Regulação brasileira sobre o tema é falha e fabricantes de refrigerantes e bebidas energéticas não informam consumidor sobre quantidade da substância tóxica em seus produtos
separador
18/09/2013
Atualizado:
08/08/2019
O que é?
O caramelo IV, um dos corantes artificiais alimentares mais usados no mundo, é responsável pela coloração encontrada em refrigerantes de cola, molhos, chocolates, cervejas e outras bebidas alcoólicas, remédios e até em alimentos para cães.
Quais os perigos?
Diferentemente do caramelo regular, resultante do açúcar puro aquecido, o Caramelo IV é feito a partir da mistura do açúcar com elementos químicos como ácidos e amônia, sob grande pressão e temperatura. Porém, além da cor desejada, o corante gera também subprodutos prejudiciais à saúde.
Estudos feitos pelo Programa Nacional de Toxicologia dos Estados Unidos mostraram que o 4-Metilimidazol (4-MI), um desses subprodutos, pode causar câncer de pulmão, fígado, tireóide e leucemia. Reconhecendo os estudos, a Agência de Proteção Ambiental da Califórnia classificou o 4-MI como cancerígeno, e determinou que qualquer produto com concentração maior que 29 microgramas de 4-MI por porção deve informar o possível risco na embalagem. Nessa concentração, o risco de desenvolver algum tipo de câncer é observado nas estatísticas considerando as comparações com 100 mil indivíduos.
Em 2013, o Idec fez uma pesquisa sobre refrigerantes e energéticos que contêm o corante Caramelo IV em sua fórmula, e portanto o cancerígeno 4-MI, e confirmou que a regulação brasileira sobre o tema é falha e que os fabricantes de refrigerantes e bebidas energéticas não estão dispostos a informar ao consumidor a quantidade da substância tóxica em seus produtos.
10 MITOS E VERDADES SOBRE AGROTÓXICOS
Algumas afirmações, já bem conhecidas, nem sempre são verdadeiras. Você sabe quais?
Para que serve?
O uso do corante Caramelo IV serve para conferir cor aos alimentos. Um lançamento recente da Coca-Cola no Japão, com uma versão idêntica à bebida original, mostra como ela fica transparente sem o uso da substância.
A cor caramelo também pode ser obtida a partir da mistura de corantes naturais, como por exemplo, extrato de beterraba e beta-caroteno, porém a indústria alega que o seu uso não é vantajoso do ponto de vista econômico.
Para a maioria das pessoas, “corante caramelo IV” pode significar somente colorido com caramelo, porém seu modo de preparo o descaracteriza em relação à versão natural. É uma mistura concentrada de produtos químicos marrons que simplesmente não ocorre na natureza. O caramelo regular não é saudável, mas pelo menos não aumenta o risco de exposição à substâncias cancerígenas.
Qual o uso no Brasil?
A ANVISA reconhece oficialmente a Resolução da Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos (CNNPA), do Ministério da Saúde, de que o teor de 4-MI não deve exceder 200 miligramas em cada quilo de alimento. O que significa dizer que, se levarmos em consideração uma porção de 100g de determinado produto, a quantidade permitida no Brasil é quase 700 vezes maior que a permitida na Califórnia.
Exemplos dessa discrepância nos valores aceitáveis podem ser vistos no resultado de um estudo realizado em 2012 pelo Centro de Ciência para o Interesse Público (CSPI na sigla em inglês), da capital norte-americana. O centro avaliou a concentração de 4-MI em latas de Coca-Cola de diversos países e encontrou a Coca brasileira como detentora do primeiro lugar no ranking. Confira outros valores ao redor do mundo na tabela abaixo:
QUANTIDADE DE 4-METIL-IMIDAZOL (4-MI) NA COCA-COLA EM NOVE PAÍSES | |
---|---|
PAÍS | 4-MI em microgramas (mcg) em cada 355 ml |
Brasil | 267 |
Quênia | 177 |
Canadá | 160 |
Emirados Árabes Unidos | 155 |
México | 147 |
Reino Unido | 145 |
Estados Unidos (Washington, DC) | 144 |
Japão | 72 |
China | 56 |
Estados Unidos (Califórnia) | 4 |
Fonte: CSPI (Center for Science in the Public Interest) - EUA
Em informe técnico publicado pela ANVISA em 2012, a agência afirma que o padrão de ingestão aceitável adotado por ela para o Caramelo IV foi estabelecido pelo JECFA (Comitê de Especialistas da FAO/OMS em Aditivos Alimentares) em 1985 e mantido nas suas revisões.