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Uma reportagem publicada na 15ª edição de Observatório Social em Revista revela um esquema milionário de retirada ilegal de madeira da floresta Amazônica envolvendo funcionários públicos corruptos e grandes empresas de exportação.
A madeira é comercializada nas maiores cadeias de vendas de pisos e móveis nos Estados Unidos, Europa, Ásia e Oceania, muitas delas detentoras de selos de certificação de madeira. O esquema envolve empresas brasileiras e internacionais.
Realizada pelo Observatório Social, pela ONG Repórter Brasil e pelo Papel Social Comunicação, a pesquisa levou nove meses para ser concluída e aponta que 70% de toda a madeira comercializada no estado do Pará, maior vendedor de madeira amazônica no Brasil, tem origem ilegal.
Essa madeira é "esquentada" dentro de órgãos do governo. Autoridades do MPF (Ministério Público Federal) e do Ibama confirmam o esquema e apontam o envolvimento da Secretaria Estadual do Meio Ambiente que opera em parceria com madeireiras e empresas de exportação.
No final do caminho estão gigantes do setor de madeira e construção civil no exterior.
Todas as empresas aqui citadas aparecem em documentos que comprovam o problema. Apesar de a maioria não ter envolvimento direto, com exceção das citadas, elas são corresponsáveis por comprarem a madeira de empresas envolvidas, estão financiando o círculo vicioso. Elas não têm mecanismos minimamente eficientes para monitorar suas cadeias produtivas.
Rota da madeira
De acordo com o MPF e o Ibama, o mercado de madeira amazônica é movido por um mercado paralelo - o de créditos de madeira. A descoberta do esquema leva à constatação de que o Pará é o segundo estado brasileiro que mais compra madeira, atrás apenas de São Paulo. O comércio, porém, não chega a ser consumado. O único produto que viaja é o papel que registra o crédito e que permite o "esquentamento" de milhares de metros cúbicos provenientes de terras indígenas, áreas de preservação permanente e demais regiões onde a exploração comercial é proibida.
Empresas de fachada são montadas com facilidade para "esquentar" madeiras de origem ilegal. Lojas de autopeças, oficinas mecânicas, residências e terrenos baldios são utilizados no esquema. Em apenas um mês, entre fevereiro e março de 2009, a operação Caça Fantasmas, realizada por Ibama, Sema e Ministério Público, bloqueou mais de 100 dessas empresas em Belém e na região metropolitana.
As multas aplicadas na operação somavam, até o primeiro trimestre do ano, mais de R$ 100 milhões, enquanto a movimentação feita por essas empresas em 2008 ultrapassava R$ 250 milhões.
A corrupção de funcionários de órgãos de fiscalização permite que os dados sobre as áreas de exploração sejam alterados. Surgem declarações sobre madeireiros que não existem, espécies são substituídas e o volume de floresta real é aumentado. Aparecem créditos virtuais, que autorizam legalmente às empresas a derrubar um número maior que o permitido.
A madeira é retirada de lugares diferentes dos declarados, principalmente de áreas de preservação permanente, áreas embargadas e reservas indígenas. Caso não aconteça flagrante no momento e no local de corte, as empresas declaram que retiraram madeira dos locais onde possuem créditos.
Uma empresa compra um carregamento de madeira de outra, mas a única mercadoria entregue é o documento, onde estão definidos os valores, a quantidade e as espécies em trânsito. Caminhões carregados de madeira de outra origem transitam com um papel que garante a aparente legalidade da operação.
De toda a madeira retirada no Pará, estima-se que 10% fique no Brasil. Estados Unidos e União Européia são os grandes compradores de madeira amazônica e a Ch