Segundo relatório, um terço da carne consumida no país não passa por inspeção
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10/04/2013
Atualizado:
17/04/2013
A Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) Amigos da Terra – Amazônia Brasileira realizou, ao longo de oito meses, uma pesquisa inédita sobre o abate bovino no País, e constatou que um terço da carne que chega à mesa do brasileiro não passa por inspeção. O trabalho foi lançado pela organização na Câmara dos Deputados, na última terça-feira, dia 9.
A pesquisa sobre as cadeias pecuárias, iniciada em 2007, concentra-se nos empreendimentos industriais com inspeção municipal e estadual (essa etapa não analisa o chamado abate clandestino). Uma ampla amostra — em estados responsáveis por mais de 60% do rebanho nacional — aponta que em aproximadamente 80% dos empreendimentos nem sequer ocorre inspeção sanitária. E não é o único problema: muitas vezes a irregularidade se soma ao desrespeito ao meio ambiente, aos direitos trabalhistas, ao bem-estar animal e à falta de rastreabilidade e origem do produto. Diante desse cenário crítico, a Amigos da Terra apelou ao Congresso em prol de um sistema único de inspeção.
A pesquisa mostrou outro problema: a existência de quatro padrões sanitários diferentes no Brasil. Não leva em conta que o risco para os consumidores é o mesmo, independentemente de onde a carne é consumida. O padrão mais exigente é o das carnes exportadas, seguida das carnes submetidas à inspeção federal — chamada de SIF, que podem circular no território nacional. Depois vêm carnes submetidas à inspeção estadual — as SIE, que podem circular dentro do estado; e finalmente as que são objeto de inspeção municipal (SIM), cujo trânsito é permitido somente dentro do município.
O relatório evidencia ainda a omissão de veterinários, que assinam certificados sem estarem presentes no momento do abate, permitindo que a carne circule sem ser considerada clandestina. O relatório completo pode ser acessado em PDF ou no formato de vídeo nos sites www.amazonia.org.br e www.eco-financas.org.br.
Campanha Carne Legal
Desde 2009, o Idec apoia a campanha Carne Legal, em parceria com a ONG (Organização Não-Governamental) Repórter Brasil. O objetivo da mobilização, que foi lançada pelo Ministério Público Federal, em Belém (PA), é o consumo consciente de produtos bovinos e alertar sobre os problemas ambientais, trabalhistas e fundiários associados à criação de gado no Brasil.
A campanha destaca a importância de cobrar informações sobre a origem da carne comprada nos supermercados, estimulando o consumidor a pressionar supermercados e instituições governamentais, para garantir que a carne comercializada não esteja ligada a nenhuma ilegalidade.
O site da campanha detalha os compromissos e tem uma lista das empresas que ainda não se comprometeram a evitar produtos ou subprodutos bovinos cuja origem seja suspeita. Acesse o site aqui.
Essa mobilização contribuiu para a assinatura, em março, de um termo de cooperação entre MPF (Ministério Público Federal) e Abras (Associação Brasileira de Supermercados), para evitar que supermercados comprem carne bovina proveniente de áreas de desmatamento. O Idec considerou a medida uma vitória por garantir que o consumidor conheça a origem do que está consumindo. Leia mais aqui.