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Estudo liga desmatamento da Amazônia à fabricação de calçados e produtos de higiene e beleza

<p> <i>Relat&oacute;rio do Greenpeace envolve grandes redes de supermercados e fabricantes de subprodutos de couro e glicerina; BNDES financia empresas que colaboram para derrubada da floresta</i></p>

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Atualizado: 

05/08/2011

Um relatório divulgado pela organização não-governamental Greenpeace hoje (1º) mostra que a devastação da floresta Amazônica está relacionada com a produção de produtos de higiene e beleza e com a fabricação de calçados.

O Idec já havia questionado as grandes redes varejistas sobre sua atuação na cadeia produtiva da carne no ano passado, numa pesquisa que entrou para a campanha Clima e Consumo. Na época, Carrefour, Pão de Açúcar e Wal Mart demonstraram saber muito pouco sobre a origem de sua carne.

Mais recentemente, o Instituto fez um levantamento similar com sete frigoríficos: quatro (Bertin, Cooperfrigu, JBS- Friboi e Marfrig) não responderam às perguntas e os que responderam (Independência, Frigol e MERCOSUL) não comprovaram a ausência de relacionamento com fornecedores em situação irregular social e ambientalmente.

Intitulado "A farra do boi na Amazônia", o estudo do Greenpeace mostra as conseqüências da cadeia devastadora da carne bovina, que é responsável por uma série de subprodutos como o couro e a glicerina, além do bife que vai para o prato dos consumidores.

Para chegar a essas conclusões, a ONG seguiu as pistas dos frigoríficos Bertin, JBS e Marfrig, três dos principais atores da derrubada da floresta para a implantação da pecuária. Com isso, descobriu que os três recebem gado de fazendas com histórico recente de derrubada ilegal da floresta e de uso de trabalho escravo.

O grande problema é que, além da carne propriamente dita, o gado processado nesses frigoríficos também gera subprodutos que vão parar em empresas como Adidas, Audi, BMW, Carrefour, Casino, Colgate Palmolive, Honda, Johnson & Johnson, Kraft, Marks & Spencer, Metro, Morrisons, Nike, Northern Foods, Sainsbury s, Tesco, Toyota, Unilever, VW e Wal-Mart. O Idec também irá comunicar as empresas do resultado da pesquisa para saber quais serão as medidas que cada uma delas pretende tomar.

"A devastação das florestas tropicais é responsável por aumentar em 20% as emissões de gases do efeito estufa, mais do que todo o setor de transportes de todo o planeta", afirma o relatório do Greenpeace, que enfatiza que parar com a devastação é fundamental para evitar mudanças climáticas catastróficas. Nesse cenário, o gado bovino na Amazônia é tido como o maior devastador do mundo, responsável por um em cada oito hectares destruídos no planeta.

Comércio internacional

Além de abordar a questão do comércio de carne, o relatório aponta diversos compradores de couro em outros países que, de certa forma, acabam sendo corresponsáveis pelo desflorestamento. O documento diz que na China, por exemplo, fabricantes de tênis usam o couro acabado de compradores instalados na Amazônia.

Já os Estados Unidos compram couro da região para a produção de utensílios e estofamento de automóveis. O couro segue ainda para a Itália, onde é usado na fabricação de produtos das grifes mais famosas do mundo.

No Brasil, três grandes redes de supermercados - Carrefour, Wal-Mart e rede Pão de Açúcar -, que controlam 40% do setor, compram carne fresca e processada de Bertin, JBS e Marfrig.

A Unilever, gigante da área de cosméticos e beleza, utiliza em muitos de seus produtos a glicerina, por exemplo, que deriva do gado amazônico. As empresas Colgate-Palmolive e Johnson & Johnson também foram listadas, pelo relatório do Greenpeace, como consumidoras dos subprodutos do gado amazônico vendidos pela Bertin.

E o pior, o governo é acionista das empresas que contribuem para a derrubada da Amazônia, diz a ONG. Entre 2007 e 2009, estas empresas - responsáveis por mais de 50% das exportações de carne do país- receberam US$ 2,65 bilhões do BNDES. O documento do Greenpeace defende o financiamento da proteção das florestas como forma de resolver o problema.

Outro lado

O Greenpeace enviou cartas para todas as empresas que de alguma maneira foram relacionadas, durante sua pesquisa, à cadeia do gado bovino na Amazônia. Elas foram questionadas sobre se possuem alguma política de mapeamento do impacto da obtenção de carne e/ou subprodutos do gado bovino; sobre quais passos a empresa toma para rastrear a fonte da matéria-prima que compra; e também sobre quais empresas lhes fornecem produtos ou matérias-primas derivadas do gado bovino.

Até a apresentação oficial do relatório, apenas três empresas haviam retornado o contato do Greenpeace: Wal Mart, Perdigão e Alcoa.

Compensação por danos

O Ministério Público Federal no Pará ajuizou 21 ações pedindo uma indenização total de R$ 2,1 bilhões de pecuaristas e frigoríficos que comercializaram animais criados em fazendas desmatadas ilegalmente. As ações se referem a diferentes áreas e visam reparar o suposto dano ambiental.

O órgão também recomendou a 69 empresas, que seriam clientes dos frigoríficos, que parem de comercializar com eles - a lista inclui as principais redes varejistas. Caso continuem como clientes, serão consideradas coautoras dos crimes ambientais e podem responder a processos. O Ministério Público quer ainda que elas passem a declarar, nos rótulos dos produtos vendidos, que eles foram feitos a partir de bois da Amazônia.

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