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Você já ouviu falar na sigla PANC e teve curiosidade para saber onde encontrá-las e experimentá-las? Vem com a gente para entender tudo sobre elas.
PANC é a sigla da expressão: Plantas Alimentícias Não Convencionais. Nem todas as plantas comestíveis disponíveis na natureza que nós podemos e devemos comer estão nas gôndolas dos supermercados. Temos no Brasil aproximadamente - segundo estudo - 10 mil tipos de PANCs mas não ingerimos nem 200 delas.
Nesse artigo queremos te incentivar sobre o quanto é importante gerar o movimento de procura por plantas alternativas nas feiras para que a demanda estimule produtores rurais de todos país a cultivarem.
Mais do que isso, é mostrar que a natureza nos oferece de forma espontânea muitas plantas. Elas podem estar no seu quintal, crescer na lateral de um vaso, no cantinho da calçada.
É importante reconhecer como comida e se aproximar da natureza, plantando e colhendo.
O que são PANCs
Em resumo, PANCs são aquelas plantas que não comemos porque não sabemos que elas podem, sim, ser consumidas, ou porque faziam parte da alimentação no passado, mas foram substituídas por alimentos com maior interesse comercial ao longo dos anos.
Ou seja, PANC não é uma categoria, família ou classe de plantas. É um termo criado para designar aquelas plantas que podem servir de alimento mas que não são tipicamente disponibilizadas na sua região através do comércio tradicional.
O termo, cunhado pelos estudiosos Valdely Kinupp e Harri Lorenzi e disseminado a partir de 2014 através de seu livro Plantas Alimentícias Não Convencionais no Brasil (editora Plantarum), pode ser recente, mas o conceito das PANCs existe há muito mais tempo, e tem vários defensores em todo o mundo e no Brasil, tem adeptos há mais de dez anos.
PANCs podem ser desde sementes, frutas e até gramíneas (sim, os famosos “matinhos”), e variam de região para região. O que é considerado PANC em São Paulo pode ser algo tradicional no Piauí ou no Ceará, como o Umbu (Spondias tuberosa). Outro exemplo é a planta Ora-pro-nóbis, muito comum em Minas Gerais, mas considerada PANC em outros estados.
Não convencionais também pode ser o estado em que a planta se encontra. Bananas e mangas verdes, por exemplo, apesar de serem frutos conhecidos em quase todo o território nacional, consumi-las ainda verdes não é típico. Daí essas frutas, tão populares, podem ser consideradas PANCs quando presentes em um estágio diferente do tradicional.
Conheça os tipos de PANCs e coloque mais verde no prato
Identificar a Taioba (Xanthosoma sagittifolium) e Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata), duas espécies populares e conhecidas de PANCs, é o começo. Mas há uma infinidade de outras que crescem entre as fendas dos concretos nas ruas, parques e esquinas e são plantas muito nutritivas, que contribuem na diversidade alimentar e na fuga do óbvio Alface (Lactuca sativa) e Couve (Brassica oleracea) de todo dia - não que seja ruim fazer um caldinho e colocar couve no meio mas já pensou explorar o sabor e fazer o refogado da Chaya/Espinafre de Árvore (Cnidoscolus aconitifolius) ou de uma Serralha (Sonchus oleraceus)?
A alimentação diversa só traz benefícios: incorpora mais nutrientes, gera economia doméstica e sustentabilidade para o meio ambiente. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 75% dos alimentos do mundo são gerados a partir de 12 plantas. E apenas três monoculturas — arroz, trigo e soja — são responsáveis por mais de 60% das calorias e proteínas obtidas pelos vegetais.
Outro dado importante está no relatório lançado em 2021 pela ONU, chamado, em tradução livre: “O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo", diz que o sistema alimentar convencional, baseado em poucas monoculturas, é responsável por 70% da água extraída da natureza e causa 60% da perda de biodiversidade e gera até um terço das emissões humanas de gases do efeito estufa. Portanto, incorporar Trapoeraba (Commelina benghalensis), Feijão-espada (Canavalia gladiata) e outros tantos exemplares é um recurso importante para o ecossistema e para a segurança alimentar do mundo.
Onde encontrá-las?
Diante do conhecimento que PANCs são de sementes, frutas e gramíneas você pode colher várias espécies por canteiros e arbustos na rua. Com os materiais para download que sugerimos ao longo desse texto você consegue identificar várias espécies e os passeios na rua serão com mais atenção aos verdinhos que estão à volta.
Algumas feiras livres já contam com as espécies nas banquinhas, por exemplo a azedinha, peixinho da horta, beldroega e capuchinha. Com um olhar treinado você pode reconhecer e pedir pela espécie que está ali disponível ou perguntar se tem alguma hortaliça não convencional à venda.
Como identificá-las?
Saber identificar uma planta espontânea que está apta para a alimentação humana é um exercício gradativo. Para essa etapa inicial vale ler o material de profissionais brasileiros para treinar os olhos e se tornar expert na identificação das variedades.
Temos grandes estudiosos brasileiros que se dedicam ao mapeamento, categorização e nomeação das espécies para difundir o consumo das PANCs e torná-las tão populares como a taioba. A nutricionista gaúcha Irany Arteche, junto ao botânico Valdely Kynupp desenvolveram um trabalho para assentados do MST/RS que resultou em um documentário. A parte 1 e parte 2 desse trabalho estão disponíveis para serem assistidos.
Outra fonte de estudo está disponível no site da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) que disponibiliza o encarte de 19 hortaliças, com fotos e informações para você aprender e ficar encantado com tantos benefícios funcionais para a nossa saúde
Existem muitas publicações com fotos, descrições técnicas e nutricionais que ensinam muito sobre esses alimentos. Faça pesquisas na internet com o termo “PANC” e navegue por muitos artigos, blogs e matérias. A nutricionista Neide Rigo compartilha em seu blog e perfil em uma rede social a rotina consumindo PANCs e como é possível construir hortas em canteiros do bairro e em casa.
Como prepará-las?
Segundo a nutricionista Neide Rigo, não existe muito mistério, basta prepará-los como preparamos os alimentos conhecidos. O que não quer dizer, porém, que novas e requintadas receitas não possam ser criadas. O céu é o limite! Refogado, guisado, assado, cru, no chá ou no caldo.
Veja alguns preparos culinários usando as PANCS
Cozinhar com constância traz repertório e abre as possibilidades de substituições. Mas veja algumas dicas simples que você pode trazer para as refeições do dia a dia:
- Está acostumado a comer couve refogada como acompanhamento do angu, arroz e feijão? A ora-pro-nóbis combina muito. Lave bem as folhas, enfileire-as, pique em tirinhas e refogue.
- Gosta da crocância do empanado? Então o peixinho da horta é um experimento de sabor. Faça as etapas de empanamento tradicional, frite a folha e experimente uma crocância nova para seu paladar.
- A ervilha torta ou feijão orelha de padre, é uma vagem e pode ser refogada com urucum. Fica macia com poucos minutos e tem um sabor muito leve, adorna na comida como o chuchu e a vagem tradicional.
- As folhas da vinagreira podem ser cozidas e adicionadas em omeletes, risotos, caldos ou sopas quentes e no famoso arroz de cuxá maranhense. Retire as sementes do cálice floral e utilize no preparo de chás, sucos, geleias, tinturas e xaropes.
Andando pela rua, já olhou para o lado à procura de uma PANC? Esse artigo te ajudou a implementar a variedade de alimentos nas suas refeições?