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Pandemia: aumento de consumo de ultraprocessados pelo Brasil

Pesquisa Datafolha mostra que população brasileira segue na contramão do Guia Alimentar, que recomenda que esses produtos não devem fazer parte de uma alimentação adequada e saudável

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Atualizado: 

14/07/2021
Foto iStock
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Novo estudo do Datafolha encomendado pelo Idec mostra que os brasileiros de 45 a 55 anos estão consumindo mais alimentos ultraprocessados durante a pandemia. O consumo desses produtos nessa faixa etária era de 9% em outubro de 2019, enquanto em junho deste ano saltou para 16%.

O levantamento feito em 2020 abordou pessoas entre 18 e 55 anos pertencentes a todas as classes econômicas e de todas as regiões do Brasil, e revela que salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados foram os produtos campeões de consumo em comparação com o levantamento realizado em 2019, subindo de 30% para 35%. O segundo lugar no ranking ficou para margarina, maionese, ketchup ou outros molhos industrializados, cujo consumo subiu de 50% para 54% em 2020.

“É importante observarmos as mudanças que vêm ocorrendo no consumo de alimentos da população durante a pandemia. O isolamento social causou diversas transformações na rotina das pessoas em diferentes níveis, o que impacta diretamente no nosso modo de comer”, afirma Ana Paula Bortoletto, nutricionista do Idec.

Analisando as regiões, 57% da população no Sudeste relatou consumir margarina. Em 2019, 50% das pessoas dessa região o fizeram. Em segundo lugar ficaram os sucos de fruta em caixa, caixinha ou lata ou refrescos em pó, com um aumento de 30% para 36% no período. Já na terceira posição ficou o salgadinho de pacote ou biscoito salgado, de 27% para 33%.

Escolaridade e renda

Em relação à escolaridade dos participantes, 33% das pessoas que estudaram até o ensino fundamental consumiram salsicha, linguiça, mortadela, presunto e outro alimento embutido em 2020, enquanto esse consumo era de 24% no ano anterior. Além disso, 51% dos indivíduos com essa mesma escolaridade utilizaram margarina, maionese, ketchup e outros molhos industrializados em seus alimentos neste ano, sendo que 42% os consumiam em 2019.

Já quando analisado o local de moradia da população, revelou-se que o consumo de pelo menos uma fruta diminuiu nos municípios do interior, de 68% para 62%. Além disso, na região Nordeste, a frequência do consumo de pelo menos uma fruta diminuiu de 72% em 2019 para 64% em 2020.

Risco

Os produtos ultraprocessados são reconhecidamente prejudiciais à saúde, por conta do conteúdo excessivo de nutrientes associados a doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade e doenças cardiovasculares, e portanto, o aumento no consumo desses produtos reflete diretamente nas condições de saúde da população. 

Pesquisas divulgadas este ano concluem que que o consumo de ultraprocessados aumenta em 26% o risco de obesidade. Além disso, aumenta o risco de sobrepeso, obesidade e circunferência abdominal elevada em 23-34%, de síndrome metabólica em 79%, de dislipidemia em 102%, de doenças cardiovasculares em 29-34% e da mortalidade por todas as causa em 25%.

“Durante a pandemia, devemos ficar ainda mais atentos à alimentação, uma vez que alimentos não saudáveis são causadores de doenças crônicas como diabetes, pressão alta e excesso de peso que, por sua vez, aumentam o risco de formas mais graves da covid-19 e também da sua mortalidade”, comenta Bortoletto.

E ainda querem rever o Guia Alimentar...

O Guia Alimentar para a População Brasileira foi uma das primeiras publicações a valorizar o olhar sistêmico e sustentável para a alimentação, a culinária doméstica e foi reconhecido internacionalmente como o melhor guia alimentar do mundo, servindo de inspiração para outros países, inclusive o Canadá.

Temos o direito de saber o que comemos, como o alimento irá impactar nossa saúde e se a nossa alimentação tem qualidade nutricional. No Brasil, o direito humano à alimentação adequada está previsto em nossa Constituição. Por isso, o ataque do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) ao Guia, por meio de uma nota técnica que pediu sua revisão, ameaça esse direito dos brasileiros.

Em vez de cessar a discussão sobre o assunto e considerar o cenário epidemiológico de crescimento vertiginoso das doenças crônicas não transmissíveis - muitas delas com relacionadas diretamente à má alimentação -, no dia 24 de setembro a Ministra Tereza Cristina deu mais uma chance à Secretaria de Política Agrícola ao permitir que o órgão refaça o conteúdo da nota e se embase em dados técnicos antes de ser endossado por ela para seguir ao Ministério da Saúde.

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