Joelma cantar: “eu vou tomar um tacacá, dançar, curtir, ficar de boa. Mas quando chego no Pará, me sinto bem, o tempo voa”.
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Em 2016, a cantora paraense Joelma retratou a saudade de coisas do cotidiano da sua cidade natal. Visitar o Mercado Ver-o-Peso, tomar um tacacá e comer pupunha com café.
Mas isso é bem mais antigo. Sempre tivemos a presença da comida nas músicas populares brasileiras, afinal, comer e cantar são gestos de pertencimento, memória e celebração.
Fica evidente essa relação em "Vatapá", eternizada por Gal Costa, que mistura sabores e ritmos para homenagear a tradição afro-brasileira, ou "Refazenda", de Gilberto Gil, em que o artista canta o ciclo da natureza e a comida como parte da vida simples e harmônica com a terra.
Cada verso temperado com alimento revela um pedaço da história social do país, do sertão às cozinhas urbanas, do pilão à colher de pau.
A comida é personagem recorrente na música popular brasileira porque, assim como a melodia, é memória viva. Luiz Gonzaga, em “Qui Nem Jiló”, usa o gosto amargo da planta para falar de saudade e solidão.
A mineira Clara Nunes, em “Peixe com Coco”, exalta os sabores da culinária afro-indígena nordestina, onde o alimento é também expressão de identidade e religiosidade.
“Você sabe o que é caviar? Nunca vi, nem comi, eu só ouço falar!" Zeca Pagodinho brinca com o contraste entre a comida do cotidiano e o alimento de luxo, ironizando desigualdades sociais por meio do paladar.
Repare como esses exemplos mostram como a canção traduz não apenas o sabor da comida, mas também as tensões e os afetos de um povo.
Mais do que receitas em versos, essas canções são documentos culturais.
Elas guardam modos de preparo, ingredientes e rituais que muitas vezes não estão nos livros de culinária, mas nas memórias sonoras do país.
Quando Gilberto Gil canta “o cheiro da massa, o coco e o dendê”, ou quando Gonzaga fala em “milho verde no roçado”, a pessoa que ouve é transportada a um território afetivo e sensorial, que preserva o que a modernidade insiste em apagar.
É um arquivo sonoro de práticas alimentares regionais, muitas delas ameaçadas pela padronização da indústria de ultraprocessados e pela perda das cozinhas tradicionais.
As músicas também denunciam o que está em risco. A industrialização da comida, que transforma o sabor em produto, contrasta com a comida viva que habita o cancioneiro popular.
Nas rodas de samba, nas modas de viola, no baião e no maracatu, o alimento é motivo de festa, mas também de resistência cultural.
Quando uma composição cita o feijão, o vatapá ou o pão de queijo, está reafirmando o direito ao alimento como cultura, não como mercadoria.
São letras que preservam o saber das panelas de barro, dos fogões à lenha e das receitas passadas entre gerações.
Cantar sobre o que se come é afirmar o que se é. Isso significa celebrar uma cultura que é plural, saborosa e cheia de histórias.
E se esse assunto aguçou a sua vontade de escutar essas músicas, corre para ouvir a playlist que preparamos com as principais canções que aliam poesia, melodia, comida e cultura.
