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O apagão de agosto e os "especialistas" de sempre

Mais uma vez vemos movimentação de diversos grupos de influência querendo utilizar o blecaute como forma de justificar a intensificação de uso de térmicas com combustível fóssil na base do sistema de geração elétrica

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Atualizado: 

17/08/2023
Anton Schwyter, consultor do Programa de Energia

O país foi surpreendido em 15/08/2023 por um blecaute de energia elétrica de grandes proporções, que atingiu todas as regiões. Em maior ou menor grau, praticamente todos os estados (à exceção de Roraima, que não faz parte do Sistema Interligado) foram afetados. Vários estados do Norte e Nordeste tiveram seu suprimento de energia restabelecido somente no final do dia.

Blecautes como esse ocorrem com certa frequência no mundo todo, e ainda mais em sistemas com as dimensões do brasileiro. Em março de 2018, uma queda de energia afetou todos os estados do Nordeste, além de Tocantins e Pará. Em 2012, um problema em uma hidrelétrica de Minas Gerais deixou sem energia São Paulo e Rio de Janeiro, além de Minas Gerais. E um dos maiores ocorreu em 2009, quando problemas na linha de transmissão de Itaipu levou um blecaute a 18 estados, afetando inclusive o Paraguai.

Dessa vez, além do apagão propriamente dito, a surpresa também vem na forma da falta de informações completas quanto às causas do blecaute. Aparentemente, houve algum tipo de falha operacional ou de equipamento, o que levou a um efeito cascata em todo o território nacional. Essa surpresa é maior pois o Sistema Interligado é monitorado minuto a minuto, e os órgãos e empresas que administram o sistema estão integrados. Portanto causa estranheza a demora no diagnóstico do que efetivamente aconteceu. Esse diagnóstico, por sua vez, também é importante para que se possam aprimorar cada vez mais os mecanismos preventivos relativos à novos blecautes.

Por fim, mas não de forma surpreendente, a falta de informações leva ao início de uma discussão que retorna a cada momento como esse, referente ao papel mais inclusivo de térmicas que utilizam combustíveis fósseis. É praticamente consenso que o setor de energia elétrica no Brasil precisa passar por uma extensa reforma e rearranjo institucional, que envolvem a governança, a comercialização de energia, a contratação da geração de energia e subsídios e encargos tarifários. Mas novamente, vemos movimentação de diversos grupos de influência querendo utilizar o blecaute como forma de justificar a intensificação de uso de térmicas com combustível fóssil na base do sistema de geração elétrica. É uma forma muito rasa de tratar o assunto, até porque o problema não se originou na falta de geração de energia para atendimento do consumo, mas no sistema transmissão da energia já gerada. 

Como resultados desses grupos de pressão e seus "especialistas", temos como resultado a inclusão na lei de privatização da Eletrobras das chamadas “térmicas jabutis”, térmicas a gás natural com características de operarem como base do sistema de geração. Operação como base significa que deverão funcionar quase todo o tempo, se colocando necessariamente no lugar da geração de outras fontes renováveis, como hidrelétricas, eólicas e solar, por exemplo. E o efeito para o consumidor será ter uma energia mais cara (por se utilizar de combustível fóssil), suja (por emitir enormes quantidades de gás de efeito estufa), e tornando a conta de energia ainda mais difícil de ser paga pelo consumidor.

É uma pena que no momento em que deveríamos estar discutindo maneiras de tornar nosso sistema elétrico mais seguro e imune a falhas técnicas, estamos assistindo novamente a defesa de interesse de grupos específicos que não representam o interesse do consumidor. 

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