Já parou pra pensar que, apesar da abundância de água que nosso país e nosso planeta têm, esse é um recurso que pode se tornar escasso para a população? Todo 21 de março é comemorado o Dia Mundial da Água, e dentro desse universo de possibilidades, o gancho da conversa de hoje é sobre a privatização das fontes naturais e a comercialização de água engarrafada.

Em um país com 12 regiões hidrográficas, tão difícil quanto gerenciar a escassez, é gerenciar a abundância”, diz Jefferson Nascimento de Oliveira, professor na área de recursos hídricos da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Essa fala é um bom ponto de partida para refletirmos sobre parte dos problemas que enfrentamos no país.

O Brasil detém 12% da disponibilidade de água doce no mundo. Temos muito recurso hídrico, porém não existem fiscalizações e políticas públicas eficazes no controle e na manutenção dos sistemas de distribuição de água.

E aqui entra um dos pontos da discussão: já reparou que boa parte das águas engarrafadas no mercado pertencem a fabricantes de bebidas adoçadas?

Elas são donas de terras e exploram águas de superfície – normalmente a um custo muito baixo – e vendem por um valor 150 a mil vezes maior do que o custo da mesma quantidade de água encanada distribuída pelo sistema público.

E antes de prosseguirmos, guarda essa expressão: bebidas adoçadas. Nós falaremos em um futuro próximo sobre os prejuízos que elas causam.

Segundo dados do Instituto da Água, Meio Ambiente e Saúde da Universidade da Organização das Nações Unidas (ONU), metade das vendas globais de água engarrafada são estimadas em 350 bilhões de litros por ano, o que movimenta quase US$ 270 bilhões ao ano.

Esse valor poderia pagar o acesso universal à água potável, serviço básico que cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo ainda não têm.

O acesso à água potável e ao saneamento básico é um direito humano essencial, fundamental e universal, indispensável à vida e está previsto na Constituição de 1988.

Esse mesmo estudo da ONU afirma ainda que a retirada de água para o engarrafamento pode contribuir para o esgotamento dos recursos hídricos subterrâneos em áreas que sofrem escassez, critica a falta de dados disponíveis sobre os volumes de água extraídos pela indústria, e defende que as empresas de engarrafamento deveriam divulgar publicamente os volumes de água extraídos além de avaliar as consequências ambientais de suas atividades.

Fica aqui nossa crítica que essas empresas também não são transparentes quanto a qualidade da água engarrafada. O preço alto de uma singela garrafinha de água é, muitas vezes, justificado pela oferta do produto como uma alternativa segura à água da torneira.

Mas a água engarrafada não está imune a todas as contaminações. Afinal, ela raramente está sujeita aos rigorosos regulamentos ambientais e de saúde pública pelos quais a água da torneira passa nos países para ser liberada para consumo humano.

Portanto, para a Semana Mundial da Água, queremos deixar algumas observações:

• Praticar o consumo da água filtrada que sai da torneira de casa é muito mais do que economia financeira, é um ato cidadão, pois valoriza a água tratada da sua cidade, patrimônio comum e de direito de todos os habitantes.
• Se estiver em um restaurante e bater aquela sede, é possível pedir a “água da casa”. O estabelecimento é obrigado a servir um copo de água - respeitando os parâmetros federais de potabilidade para o consumo humano - para o cliente sem nenhum custo. Muitas cidades brasileiras têm essa lei, verifique na sua região.
• Precisamos ampliar a educação ambiental desde a base, no ensino infantil para criarmos conscientização da importância de preservarmos esse bem essencial à vida.
• É o conhecimento que mobiliza! Para trazer entendimento de leis, para reunir a população na garantia do direito de todas e todos.
• Em anos eleitorais, como este, devemos pressionar candidaturas a apresentar propostas bem fundamentadas e comprometidas com o abastecimento e saneamento das cidades. Já pensou se a moda pega: uma cidade torna lei o desconto no Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) para quem faz aproveitamento da água das chuvas e isso se espalha por outros municípios?