Sobre a pergunta levantada lá em cima, sabemos que a origem das manifestações culturais é muito anterior à apropriação da indústria de ultraprocessados.
Afinal, os costumes de um povo são questões ancestrais, transmitidas de geração em geração.
Por exemplo, já está estabelecido que na festa junina se consome pipoca e milho cozido.
Ou que em algumas regiões, é comum oferecer frutas como bananas, laranjas e goiabas em saquinhos de doces distribuídos no dia de Cosme e Damião, uma opção mais saudável e acessível.
Atualmente tem ficado cada vez mais comum que a rotina alimentar das crianças contenha bebidas açucaradas e adoçadas artificialmente (bebidas industrializadas de caixinha e refrigerante, por exemplo), salgadinhos de pacote, biscoitos doces ou salgados, guloseimas (bala, pirulito e outras), pães e bolos ultraprocessados, farinhas instantâneas, carnes ultraprocessadas (empanados, salsicha) e macarrão instantâneo.
E tudo isso chegou a este ponto porque a publicidade, especialmente aquela direcionada para o público infantil, da indústria de ultraprocessados, utiliza o apelo emocional para intensificar suas estratégias de marketing, oferecendo produtos ricos em açúcar e gorduras, substituindo receitas tradicionais por alternativas ultraprocessadas.
Este mês, tivemos o Dia das Crianças, e nesta data, por exemplo, a indústria de ultraprocessados lança no mercado campanhas associando seus produtos a momentos de felicidade, brincadeira e recompensa.
Essa tática cria uma conexão emocional que favorece o consumo e a lealdade à marca desde cedo. Além disso, essas estratégias afetam a percepção infantil sobre alimentação saudável e cultura alimentar, tornando os alimentos naturais e tradicionais menos atraentes.
O mesmo ocorre no Halloween, uma data originalmente marcada por doces caseiros e celebrações comunitárias, mas que, nos últimos anos, foi transformada em uma oportunidade para promover balas, chocolates e outros produtos ultraprocessados carregados de açúcar adicionado.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a exposição precoce a ultraprocessados, produtos com excesso de sódio, açúcares e gorduras, além da presença de aditivos alimentares, pode aumentar o risco de problemas à saúde infantil.
Segundo Mariana Kraemer, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições da Universidade Federal de Santa Catarina (NUPPRE/UFSC), os aditivos alimentares são adicionados nos produtos ultraprocessados para conservar, colorir, melhorar a textura, melhorar o sabor, entre outras funções.
Entre esses aditivos nós temos os edulcorantes (popularmente conhecidos como adoçantes). Você sabia que alguns produtos que contém açúcares também podem conter edulcorantes em sua composição? O consumo deste aditivo pode promover alterações na microbiota intestinal, desregulação metabólica e ganho de peso.
Vale ressaltar que o peso corporal é a referência para considerar um aditivo como seguro para consumo humano.
Como as crianças apresentam peso corporal proporcionalmente menor do que os adultos, os aditivos podem ser prejudiciais para elas.
Por isso, muita atenção à lista de ingredientes presente nos rótulos dos produtos industrializados, principalmente os ultraprocessados, pois eles são as principais fontes de aditivos na alimentação.
E aproveite o lazer com as crianças, familiares e amigos para colocar a mão na massa, criando conexões, diversão e boas lembranças na cozinha.
A prática de cozinhar traz benefícios ao ensinar sobre a história dos alimentos in natura, ajuda a fortalecer os vínculos familiares e preserva tradições culinárias que atravessam gerações.
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