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Quanto vale um banco?

Se um banco comercial tem número significativo de clientes, agências capilarizadas pelo território de atuação, elevado capital mínimo, liquidez, boa lucratividade, bom provisionamento e passa por todos os chamados testes de estresse aos quais o Banco Central o submete, parece que todos os requisitos estão preenchidos para responder positivamente à pergunta-título.

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Atualizado: 

27/07/2017
Carlos Thadeu C. de Oliveira* e Mariana de Araújo Ferraz**
Se um banco comercial tem número significativo de clientes, agências capilarizadas pelo território de atuação, elevado capital mínimo, liquidez, boa lucratividade, bom provisionamento e passa por todos os chamados testes de estresse aos quais o Banco Central o submete, parece que todos os requisitos estão preenchidos para responder positivamente à pergunta-título.
 
Mas, cada vez mais, a responsabilidade socioambiental de um banco passa a contar também nesta avaliação. E não apenas para os agentes do mercado, mas para os consumidores que, na hora de escolherem seu banco, vão se preocupar não só com tarifas, serviços e localização das agências. Vão querer saber também se o banco viola leis e regulamentos e desrespeita o consumidor; se ele tem metas de melhoria no atendimento; se respeita seus funcionários diretos e terceirizados; se ele adota critérios socioambientais para emprestar e investir.
 
O Idec, em parceria com organizações de trabalhadores e ambientalistas, está dando novo impulso a essa vertente. Lançamos, em final de outubro último, o Guia de Bancos Responsáveis 2012 (www.gbr.org.br), segunda versão de uma extensa e complexa pesquisa também realizada em 2011, que pretende avaliar, sob a ótica da responsabilidade socioambiental, os principais seis bancos comerciais atuantes no Brasil (Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal, HSBC, Santander e Banco do Brasil). Nas pesquisas propriamente ditas, contamos com a colaboração da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira e da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro). Na elaboração da metodologia, tivemos a parceria do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos e Socioeconômicos), Observatório Social e CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades). O trabalho contou com o apoio da Oxfam Novib, uma organização holandesa com longa tradição nos estudos de responsabilidade social na Holanda e no mundo.
 
A pesquisa foi feita em várias frentes: questionários enviados aos bancos, pesquisas de campo sobre a prática bancária (testamos como o banco se relaciona com um cliente qualquer), questionários enviados aos representantes dos trabalhadores do ramo, estudos sobre a carteira de investimentos e financiamentos das instituições, levantamento dos produtos com apelo socioambiental e envolvimento dos bancos no financiamento de empreendimentos polêmicos.
Nesses dois anos, buscamos aperfeiçoar a metodologia, tentando tornar a avaliação a mais objetiva possível. Colhemos sugestões dos próprios bancos em relação ao método usado um ano antes, no sentido de aprimorá-lo. Ainda assim, recebemos várias críticas e algumas negativas, e reconhecemos que ainda há muito a melhorar.
 
Vale frisar que, apesar de discordarem de vários pontos, todos os seis bancos – bem como a entidade que os representa, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) – responderam e participaram da pesquisa, fornecendo a maior parte das informações solicitadas. Isso é importante: eles se submeteram às regras do jogo, mesmo discordando de algumas delas e do resultado final.
 
Por entender que esse é o início de um trabalho a ser ainda melhorado e mais difundido é que o Idec pretende continuar nesse tipo de avaliação. Cabe a nós, agora, incorporar mais fortemente no campo das investigações instrumentos já adotados pelas instituições financeiras, como os parâmetros do Global Reporting Initiative, seus próprios relatórios de sustentabilidade, seus balanços, os prospectos de oferta inicial de ações etc. Além de toda a gama de assuntos já investigados, inúmeros pontos merecem, portanto, a atenção dos consumidores: os fatores de risco declarados aos investidores nos papeis ofertados, o volume de debêntures emitidas (bem como os credores que as adquirem), a constituição e a participação em sociedades de propósito específico por parte das instituições investigadas, notícias veiculadas pela imprensa, enfim, todo tipo de informação já disponível e publicada que traz luz a um outro lado ainda pouco conhecido do público mais geral.
 
Acreditamos que, com isso, prestamos um grande serviço à sociedade e agregamos a necessária complexidade na avaliação de um setor que é dos mais importantes em qualquer economia, mas que ainda é pouco transparente, a não ser para especialistas.
 
Há similares ao Guia dos Bancos Responsáveis pelo mundo. Só na Holanda, o BankTrack e o Fair Bank Guide avaliam bancos holandeses e globais. Lá, tudo indica que as relações com o consumidor e com os trabalhadores já é bastante civilizada e corrigida rapidamente, quando há problemas. Por aqui, ainda há muito a fazer, a tirar pela posição de vice-liderança que o setor financeiro ocupa nas reclamações dos Procons de todo o país.
 
Por isso mesmo, uma entidade de defesa do consumidor pode ter essa inciativa aqui no Brasil. Traremos, tanto quanto possível, aos olhos do consumidor – e temos certeza que também os investidores e credores de bancos prestarão mais atenção – esse novo olhar sobre os bancos. Colocaremos na conta final do valor de um banco o quão transparente e responsável ele é.
 
 
* Gerente técnico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
**Advogada e pesquisadora do mesmo instituto