Nós, daqui do Tá na Mesa, conversamos toda semana por essa tecnologia, o e-mail, que é visualizado no celular ou no computador por meio da internet e, assim, nos conectamos a milhares de pessoas para trocar e fortalecer ideias.
Acreditamos na importância de existirem recursos que tragam bem-estar, qualidade de vida e sustentabilidade para a população.
Mas não precisamos abrir mão da nossa cultura e da nossa identidade, para sermos modernos e tecnológicos.
Por isso, uma frase como essa: “em dez anos, ninguém vai mais cozinhar”, não pode ser dita em nenhuma situação.
Mesmo que o presidente do Ifood tenha se justificado e que, na verdade, tenha querido dizer que o delivery de comida de qualidade ficará barato, facilitando o acesso, o ato de cozinhar não deve ser visto apenas como uma tarefa. Cozinhar proporciona autonomia!
Você tem a possibilidade de selecionar as combinações de alimentos, dosar os temperos e os sabores da sua comida e, principalmente, se ver livre para fazer escolhas para além do que a indústria impõe.
O Guia Alimentar para a População Brasileira traz o ato de cozinhar como um importante caminho para consumirmos alimentos mais saudáveis.
É por meio do cozinhar que conseguimos seguir a regra de ouro do Guia: “faça dos alimentos in natura e minimamente processados a base da sua alimentação”.
Ao invés de sabotar a cozinha, limitando o ato a apenas uma tarefa diária, devemos nos debruçar sobre os obstáculos e encontrar caminhos para superá-los, como a distribuição de tarefas, o planejamento, a ressignificação do cozinhar como algo prazeroso e não apenas um serviço.
Porque cozinhar faz parte do ser humano de forma tão profunda, como bem define o antropólogo brasileiro, Roberto Damatta: a comida é uma forma de expressão de identidade.
Desenvolvemos o ato de cozinhar não apenas por sobrevivência, mas porque preparar alimentos desperta sentidos, nos humaniza, nos conecta com o planeta, aguça o paladar e nos alimenta de coisas que nem conseguimos descrever.
E por mais que hoje tenhamos uma estrutura de sociedade muito mais complexa, com o acúmulo de tarefas, onde é razoável pedir uma comida por entrega, é importante termos atenção e demarcarmos falas como essa para barrar a apropriação mercadológica da comida e do ato de comer, que esvaziam os reais significados da alimentação.
Por trás de toda comida desproporcionalmente barata há exploração, seja de quem planta, de quem vende, de quem cozinha ou de quem entrega.
Afinal, não é sobre dar conta de todas as tarefas domésticas, incluindo cozinhar, mas sim de não terceirizar completamente a sua alimentação.
Em tempos acelerados, precisamos repensar nossas escolhas e práticas para que a nossa alimentação seja a expressão de uma sociedade mais justa, equitativa e sustentável.
É importante ter a capacidade de saber "se virar" e preparar uma comida saudável e caseira, inclusive quando se é responsável por fornecer a alimentação de crianças que estão em desenvolvimento.
Saciar a fome e comer saudável são duas máximas que podem caminhar juntas.
Por isso, que tal voltar a atenção para o ato de cozinhar?
A cozinha é lugar de intimidade com o fogo, de apreciar cada etapa. De incluir alimentos frescos e verdadeiramente brasileiros no prato.
Vamos fazer brotar afetos a partir da preparação de comida de verdade?
E se você gostou desse assunto e quer ler mais, está fresquinho, como uma boa comida fumegando na panela, um artigo na Folha de São Paulo - assinado por integrantes da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável da qual fazemos parte - e traduz o quanto cozinhar é tão essencial para nossa existência e a importância de tornar esse ato mais justo nos contextos familiares.
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