Talvez você ainda não tenha familiaridade, mas a indústria de ultraprocessados comercialmente se apropriou do termo “plant-based”, que na tradução literal para o português, significa: à base de plantas, para estampar o conceito de produtos que normalmente se propõe a imitar opções tradicionais, mas são feitos sem nada de origem animal na composição.
Acontece que só porque um alimento é rotulado como “plant-based” não significa que ele seja saudável.
Um hambúrguer plant based ultraprocessado, que busca imitar o sabor e a textura do de carne, leva em sua composição ingredientes de uso industrial e aditivos alimentares para atingir esse fim.
Essa formulação está longe de se assemelhar, tanto em saúde quanto em sustentabilidade a um “hambúrguer” caseiro feito de grão-de-bico, ou outra leguminosa e temperos naturais.
Vale lembrar que os ultraprocessados, sejam eles plant based ou não, são altos em sódio, gordura saturada e contém aditivos alimentares que não contribuem positivamente para o nosso organismo.
Além claro, que se você olhar a composição, vai notar que é mais um produto ultraprocessado, como os outros.
E enquanto ultraprocessado o consumo destes está associado ao aumento do excesso de peso, obesidade e outras doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT).
Mas além disso, tem um outro ponto central quanto ao impacto na produção industrial de produtos ultraprocessados plant-based: o meio ambiente.
Apesar de se apresentarem como soluções sustentáveis, com embalagens que criam essa ilusão de ‘amigos planeta’, muitos destes produtos dependem de sistemas produtivos que também degradam o meio ambiente.
A soja, o milho e o trigo, usados em larga escala, são majoritariamente cultivados em monoculturas extensivas, com uso intensivo de agrotóxicos e sementes transgênicas.
Esses sistemas agrícolas esgotam o solo, reduzem a biodiversidade, comprometem a qualidade da água e ampliam a emissão de gases de efeito estufa.
Além dessa degradação causada pelas monoculturas, uma parcela importante do mercado plant-based pertence à indústria da carne, que está apenas diversificando seus produtos para atender a novos públicos. Isso significa que a aquisição desses produtos financia, muitas vezes, a mesma indústria que queremos evitar.
Essas monoculturas também são responsáveis por expulsar comunidades tradicionais, reduzir áreas de florestas nativas e concentrar a terra nas mãos de grandes corporações.
Ou seja, ao consumir um ultraprocessado plant-based, pode-se estar, indiretamente, fortalecendo o mesmo modelo agroindustrial que se busca combater ao deixar de comer carne.
A cadeia de produção desses alimentos também é altamente dependente de tecnologia, energia e logística complexa.
O processamento excessivo, a embalagem elaborada e o transporte por longas distâncias aumentam a pegada ecológica do produto.
Diferente de alimentos minimamente processados ou in natura, que podem ser produzidos localmente e com menos impactos, os ultraprocessados plant-based são fruto de um sistema alimentar voltado para o lucro, não para a saúde das pessoas ou do planeta.
A solução para uma alimentação saudável e sustentável não está na troca de um ultraprocessado por outro, independente da sua composição.
Está na reaproximação com os alimentos in natura e minimamente processados, no incentivo à agricultura familiar, à agroecologia e à culinária cotidiana. Está em valorizar ingredientes saudáveis, frescos e sazonais.
Ao levar em conta um padrão alimentar à base de plantas, é essencial ir além dos rótulos e das promessas publicitárias.
O desafio não é apenas reduzir o consumo de carne, mas comer com mais consciência, diversidade, natureza e conexão com a terra.
Afinal, comida de verdade vem da terra, da cultura e do cuidado com o que colocamos no prato.
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