Já tivemos a oportunidade de usar a expressão ‘sistemas alimentares’ em outras edições. Ela não é completamente nova e torcemos que seja mais constante, inclusive.
Quando usamos a expressão ‘sistemas alimentares’ estamos falando de todos os processos relacionados à alimentação - desde a produção, o processamento e a distribuição de um alimento, até sua preparação e consumo.
Entendido isso, hoje, nosso objetivo é apresentar os biomas brasileiros e mostrar porque cada ecossistema que existe no nosso país é importante quando falamos de alimentação e claro, como se relacionam com as nossas culturas alimentares.
Aliás, a continuidade deste assunto será falar sobre como as mudanças climáticas estão afetando os biomas e a alimentação, por isso, não perca nenhuma edição do Tá na Mesa.
Nosso território é tão grande e diverso que ao mapear o aspecto geológico, territorial e da fauna e da flora, foram constatados seis biomas brasileiros:
- Amazônia
- Caatinga
- Cerrado
- Mata Atlântica
- Pantanal
- Pampas
Para além do que culturalmente povos e tradições incutiram na forma de comer e na criação de pratos locais, cada um deles, note, é feito com ingredientes locais.
Ou seja, é o que se cultiva naturalmente em determinado território que orienta a construção de receitas. Confira:
Amazônia
Pirarucu com castanhas e tucupi: o pirarucu, um dos maiores peixes de água doce do mundo, é preparado com castanhas-do-Brasil, que adicionam crocância e sabor, e o tucupi, um caldo amarelo extraído da mandioca brava, que confere um toque ácido e único ao prato. Ervas locais, como a alfavaca e cipó-alho são utilizadas para temperar e dar sabor a esse e outros preparos.
Creme de cupuaçu: essa fruta nativa da Amazônia é base para um monte de preparos: creme, sorvete, pudim, cocada e até bolo.
Caatinga
Caruru: é um refogado que leva a palma, planta tradicional da caatinga, com amendoim, azeite de dendê, leite de coco e cebola. Simples de fazer é uma receita certa nas festas juninas e na rotina alimentar no Nordeste.
Doce de umbu: o umbu pode ser utilizado para a fabricação de doces, geleias, sucos, picolés, sorvetes, compotas e na tradicional umbuzada. Ele também serve de alimento para animais silvestres.
Cerrado
Galinhada com pequi e guariroba (Syagrus oleracea): A galinhada, um prato tradicional do Cerrado, ganha um toque especial com a adição de pequi, uma fruta com sabor e aroma marcantes, e guariroba, um palmito amargo e fibroso, que adiciona textura e sabor ao prato.
Bolo de mandioca com baru: o baru é uma castanha nativa do Cerrado, que vai bem no bolo de mandioca, mas também costuma ser utilizado em pães caseiros, biscoitos e por lá fazem também arroz com baru.
Mata Atlântica
Moqueca de cambuci: não é a versão mais famosa de moqueca, mas com certeza é uma opção muito ancestral.O cambuci, uma fruta nativa da Mata Atlântica, é utilizado para preparar uma moqueca saborosa e aromática, que destaca o sabor ácido e adocicado da fruta.
Escondidinho de pupunha: a pupunha, um fruto da palmeira nativa da Mata Atlântica, é utilizada para preparar um escondidinho cremoso e saboroso, que destaca o sabor adocicado do legume.
Pampa
Arroz de pinhão: o pinhão, a semente do pinheiro-do-paraná, é um ingrediente tradicional da culinária do Pampa, vai bem em diversos preparos, como bolo, vinagrete e farofa de pinhão.
Chimarrão: não poderíamos deixar de citar essa bebida típica feita da erva-mate, muito cultivada no Sul. O hábito indígena se perpetuou até os dias atuais e existem até regras para consumí-lo.
Pantanal
Vitamina de bocaiúva: essa é uma pedida certa! Já ganhou prêmio como a melhor sobremesa do Pantanal. E da bocaiúva também saem brigadeiros, bolos, pães, entre outras delícias!
Rapadura de jaracatiá: essa fruta é bastante utilizada por indígenas do Pantanal em preparos adocicados. Ela lembra o mamão, e a partir da polpa alaranjada, é possível preparar uma rapadura que acaba sendo consumida em forma de sobremesa em geleias e compotas ou como forma de adoçar outros pratos
Esses são só alguns exemplos de preparos nem sempre convencionais mas certamente muito originários e locais.
Fizeram ou fazem parte em algum momento da história alimentar e precisam ser perpetuados para que a gente não caia na mesmice dos mesmos preparos, de cultivos apenas de uma quantidade limitada de frutas, legumes e verduras.
Cada alimento que chega ao nosso prato tem uma história.
Saber de onde ele vem, como foi produzido e qual impacto gera é um ato de consciência e ativismo.
Pequenos produtores enfrentam desafios como falta de incentivos, dificuldades logísticas e baixa demanda.
Quando escolhemos consumir esses alimentos, contribuímos para equilibrar o sistema produtivo, reduzir a dependência de grandes indústrias e promover um modelo de produção mais sustentável.
Alimentos nativos e diversificados podem enriquecer a alimentação e diminuir a monocultura, que degrada o solo e afeta tanto a biodiversidade.
Precisamos enxergar a comida além do que está na prateleira: sua origem, seu impacto e sua importância para o futuro da alimentação.
Para compreender melhor as características de cada bioma e alguns dos alimentos nativos de cada um deles, leia mais sobre isso aqui.
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