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Posicionamento do Idec sobre falta de luz, água e cancelamento de voos após ciclone

A culpa não é do vento nem da chuva, é da falta de preparo e de escolhas que privilegiaram lucro sobre vidas

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Atualizado: 

12/12/2025

Após a passagem de um ciclone extratropical, milhares de famílias brasileiras estão sem água e luz, assim como incontáveis pessoas sofreram com atraso e cancelamento de voos. O Idec entende que isso é resultado de estruturas — de políticas públicas, modelos de produção e de prestação de serviços — que não estavam preparadas para eventos climáticos. Não se trata de culpar a natureza, mas de responsabilizar quem tem poder para reduzir riscos, investir em resiliência e proteger a vida das pessoas. 

>>> Está sem água, luz, seu voo atrasou ou foi cancelado? Veja aqui dicas práticas para exigir seus direitos!

Por que isso acontece?

As mudanças climáticas — decorrentes do modo como nossa sociedade produz, consome e organiza o território — aumentam a frequência e a intensidade de eventos extremos (ventos fortes, tempestades, inundações). Esses impactos expõem a fragilidade de infraestruturas concebidas para outro clima e para outro modelo de desenvolvimento: linhas de transmissão sem proteção adequada, redes de distribuição envelhecidas, gestão urbana que ocupa várzeas e degradação de ecossistemas que amortecem impactos. A responsabilidade é coletiva, mas desigual: quem mais contribui para o modelo que aquece o planeta costuma ser o que menos sofre seus efeitos; quem sofre mais quase nunca é quem lucra com essa ordem - as populações racializadas, periféricas, dos campos e das florestas.

Setores precisam se repensar — e não é o que vemos

Empresas e setores (energia, saneamento, aviação, grandes projetos de infraestrutura) precisam não só garantir assistência imediata e informação clara à população durante eventos extremos, mas também incorporar, de forma séria, os riscos socioambientais e climáticos em seus planejamentos, investimentos e práticas operacionais. No caos que vimos na aviação em episódios recentes, a resposta empresarial tem priorizado minimizar custos — e nem sempre garantir assistência material e informação adequada aos consumidores. Ainda quando o evento é de força maior (vento, temporal), a obrigação das empresas permanece - prestar assistência e conceder informação com clareza - e precisa vir acompanhada de compromissos reais para enfrentar as crises que já fazem parte da nossa realidade.

Energia: falta preparo e investimento

No setor elétrico, o problema é claro: há insuficiência de investimentos e de políticas que tornem a malha de transmissão e distribuição resiliente a eventos extremos. Redes subterrâneas, reforço de postes, poda preventiva e planos de contingência custam, mas evitam danos maiores. Além disso, a política atual de ressarcimentos e incentivos aplicada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) precisa ser mais eficaz para estimular obras e medidas de gestão que reduzam interrupções e prejuízos aos consumidores. A Aneel já vem ampliando direitos em situações de emergência, mas ainda é preciso mais ação preventiva e fiscalização.

Nesse cenário, a falta de água, que também atinge diversas residências, está ligada aos problemas elétricos e à falta de infraestrutura do setor de saneamento, que depende parcialmente da energia elétrica e carece de medidas de contingência para lidar com os efeitos climáticos.

O que o Idec exige — propostas mínimas e imediatas

  1. Investimentos emergenciais e de longo prazo na malha de transmissão e distribuição (revisão de prioridades de regulação e de investimentos).
     
  2. Revisão das regras de incentivo e de ressarcimento pela Aneel para que compensações sejam efetivas e estimulem mitigação de riscos; fiscalização rigorosa das distribuidoras.
     
  3. Obrigatoriedade de planos de contingência e de assistência por parte de empresas diante de eventos extremos, com obrigação de informar continuamente consumidores e prestar assistência material.
     
  4. Políticas públicas de redução de vulnerabilidade (gestão de bacias, áreas verdes, planejamento urbano), porque adaptação e mitigação são complementares — investir em resiliência é proteger vidas. 

Não estamos diante de um problema “natural” sem responsáveis. A ventania expôs escolhas políticas e empresariais — de investimento, regulação e prioridade — que deixaram milhões sem serviços essenciais. O Idec exige respostas imediatas para garantir assistência, informação e reparação às pessoas atingidas, e mudanças estruturais para que esses episódios não se repitam. Enquanto isso, orientamos consumidores a documentar, reclamar e recorrer aos órgãos de defesa para exigir seus direitos.