Você deve ter visto nestes dias a crise humanitária que assola os Yanomamis, povos originários do maior território indígena do Brasil, localizado em Roraima e Amazonas, além do sul da Venezuela.
O estado de desnutrição e doenças em crianças e idosos é grave e devastador.
A expansão do garimpo ilegal, que ocorreu sob os olhares do governo, e a respectiva falta de qualquer assistência aos Yanomamis são as grandes causas dessa tragédia.
Em entrevista ao Amazônia Real, Davi Kopenawa, importante liderança indígena, comenta que há anos denuncia as violações de direitos de seu povo.
Estima-se que neste momento existam mais de 20 mil garimpeiros dentro do território, segundo a comunicadora indígena Samela Sateré Mawe, onde habitam mais de 30 mil indígenas.
Para a extração de minérios, é utilizado o mercúrio, um metal altamente tóxico e que neste processo é lançado diretamente nos rios, contaminando as águas, o solo e até os peixes ingeridos na alimentação dos indígenas, um dano que levará anos para ser recuperado.
O garimpo também gera outros desequilíbrios na floresta, além de conflitos armados.
Casos de malária explodiram na região devido ao acúmulo de água causado pelas crateras abertas pelo garimpo. E a falta de assistência a esse problema assola principalmente as crianças e desestrutura todo o sistema de sobrevivência nas aldeias.
A logística desses povos para se deslocarem para atendimento médico ou receberem alimentos também é reprimida pelos garimpeiros que ocupam ilegalmente o território.
Não chega alimento, e quando chega, não é in natura. A cultura alimentar que tanto falamos que herdamos dos indígenas é apagada com o fornecimento de biscoitos recheados, refrigerantes, macarrão instantâneo, e por aí vai…
“Para nós a terra é tudo. Sem a terra a gente não é nada: a gente não vive, a gente não tem cultura. Tendo a terra demarcada a gente tem espaço para fazer a roça, para fazer plantação, para viver do nosso modo. Sem terra a comunidade não existe, não tem vida”
Sérgio Martins Popyguá, do território indígena Aguapeú.
Diante deste triste cenário, o que deve ser feito para garantir os direitos dos povos indígenas?
- É responsabilidade do Estado assegurar o direito à saúde e alimentação adequada, direitos previstos na nossa Constituição Federal.
- Cabe a nós cobrar do poder público suas responsabilidades. A responsabilidade do governo federal e de Roraima sobre a total desassistência à saúde e à segurança alimentar e nutricional, além da omissão de gestores e políticos que permitiram que a situação chegasse a este nível.
- Precisamos também que instituições as quais foram desmanteladas nos últimos anos como a FUNAI, IBAMA e SESAI, sejam fortalecidas.
- Não podemos permitir que a situação grave de desnutrição, fome e insegurança alimentar seja tratada com doação de produtos ultraprocessados. Produtos que matam 57 mil brasileiros por ano. A desnutrição grave precisa ser enfrentada com a assistência à saúde e nutricional adequadas. A fome e a insegurança alimentar com alimentos que respeitem os hábitos e a cultura alimentar dos diferentes povos.
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