separador
Atualizado:
A ferramenta lançada neste mês de junho pela rede de supermercados Carrefour para ajudar o consumidor a escolher produtos alimentícios mais saudáveis é inadequada para o Brasil, pois, desconsidera as recomendações de alimentação saudável no contexto brasileiro. A avaliação foi feita pela equipe técnica do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), que se reuniu com representantes da rede de supermercados antes do lançamento do aplicativo, chamado Nutriescolha, para apresentar suas críticas.
"Apresentamos nossas críticas quanto à abordagem de perfil de nutrientes e o desalinhamento com o Guia Alimentar Brasileiro e reforçamos que o Instituto não apoia nem faz parcerias com iniciativas do setor produtivo que não promovam a alimentação adequada e saudável. Portanto, qualquer menção de apoio ou endosso do Idec a essa iniciativa é falsa", declara a coordenadora do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Instituto, Janine Coutinho.
Durante a reunião com representantes do Carrefour, o Idec elencou os motivos pelos quais não endossa o uso do modelo Nutri-Score, que é a base do Nutriescolha e foi descartado na análise de impacto regulatório realizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para ser adotado na rotulagem de alimentos no Brasil. Veja abaixo alguns dos motivos:
1 - Com o uso do Nutriescolha, o consumidor fica sem informação sobre a “razão de o alimento ser considerado uma alternativa mais saudável ou possuir determinado ranqueamento”, visto que o escore utilizado para o cálculo da nota de A a E não é de fácil compreensão e exige informações que não estão disponíveis nos rótulos dos alimentos, como, por exemplo, a quantidade de frutas e hortaliças do produto;
2- O cálculo do algoritmo que define a graduação do alimento é complexo do ponto de vista prático, exige informações que não são transparentes para o consumidor (como, por exemplo, a quantidade de frutas do produto) e não apresenta respaldo científico para a pontuação fornecida a cada nutriente;
3 - O aplicativo usa uma abordagem para classificação de alimentos que não está alinhada com as recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira.
A Anvisa publicou em outubro de 2020 a Norma de Rotulagem Frontal. Em 8 de outubro, o Idec publicou um posicionamento explicitando suas preocupações com a normativa. Por isso, continua a realizar estudos para cada vez mais melhorar a Norma. O Instituto defende o modelo de perfil de nutrientes da OPAS (Organização Pan-americana da Saúde), que é mais adequado para identificação dos produtos não saudáveis e tem respaldo científico.
"Recomendamos ao consumidor que siga as orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira quando for buscar informações para fazer escolhas mais saudáveis. E, caso venha a utilizar o aplicativo, fique atento a produtos que possuem pontuações mais altas mas que ainda são considerados produtos ultraprocessados, que não são recomendados como parte de uma alimentação adequada e saudável", explica a coordenadora do programa de Alimentação do Idec. Ela cita o exemplo de um pão de forma, que pode receber uma pontuação maior por ter adição de cereais integrais, porém, não necessariamente é a escolha mais saudável. "A pontuação mais alta pode esconder, por exemplo, a presença de alto teor de sódio ou a presença de gordura trans no produto", completa.
Por fim, o Idec reforça que não apoia nem faz parcerias com iniciativas do setor produtivo que não promovam a alimentação adequada e saudável. Qualquer menção de apoio ou endosso do Instituto a essa iniciativa, portanto, é falsa.