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Já pensou que manter a despensa organizada pode ser uma das formas mais simples e eficazes de garantir uma boa alimentação e evitar o desperdício de alimentos?
Sim, porque mais do que um espaço de armazenamento, o armário da cozinha é o suporte do dia a dia: é ali que ficam os ingredientes que dão vida às refeições, ajudam a planejar o cardápio e tornam o ato de cozinhar mais prático.
Quando a despensa está organizada, fica mais fácil enxergar o que tem, o que falta e o que está prestes a vencer, evitando compras desnecessárias e o descarte de alimentos esquecidos no fundo da prateleira.
Antes de pensar em encher os armários, vale refletir sobre o que deve, de fato, compor esse espaço.
A despensa serve para guardar alimentos básicos e versáteis, que servem de base para diferentes receitas.
Como bem nos recomenda o Guia Alimentar para a População Brasileira, que traz recomendações para alimentação saudável, a partir da Classificação Nova, que organiza os alimentos de acordo o nível e o propósito de processamento: é importante priorizar os alimentos minimamente processados, ou seja, aqueles que passaram por transformações simples, como moagem, fermentação, secagem ou congelamento, mas que continuam próximos da sua forma original.
São eles: arroz, feijões, farinhas, fermento, macarrão, grãos e temperos secos.
A despensa é espaço também da categoria de alimentos processados, que são aqueles que receberam adição de sal ou açúcar pela indústria, como por exemplo: peixes enlatados, palmito em conserva e extratos de tomate (cuja composição é somente tomate, açúcar e ou sal).
Outra categoria da Classificação Nova são os ingredientes culinários. Eles podem e devem compor a despensa, são importantes para o preparo de refeições com os alimentos in natura, mas devem ser consumidos em pequenas quantidades. Aqui nesse grupo, estão os óleos, gorduras, sal e açúcar, por exemplo.
Já os ultraprocessados são produtos formulados pela indústria para durar muito mais tempo nas prateleiras. Além de terem quantidades excessivas de açúcares, gorduras e sódio, são compostos por aditivos como aromatizantes, corantes e outras substâncias criadas para imitar a aparência, a textura e o sabor da comida de verdade.
Essa ‘durabilidade extra’ pode parecer prática no dia a dia, mas exige atenção: ela costuma vir acompanhada de ingredientes que prejudicam a saúde.
Exemplos? Macarrões instantâneos, sopas em pó, biscoitos recheados, cereais matinais e embutidos.
Essa praticidade, durabilidade, sabores e texturas marcantes presentes nos produtos ultraprocessados são artimanhas da indústria para incentivar o consumo de uma categoria de produtos alimentícios que fazem muito mal à saúde.
Além da relação com doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 68 mortes por dia no Brasil estão ligadas ao consumo de ultraprocessados.
A saúde não precisa estar exposta, é possível fazer melhores escolhas, por isso, na hora de planejar compras e organizar a despensa, vale olhar com cuidado e priorizar alimentos minimamente processados.
E não dá para esquecer que, na geladeira, na fruteira, tenha sempre frutas, legumes e verduras para compor suas refeições. Eles possibilitam diversificar, colorir e deixar suas refeições mais saudáveis. Esses alimentos também têm uma conexão com a cultura familiar, incentiva o cultivo do produtor rural e viabiliza a sustentabilidade socioambiental.
Mas ainda sobre esse setor do armário, ele pode ser um aliado da alimentação adequada e saudável, se pensado e organizado de maneira que seja um local arejado, seco e longe da luz direta para armazenar os alimentos minimamente processados, os ingredientes culinários processados e os alimentos processados.
Para isso, manter as prateleiras limpas e bem organizadas ajuda a enxergar tudo o que há disponível. Usar potes de vidro ou recipientes com tampa, rotulados com nome e data de validade, facilita o controle e conserva melhor os alimentos.
Alimentos que podem ser comprados a granel, como lentilha, farinhas, polvilho, castanhas e sementes devem ser guardados em potes fechados para evitar a umidade e a presença de insetos. Essa prática simples mantém o sabor e o frescor por mais tempo.
E claro, não esqueça de uma das dicas mais valiosas para evitar o desperdício: aplicar a regra do “primeiro que vence, primeiro que sai”.
Isso significa organizar os produtos de acordo com o prazo de validade, os que vencem antes devem ser colocados na frente e usados primeiro, enquanto os com validade mais longa podem ficar no fundo.
Assim, evita-se que produtos fiquem esquecidos e acabem estragando. Essa lógica é usada por cozinhas profissionais e supermercados, e pode transformar a rotina doméstica em algo muito mais funcional.
Vale também reservar um tempo para revisar a despensa periodicamente.
Fazer uma “limpeza de prateleira” com certa periodicidade é uma boa prática para checar o que ainda está em boas condições, o que precisa ser consumido logo e o que pode ser aproveitado em receitas criativas.
Então, se tem um pacote de farinha aberto a mais tempo, no planejamento de comidas da semana, ele pode virar bolo ou pão. Aquele restinho de arroz no pote pode se transformar em massa para uma torta.
O feijão pode ser congelado com antecedência, assim como o grão de bico e a lentilha, evitando que fiquem parados nas embalagens propiciando o surgimento de carunchos.
A ideia de uma despensa mais planejada e intencional pode ser um exercício de consciência alimentar.
Ao optar por preparações culinárias feitas a partir de alimentos de verdade, reduzir os ultraprocessados e planejar melhor as compras, estamos fazendo escolhas que vão além do prato: estamos cuidando da nossa saúde, do meio ambiente e do orçamento doméstico.
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