O ato de tomar um chá parece uma atividade tão natural, não é mesmo?
Antes de ser uma bebida reconfortante nas noites frias ou uma solução caseira para mal-estares do dia a dia, o chá foi, e ainda é, um símbolo de cultura, espiritualidade e convivência em diferentes partes do mundo.
Historicamente, contam que o início das folhas imersas em água quente aconteceu na China, há mais de 4 mil anos, quando, por acaso, folhas da planta Camellia sinensis caíram dentro da água fervente do imperador Shen Nong.
Fascinado com o aroma e o sabor da infusão, ele teria começado a utilizá-la, não apenas como remédio, mas como parte de um hábito diário.
É importante uma pausa nessa evolução para dizer que, por definição técnica, o chá é a bebida derivada do aquecimento da planta Camellia sinensis, que é popularmente conhecida pelas suas variedades: chá verde, chá preto, chá branco (que derivam da mesma planta mas com tempo de processamento e oxidação diferentes).
As bebidas de boldo, camomila e outras tantas ervas e plantas são consideradas uma infusão.
Quando falamos chá, também estamos falando de infusão.
A partir dessa descoberta, o chá se expandiu pelas rotas comerciais da Ásia, chegou ao Japão, onde passou a integrar cerimônias ligadas ao budismo, e alcançou o Ocidente pelas grandes navegações da Europa.
Na Inglaterra, ele foi incorporado ao cotidiano com o famoso "chá das cinco", mas também associado à sofisticação e à etiqueta.
No Marrocos, beber chá de hortelã é sinal de hospitalidade e respeito.
Na Rússia, o samovar (espécie de chaleira) aquece não só a água, mas o ambiente familiar.
Já no Brasil, é de prática coletiva chamar de chá qualquer infusão feita com folhas, flores, cascas ou raízes de plantas medicinais.
As populações indígenas - tanto em território brasileiro quanto em outros espaços na América Latina - detém um conhecimento que vem da floresta e já realizavam infusões com ervas, raízes e cascas para tratar enfermidades, fortalecer o corpo e realizar rituais espirituais.
E é justamente essa diversidade de plantas e saberes que fez do chá um elemento popular nos lares de Norte a Sul do país.
É o chá de erva-cidreira para acalmar, o de boldo para digestão, o de gengibre para gripe e o de camomila para insônia.
Ervas como a capeba, o pariri, a raiz de chicória, a andiroba, entre milhares de outras espécies são utilizadas em receitas para curar diversos males. São conhecimentos ancestrais, passados oralmente de geração para geração.
Esses chás não são apenas remédios, mas representam uma cosmovisão: a crença de que a natureza oferece o necessário para o bem viver, desde que se saiba escutar, colher e usar com respeito.
“Vou ali fazer um chá”
Dando um salto no tempo, o chá segue sendo uma das formas mais acessíveis e imediatas de cuidado.
Quando se diz “vou fazer um chá”, está se criando um espaço de pausa. Ferver a água, escolher a erva, esperar o tempo certo de infusão — tudo isso obriga a desacelerar.
Não é à toa que o chá aparece como primeiro gesto diante de alguém doente, angustiado ou cansado. Ele acolhe sem exigir nada em troca. É, ao mesmo tempo, calor físico e conforto simbólico.
Na zona rural, os chás ainda têm forte ligação com a sabedoria popular e com a terra. É comum que moradores tenham nas hortas plantas medicinais, como erva-doce, poejo, alfazema, arruda, guaco e tantas outras.
Já nos centros urbanos, mesmo quem não tem quintal consegue encontrar em mercados e feiras as plantas secas, empacotadas em saquinhos ou vendidas a granel, mantendo vivo esse elo com o saber tradicional.
Afinal, essas são as fontes mais seguras para o acesso in natura das ervas e plantas para chás.
Mas na hora de escolher o seu chá, é importante ter atenção quanto a sua composição. Tem muito sachê de chá por aí que tem aditivos alimentares, como edulcorantes (o que popularmente conhecemos como adoçantes), aromatizantes e corantes…
… além de não serem a melhor versão de consumo. Por isso, sempre leia a lista de ingredientes e prefira aqueles que contenham apenas folhas, flores e frutas.
Preparar um chá pode parecer um gesto pequeno.
Mas é nesse pequeno gesto que mora uma grande sabedoria: a de aquecer, oferecer e reunir.
O chá, com seu vapor perfumado e suas folhas amolecidas, ensina que cuidar é, antes de tudo, estar presente. E que mesmo em silêncio, é possível dizer muito com uma xícara nas mãos.
Se esse conteúdo te agradou e você tem interesse em entender melhor o que são plantas medicinais, confira esse conteúdo que preparamos. Ao final, tem a lista das espécies com propriedades reconhecidas no Mapa de Evidências de Efetividade Clínica das Plantas Medicinais Brasileiras.
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