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Entre os dias 25 e 28 de julho, o Idec participou da primeira Contra Mobilização dos Povos para Transformar os Sistemas Alimentares Corporativos, um evento realizado em forma de crítica e resistência à Cúpula de Sistemas Alimentares das Nações Unidas, que ocorreu nos mesmo período, em Roma. Dias antes do encontro mundial, em 22 e 23 de julho, foi realizada uma etapa prévia para a América Latina com apoio do Instituto.
“Estamos trabalhando em um processo muito articulado com este movimento para a construção de uma agenda para Sistemas Alimentares mais saudáveis e sustentáveis na América Latina e no Brasil. Fazemos incidência política nos países, governos e instituições. Estamos fazendo isso porque acreditamos na soberania alimentar dos povos”, disse a coordenadora do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec, Janine Coutinho.
O movimento é resultado da união de mais de 300 organizações da sociedade civil de todo o mundo para enfrentar os modelos de produção e consumo de alimentos dominados por grandes corporações da indústria alimentícia e do agronegócio. Com uma programação ampla, participaram campesinos, pequenos produtores, povos indígenas e tradicionais, consumidores e gestores públicos.
O evento foi transmitido online. Os encontros foram realizados a partir da organização e mobilização de movimentos, organizações e comunidades que compõem outros modelos de Sistemas Alimentares. Abordou-se o tema sob a ótica dos direitos humanos e da coexistência com a natureza, ao contrário do discurso voltado para a produtividade e lucro do agronegócio e da indústria de alimentos.
O Idec não participou oficialmente do evento da ONU após denunciar a captura corporativa sob a qual este está submetido, assim como o não respeito à autodeterminação para para definição da representação da sociedade civil e a falta de transparência nos critérios de escolha e diversidade no comitê científico da Cúpula.
A luta pela soberania alimentar
A agenda da Contra Mobilização dos Povos para transformar os Sistemas Alimentares foi pensada com o objetivo de refletir as demandas, saberes e experiências da sociedade civil. Por isso, o primeiro dia foi dedicado a oito horas ininterruptas de apresentações culturais de diferentes organizações e comunidades e falas de resistência.
Nos dias seguintes, uma série de diálogos foram promovidos em sessões independentes e, ao fim, um ato de encerramento marcou a união dos povos contra os Sistemas Alimentares corporativos. Confira aqui como foi a programação completa.
Convidado para integrar a mesa A Luta pela Soberania Alimentar no Caribe e América Latina no dia 27, o Idec levou para o fórum global a perspectiva dos consumidores, dando destaque à agenda do consumo de alimentos saudáveis.
“Mais de 19 milhões de brasileiros enfrentam a fome todos os dias. É um cenário crítico que está embasado nas crises política, econômica e sanitária que o Brasil vive - e na forma em que os alimentos estão sendo produzidos, processados, comercializados e consumidos”, defendeu Janine.
Segundo ela, é preciso fortalecer os esforços para promover e defender o Guia Alimentar para a População Brasileira, defender a rotulagem de alimentos, denunciar os perigos do consumo de agrotóxicos e ultraprocessados e construir caminhos para combater a sindemia global caracterizada pela desnutrição, obesidade e mudanças climáticas.
Agenda da América Latina
Durante a etapa latinoamericana, foi possível mapear as principais preocupações, desafios e demandas da sociedade civil na região em relação aos Sistemas Alimentares. Do encontro, produziu-se um manifesto com o posicionamento das entidades da América Latina para a mobilização global.
“O modelo em que vivemos está esgotado e busca desesperadamente se renovar e resolver os graves problemas de sustentabilidade e injustiça. Buscam soluções que não resolvem os problemas, mas que acalmem os protestos sociais”, pontuou Sofía Monsalve, da FIAN International (Food First Information and Action Network) e integrante do Mecanismo da Sociedade Civil e dos Povos Indígenas para as relações com o Comitê das Nações Unidas sobre Segurança Alimentar Mundial.
A agenda incluiu mesas de debate sobre falsas soluções tecnológicas, ameaças da agricultura industrial contra a biodiversidade e os direitos humanos, as lutas populares e resistências regionais, conflitos de interesse nos Sistemas Alimentares, consumo saudável e sustentável, direitos territoriais, tradicionalidades, entre outros.