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Os números alarmantes de casos de contaminação pela nova gripe (transmitida pelo vírus A H1N1), inicialmente em outros países e agora também no Brasil, vêm provocando mudanças no comportamento da população e das empresas. Até as relações de consumo têm sofrido alterações desde que os primeiros casos foram diagnosticados.
No fim de abril, quando os primeiros casos da chamada gripe suína foram registrados e seus efeitos nos seres humanos eram desconhecidos, uma viagem ao México, por exemplo, não era recomendável. O consumidor que havia comprado uma passagem aérea ou um pacote de viagem para um destino de risco poderia cancelar a viagem. Nesse caso, além de receber os valores pagos antecipadamente de volta, também não estaria sujeito a multas por cancelamento ou adiamento, como ocorre em outras circunstâncias.
Quatro meses depois, com um quadro de pandemia instalado, não existem mais "destinos de risco". Além disso, verificou-se que a doença não é tão grave quanto se imaginava. Mas a dúvida para quem vai viajar em breve permanece: será que os direitos continuam sendo os mesmo?
Para o assessor jurídico do Idec, Marcos Diegues, se as passagens aéreas ou o pacote foram adquiridos antes do surgimento do vírus H1N1, o consumidor ainda tem direito de receber os valores pagos antecipadamente e continua isento de qualquer tipo de multa.
"O grande motivo para o cancelamento da viagem é a gripe suína. A situação mudou, sim, em relação há alguns meses, mas o consumidor continua a ter direito de desistir. Ele pode, por exemplo, optar por não correr o risco de passar por problemas fora de seu país", afirmou Diegues.
Quais os riscos reais?
As estatísticas com novos casos da doença não param de aumentar. Até a última semana, 56 pessoas haviam morrido por causa da nova gripe no Brasil. No mundo, foram 816 vítimas fatais. Há projeções indicando que a doença possa atingir 67 milhões de pessoas no país (o equivalente a um terço da população) em dois meses. Apesar de altos, especialistas recomendam cautela na análise dos números.
Para o infectologista Jacy Pasternak, do Hospital Albert Einstein, o número de mortes é baixo comparado ao número de pessoas contaminadas. "O índice de letalidade da nova gripe é baixo. Sem contar que muita gente que está com o novo vírus não tem entrado nas estatísticas."
Além disso, o H1N1 mata menos, em termos absolutos, que doenças como dengue, diarreia e a própria gripe comum, o que não quer dizer que não existam motivos para preocupação. "O vírus da gripe comum muda constantemente. Mas o desta nova gripe apresenta uma recombinação totalmente diferente. Então, como é um vírus novo e pouco conhecido, algumas medidas devem ser tomadas", disse Fábio Leal, infectologista da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
A principal diferença da nova gripe para a comum é o tipo de vítima. A gripe suína tem atingido indivíduos normalmente resistentes à gripe convencional, como os jovens. "A resposta imunológica das pessoas não têm sido tão boa quanto a resposta ao vírus comum", destacou Leal.
Segundo estudos publicados no mês passado pela revista Science, o H1N1 se replica com mais facilidade nas regiões próximas aos pulmões, podendo infectar o órgão, enquanto o vírus da gripe sazonal costuma permanecer no início do trato respiratório, até a traqueia. O novo vírus também causa quadros ligeiramente mais graves que os da gripe convencional. Por isso, em vez de pânico, recomenda-se muita atenção.