É fato que as famílias querem sempre o melhor para seus bebês e, muitas vezes, nessa tentativa, acabam oferecendo produtos achando que se tratam de opções saudáveis, quando não são.
Boa parte da culpa disso é da indústria de fórmulas e compostos lácteos, que usando estratégias de interferência na construção de políticas públicas, influência na conduta de profissionais da saúde, financiamento de ciência e marketing, tem construído um ambiente favorável para seus produtos, prejudicando a amamentação.
Essas estratégias comerciais que empresas como a Nestlé e a Danone adotam foram catalogadas no estudo: “Amamentação, introdução alimentar e poder corporativo: um estudo de caso sobre o mercado e as práticas políticas e corporativas da indústria transnacional de alimentação infantil no Brasil”, que tem como integrante a pesquisadora Laís Amaral, coordenadora do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável aqui do Idec.
E aqui, preste bem atenção nessa lista com a evolução cronológica das ações das indústrias para promover seus produtos e diminuir os índices de amamentação no país:
- Nos anos 40, a Nestlé lançou no Brasil uma iniciativa chamada: “Serviço de Colaboração Familiar” para se conectar diretamente com as famílias brasileiras, e também criou uma personagem, Ruth Beatriz, para orientar as mães sobre como alimentar seus bebês, claro, com produtos da marca e não amamentando.
- Na mesma época, 96% das crianças brasileiras de um mês de idade estavam em aleitamento materno exclusivo. Passados cerca de 30 anos, esse valor chegou a 39,2% das crianças.
- Já na década de 1980, para expandir os seus mercados e evitar regulamentações que eram aplicadas apenas às fórmulas infantis, a indústria de alimentos para crianças começou a comercializar as chamadas “fórmulas de seguimento” e leites infantis para bebês mais velhos e crianças pequenas, aumentando os limites de idade para o direcionamento de seus produtos.
- Para terem mais influência na elaboração de políticas públicas, essas empresas construíram alianças estratégicas, fazendo parte de um conjunto poderoso de empresas do agronegócio e da indústria de alimentos, como a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA).
- A indústria de alimentos para bebês agregou as principais associações profissionais de saúde para influenciar normas e práticas profissionais. A Nestlé, por exemplo, tem um relacionamento de longa data com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Financia congressos, promove estudos que apontam benefícios dos seus produtos e tem funcionários que integram o conselho técnico da SBP.
- Com essas vantagens e esse poderio de mercado, em 2019, havia disponíveis 13 marcas diferentes de leite infantil para as pessoas consumidoras adquirirem.
- Entre 2006 e 2013, o crescimento da predominância do aleitamento materno exclusivo até os seis meses ficou estabilizado e depois regrediu para 36,6%; e a amamentação no primeiro ano de vida chegou a 45,4%.
Apesar de todas essas investidas para minar o aleitamento, ao longo da história, o Brasil conseguiu desenvolver uma forte legislação nacional, a NBCAL (Norma Brasileira para Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras), uma estrutura política de proteção à amamentação e desenvolveu políticas regulatórias para bebês e crianças pequenas.
Além da Norma, temos ainda o Guia Alimentar para crianças brasileiras menores de 02 anos com diretrizes alimentares que tem muitas recomendações, estudo científico e exemplos práticos de alimentação para crianças de 1 e 2 anos de idade.
Porém, sempre travando essa batalha com a indústria, que aprimora seus métodos de persuasão e faz esse índice de aleitamento humano cair a cada nova publicidade.
Mas nós do Idec, somos defensores da amamentação exclusiva e em livre demanda até os primeiros seis meses de vida.
Também reconhecemos que, sim, existem casos em que as fórmulas infantis são necessárias, sob recomendação de um profissional da saúde, por diferentes motivos que possam impedir a amamentação.
Contudo, chamamos a atenção para a banalização da utilização delas, proporcionada especialmente pela interferência da indústria na atuação direta com profissionais de saúde e da publicidade agressiva.
A amamentação é a melhor opção e deve sempre ser estimulada e apoiada. Afinal, não existe substituto à altura do leite humano.
O leite humano previne desnutrição e morte prematura. Favorece o vínculo entre a pessoa que amamenta e o bebê, além de prevenir doenças em ambos ao longo da vida.
Precisamos ampliar essa voz e garantir o espaço para esses argumentos junto aos gestores públicos. Se você também acredita e defende o aleitamento humano, junte-se a nós!
Aproveitando o período de eleições, converse com parentes e avalie as propostas das pessoas candidatas no pleito eleitoral deste ano sobre políticas de incentivo à amamentação.
Precisamos promover e proteger os direitos à saúde, à alimentação e à nutrição de lactantes e lactentes acima dos interesses comerciais.
Se esse assunto chamou sua atenção, nesse especial falamos mais da NBCAL e sua importância para defender o aleitamento humano.
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