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O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) passou a ser membro oficial neste ano da Antibiotic Resistance Coalition (ARC), coalizão internacional de entidades que estuda formas de combater microorganismos, como bactérias e fungos, que desenvolvem resistência a medicamentos. Estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que no ano de 2050, a resistência antimicrobiana, especialmente a antibióticos (que servem para tratar doenças causadas por bactérias), será a principal causa de mortes no mundo, superando inclusive o câncer e matando 10 milhões de pessoas por ano.
Após um ano como membro observador da coalizão, o Idec passou a ser membro oficial. O Instituto tornou-se integrante observador desde maio de 2019, quando participou da reunião anual de planejamento do grupo, em Genebra, a convite dos organizadores.
“O Idec possui antiga atuação no tema de resistência antimicrobiana. Em 2000 defendeu o maior controle do uso de substâncias antibióticos em animais e atualmente ocupa fóruns importantes sobre o tema, como o Comitê Nacional para a Promoção do Uso Racional de Medicamentos (CNPURM) e a Comissão Intersetorial de Ciência, Tecnologia e Assistência Farmacêutica do Conselho Nacional de Saúde (CICTAF)”, lembra o advogado e especialista em Saúde do Idec, Matheus Falcão.
As “superbactérias”
A resistência antimicrobiana é uma das questões de saúde pública mais centrais na atualidade. É comum ouvirmos notícias sobre a descoberta de “superbactérias”, que nada mais são do que bactérias que desenvolveram resistência aos antibióticos mais usados, se não a todos os existentes. Por isso combater as infecções que elas causam torna-se extremamente difícil.
O Idec entende que o enfrentamento deste problema passa por aumentar o investimento em pesquisa e desenvolvimento de novos antibióticos mais potentes, mas também assegurar e preservar o poder dos atuais, com regulação adequada de seu uso e campanhas de educação informação sobre o uso racional de medicamentos, em especial dos antibióticos.
A resistência a antibióticos afeta todos os procedimentos que envolvem o uso deste medicamento, desde os mais simples, como uma simples extração de dente, até os mais complexos, como transplantes e colocação de próteses. Ela decorre do processo evolutivo natural dos microrganismos, por isso, quanto mais eles são submetidos ao contato com antibióticos, mais rápido desenvolvem resistência. Por isso é essencial usar antibióticos apenas quando necessário e da forma mais correta, como por exemplo seguir o número de dias exatos prescritos pelo profissional de saúde, nem mais nem menos.
O uso errado dos antibióticos aumenta a resistência a eles, por isso, o Idec atua na promoção do uso racional de medicamentos. “É fundamental que a população seja informada sobre importância do uso correto de todo tipo de medicação. Isso é importante para cada pessoa, mas também para a coletividade,” ressalta Falcão.
Exagero no campo e desinteresse no mercado
Além do uso incorreto de medicamentos pelas pessoas, outra grande parte do problema está na utilização de antibióticos de forma ainda mais descontrolada no setor agropecuário. Animais, como frangos e porcos, são alimentados com antibióticos para tratar e prevenir infecções, mas também para que engordem mais rápido. A consequência desse uso irracional aparece na mesa dos brasileiros durante as refeições.
Apesar dos antibióticos serem medicamentos amplamente usados mundialmente, o incentivo ao desenvolvimento de novos produtos é um outro desafio. A indústria farmacêutica privada tem pouco interesse em investir em inovação para esses medicamentos, já que os períodos de tratamento são curtos e o mercado é restrito. O mesmo acontece, por vezes, com a produção de antibióticos antigos, que hoje são vendidos por um preço baixo, como as penicilinas.
Por essa razão, o Estado assume um papel central na inovação tecnológica e na produção dessas drogas. O investimento em laboratórios públicos com a produção focada em medicamentos essenciais e considerados de baixo retorno financeiro para a indústria privada pode ser para o País a diferença entre dar ou não o tratamento necessário a sua população.
A ARC
A Coalizão de Resistência a Antibióticos (ARC) é uma coalizão internacional de organizações da sociedade civil e instituições acadêmicas que atua no enfrentamento da resistência antimicrobiana, formulando propostas e trocando experiências que auxiliem nas estratégias de cada país para evitar que se torne realidade uma era pós-antibióticos, isto é, uma situação em que os antibióticos disponíveis não sejam mais efetivos.
A ARC foi fundada em 2014 e hoje reúne representantes dos seis continentes. Sua sede está nos Estados Unidos, na Escola de Saúde Pública da Universidade John Hopkins. Seus três campos temáticos de atuação são acesso sem excesso (uso racional de medicamentos em saúde humana), uso de antibióticos em animais e inovação de antibióticos.
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