Temos batido muito na tecla sobre a importância e urgência de termos sistemas alimentares no Brasil que dependam cada vez menos de agrotóxicos.
Afinal, é urgente recuperar o solo, frear a crise climática e preservarmos a nossa saúde sem ingerirmos tanto veneno. Tudo isso está interligado.
No Brasil, estão liberados 4.644 agrotóxicos para uso em atividades agrícolas. Deste total, 1.560 foram aprovados de janeiro de 2019 até o início de 2022.
Para onde vai tanto veneno? Partindo da hipótese que os produtos ultraprocessados - além do mal que causam pela composição em si - estavam contaminados, no início deste ano, publicamos o volume 1 do “Tem Veneno Nesse Pacote”.
Foi realizada uma análise laboratorial de 27 produtos como biscoitos, refrigerantes, sucos e salgadinhos e 16 desse total continham pelo menos um tipo de agrotóxico.
Agora fizemos um novo levantamento. O “Tem Veneno Nesse Pacote” volume 2 avaliou embutidos, iogurte, bebida láctea e requeijão.
E, 14 dos 24 produtos analisados, possuem agrotóxicos sendo o empanado de frango da Seara o campeão com 5 tipos de veneno, seguido do requeijão ultraprocessado Vigor com 4 variedades de agrotóxicos.
Não podemos aceitar que a nossa saúde seja colocada à prova dessa maneira.
A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) discute os possíveis efeitos crônicos do acúmulo de pequenas quantidades de agrotóxicos no organismo com o passar do tempo.
Esses efeitos podem aparecer depois de anos de exposição, o que dificulta a identificação da relação: acúmulo de veneno no organismo com cânceres, malformações congênitas, distúrbios endócrinos, neurológicos e mentais.
E a nossa missão no Idec é a da batalha constante por uma alimentação saudável e universal. Mas só é possível continuar gerando alimento na terra mudando as práticas agrícolas.
Precisamos exigir que as entidades públicas regularizem políticas e monitorem as atividades das indústrias de ultraprocessados. Veja o que cobrar de cada instância:
- Solicitar que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) inclua as análises de resíduos de agrotóxicos em ultraprocessados à base de carne e leite em seu monitoramento de forma permanente;
- Solicitar que a Anvisa realize discussões com participação da sociedade civil para o levantamento de estudos, definição de referenciais e protocolos para o monitoramento dos limites e resíduos de agrotóxicos em ultraprocessados, tendo como foco a proteção à saúde da população;
- Que os poderes legislativo e executivo estabeleçam regulações efetivas para desestimular a produção e o consumo de ultraprocessados e de agrotóxicos e implementem medidas efetivas para estimular a produção;
- Estimular o consumo de alimentos orgânicos e agroecológicos, especialmente os recomendados pelo Guia Alimentar para a População Brasileira.
Por fim, mas não menos importante, a indústria alimentícia precisa dar transparência sobre a presença de resíduos de agrotóxicos em seus produtos e substituir o uso de monoculturas transgênicas e repletas de agrotóxicos por alimentos orgânicos e de base agroecológica em suas formulações.
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