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14/07/2011
Atualizado:
13/10/2017
Mariana Ferraz
“Da mesma forma que Suécia e Dinamarca tem por base evitar que suas crianças de olhos azuis fiquem gordinhas, o Brasil tem por base acabar com a desnutrição dos nossos meninos moreninhos. Ao contrário dos Estados Unidos, aqui o Mc’Donalds não é vício, é aspiração.” “Cada vez mais crianças pedirão um brinquedo para o pai e este orgulhosamente dirá: Sim, eu posso!” - Trechos do parecer de Enio Basilo Rodrigues aprovado com unanimidade pelo Conar (Conselho Nacional de Autoregulamentaçao Publicitária) - Representação 085/11 (Leia a íntegra do parecer aqui).
Não foi trote no Twitter nem no Facebook, trata-se de parecer oficial do Conselho Nacional de Autoregulamentaçao Publicitária aprovado com unanimidade a respeito de denúncia sobre publicidade dirigida ao público infantil. Esses trechos são apenas algumas das pérolas de um parecer recheado de ironias, piadas e falta de seriedade acerca das técnicas de marketing que visam às crianças, que são na maioria das vezes associadas a alimentos não saudáveis.
O texto, que deveria ser um parecer técnico e fundamentado sobre denúncia encaminhada ao órgão, saiu completamente da esfera da formalidade e passou a registrar ofensas ao denunciante - o Instituto Alana - caracterizando-o como "bruxa", desmoralizando a atuação da organização, que tem trabalhado há mais de 10 anos de forma séria sobre a questão do consumismo e publicidade abusiva direcionada ao público infantil.
A denúncia apontava propaganda de rede de fast food dirigida a crianças menores de 12 anos que oferecia brinquedos como brindes. De acordo com a denúncia, a publicidade infringia o Código de Autorregulamentação Publicitária, o próprio código de ética da empresa e o acordo de autorregulamentação firmado junto à Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) e à ABA (Associação Brasileiras dos Anunciantes), em 2010.
A venda de alimentos com brinquedos é alvo de críticas em todo o mundo. O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) entende que a publicidade direcionada ao público infantil é por si abusiva, pois se aproveita da inocência e falta de experiência próprias da criança para incitar o consumismo. Técnicas de marketing como a associação de produtos à brindes ou à personagens de desenho animado, apelam para uma comunicação direta com a criança, e o que é mais grave, na maioria das vezes está associada ao consumo de alimentos não saudáveis.
De acordo com o Ministério da Saúde, 30% das crianças brasileiras estão com sobrepeso e 15% já estão obesas. Vale também relembrar que metade da população brasileira adulta está acima do peso. Entre os 20% mais ricos, o excesso de peso chega a 61,8% na população de mais de 20 anos. Também nesse grupo se concentra o maior percentual de obesos: 16,9%. Dados esses que de certo passam longe do conhecimento do Conar.
Com efeito, o Conar presenteou a sociedade civil com um atestado de seu despreparo e falta de seriedade para lidar com o tema. Certamente esse não é o fórum apropriado para tratar de importantes questões tal qual a vulnerabilidade infantil diante das estratégias de marketing e seus impactos na saúde dos brasileiros.