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GRAVE
☣️ Agrotóxico na água e na comida
Em um retrospecto, o Congresso Nacional derrubou os vetos presidenciais ao PL do Veneno e hoje, a pressão do agro na política emplaca cada vez mais veneno na água e na comida. Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
ATENÇÃO
🍽️ A mudança acontece no prato
Em meio aos debates da COP 30, um relatório internacional aponta que o Brasil não está correspondendo às metas climáticas do Acordo de Paris, porém, existem políticas públicas que podem mudar esse cenário realizando uma transição justa para mitigar os efeitos da crise climática. Ecofada
IMPORTANTE
🫱🏻🫲🏼 Belém destaca clima, fome e justiça social
A Declaração de Belém, assinada por 44 países, reconhece a fome e a pobreza como eixos centrais das negociações climáticas. O texto defende priorizar adaptação com foco nas pessoas, incluindo proteção social e seguros-safra. Também orienta que o financiamento climático gere trabalho e renda para populações vulneráveis e da floresta. COP 30
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Luiz Eduardo Andrade
Doutor em Estudos Literários pela UFMG. Professor de Literatura na Faculdade de Letras da UFAL e membro do grupo de pesquisa SAL: sobre alimentos e literaturas – @luiz_eduardo_andrade
Pesquiso sobre comida nas músicas de Luiz Gonzaga e, atualmente, podemos concluir que a coleção de canções de Gonzagão é o maior repositório alimentar da música brasileira. Em 1956, quando ele gravou "Tacacá" , ali teve início o cancioneiro culinário que iria mapear o Brasil do campo à cidade, da lavoura ao prato de comida, da feira aos banquetes, da pobreza ao desenvolvimentismo.
Nesse repositório músico-alimentar, a comida mapeia a nossa heterogeneidade de gostos: é ida e vinda, partida e regresso, morte e sorte. É a saudade materializada de quem está longe de casa.
Foi Gonzagão quem inventou o São João nordestino: no tempo da chuva tem fartura, festa, milho, paçoca, fogueira, fumaça, o cheiro de Carolina, a cerveja ‘escumosa’ e aquela encangada no fundo do pote, antes de lavar a égua. Até as regras de hospitalidade são ditadas pelo alimento: a visita que se preza chega carregada com um saco de farinha, bode seco, dúzia de abacaxi, saco de pequi, uma cachacinha boa. E ainda tem mais...
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Simples com gosto de especial
O sapoti (Manilkara zapota) é uma daquelas frutas que carregam um charme quase secreto: pequena, discreta por fora e intensamente perfumada por dentro. A casca lembra vagamente a do kiwi, tem uma polpa macia e doce sem exagero, com uma suavidade que vai crescendo na boca. É o tipo de fruta que pede um momento de pausa, porque sua textura cremosa e seu aroma convidam a comer devagar, apreciando cada colherada.
O sapoti, originário da América Central e do México, atravessou oceanos antes de ganhar espaço em diversas cozinhas tropicais. No Brasil, especialmente no Nordeste, a fruta encontrou clima ideal e se integrou ao cotidiano, tornando-se presença frequente em feiras e quintais. Para saber o ponto certo de colher a fruta, a casca deixa de ser verde e fica em um tom caramelo e a fruta começa a ficar levemente macia ao toque. É nesse ponto que a fruta revela todo o seu potencial para o consumo in natura mas também pode virar receita de doce, bebidas, bolos, geleias, sorvetes e o que mais a imaginação permitir.
Assinatura de sabor
A cebolinha (Allium schoenoprasum) é aquela presença discreta capaz de mudar tudo no prato. Tem o aroma fresco no ponto certo e, se picada na hora, libera um perfume que combina com praticamente qualquer preparo. Sabia que a cebolinha dá uma flor roxa muito bonita e comestível? E que pode ser cultivada junto com outras culturas e ajudar a repelir pragas?
Em muitas casas, ela cresce fácil em vasinhos na janela, sempre pronta para um corte rápido. A cebolinha faz parte do repertório afetivo de quem gosta de cozinhar com simplicidade. É o toque final, detalhe verde, uma assinatura de sabor em qualquer preparo culinário.
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Bolo de sapoti
A fruta é sazonal. Converse com o feirante para tentar levar unidades para casa, comê-las in natura e fazer esse bolo incrível que todo mundo vai adorar e perguntar de que é.
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Macarrão com berinjela
Parece que o legume foi feito para ficar juntinho do tomate e do macarrão. O trio é implacável nesta receita, uma proposta diferente e saborosa para o macarrão do almoço de fim de semana.
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Creme de espinafre
É uma receita leve, que vai bem a qualquer momento e estação do ano, além de unir bem os sabores da hortaliça e do queijo, que é opcional.
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