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Imagem: Hxdyl/iStock Photos
Artigo publicado originalmente em O Globo
No ranking da Fifa, o Brasil está em terceiro lugar, enquanto o México ocupa a 18ª posição. Em se tratando de eficiência energética, porém, perdemos feio. É verdade que finalmente entraram em vigor os novos índices para os aparelhos de ar condicionado, aprovados desde agosto do ano passado. Uma vitória que merece ser comemorada, mas ainda estamos bem atrás na tabela. Uma pesquisa feita pela empresa de consultoria Mitsidi Projetos, em parceria com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), revela que se adotássemos o padrão mexicano, de 695 equipamentos que aqui ganham etiqueta A, apenas 19 ganhariam a mesma classificação por lá.
Investir em eficiência energética é a melhor tática para economizar energia — e dinheiro — e ajudar o país a cumprir as metas do Acordo de Paris. Mas os níveis mínimos exigidos no Brasil para condicionadores de ar, mesmo com a atualização, perdem de goleada para os de países como China, Paquistão, Vietnã e Arábia Saudita. A International Energy Initiative (IEI Brasil) comparou equipamentos brasileiros à venda em 2015 com sul-coreanos e japoneses. Se os daqui fossem tão eficientes quanto os daqueles países, a eletricidade economizada por ano evitaria a necessidade de se construir até quatro usinas termelétricas. Essa economia também impactaria na quantidade de emissões de gases de efeito estufa: no período de um ano, as emissões evitadas seriam o equivalente a tirar de circulação todos os seis milhões de automóveis da cidade de São Paulo por uma semana.
Estima-se que o gasto de energia elétrica por condicionadores de ar no setor residencial tenha aumentado cerca de 237% nos últimos 12 anos, enquanto o total teve um crescimento de 61%. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo devido ao uso de condicionadores de ar triplicou em 12 anos. A Agência Internacional de Energia (IEA) e a EPE recomendam que se estabeleça uma atualização periódica dos padrões mínimos de eficiência energética para os equipamentos de ar condicionado. Os agora adotados no Brasil são apenas 16% superiores aos que vigoravam desde 2011. Se quisermos subir na tabela, é preciso jogar no ataque.
O Instituto Clima e Sociedade (iCS) e o Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), em parceria com o IEI Brasil, desenvolveram um estudo com o objetivo de contribuir para a adoção de uma política de eficiência energética mais efetiva para o país. O trabalho demonstrou ser possível e rentável para consumidores e fabricantes ter um padrão mínimo de eficiência energética 85% superior ao que vigorava desde 2011. Considerando esse cenário que adota a melhor tecnologia disponível no mercado, de 2021 a 2035 a economia chegaria a R$ 27 bilhões na conta de luz dos consumidores brasileiros; a 16 TWh em eletricidade por ano; a 4,5 GW de demanda evitada no setor elétrico de aproximadamente R$ 30 bilhões; e à redução nas emissões de 60 milhões de toneladas de CO2. Para avançar, é preciso que o consumidor vista a camisa e faça pressão — até porque ninguém gosta quando a Aneel levanta a bandeira amarela.
Clauber Leite é especialista em energia e sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor