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O desafio da pauta da obesidade
Falar de obesidade e da sua relação com a saúde é uma tarefa difícil para comunicadores. O assunto é de grande interesse público, já que o excesso de peso e doenças relacionadas são uma das maiores questões de saúde pública do planeta. No entanto, na imprensa, a obesidade costuma ser tratada de maneira superficial, culpando as pessoas devido ao foco em emagrecimento e estética. O problema é direcionado para o indivíduo, dando a entender que com força de vontade é possível vencer a obesidade. Ao mesmo tempo, ações de saúde pública têm pouca exposição.
Contudo, o enfrentamento à obesidade não é tão simples quanto a tradicional fórmula dieta + exercício. A cada ano, novos métodos se empilham aos antigos com promessas de perda de peso rápida e eficaz. Há produtos alimentícios, livros, aplicativos, complementos, suplementos, medicamentos e outros itens à disposição para facilitar o emagrecimento, sem qualquer resultado significativo em termos populacionais.
Isso acontece porque dietas restritivas não funcionam para a maioria das pessoas e porque muitas vezes estão associadas a pressões estéticas, e não à saúde. Em longo prazo, a tendência é que a maior parte das pessoas que faz dieta volte a ganhar peso.
O objetivo deste capítulo é propor uma nova forma de reportar a obesidade, centrada em saúde pública, com enfoque em ambiente alimentar e acesso a uma alimentação saudável para todos.
Perda de peso é questão de saúde, não de estética
A necessidade de buscar maneiras de diminuir a proporção da população com excesso de peso é real. Há uma série de problemas de saúde relacionados ao aumento do IMC (capítulo 3). Entretanto, a preocupação individual com emagrecimento nem sempre está relacionada a questões de saúde.
Pessoas que já são saudáveis - especialmente mulheres – buscam se encaixar dentro de uma estética específica, geralmente criada e fomentada pelas indústrias cultural, das dietas, dos suplementos e mesmo por alguns profissionais de saúde. Não basta o corpo estar em pleno funcionamento e permitir àquela pessoa a realização de suas potencialidades: é preciso estar magro.
A insatisfação com o corpo é muito prevalente e amplificada por uma cultura que prega a adesão a um padrão específico, que não valoriza a diversidade e as diferenças naturais de cada pessoa. A capacidade limitada que o corpo tem para mudanças, portanto, faz com que muita gente sofra com uma sensação de inadequação, culpa e vergonha.
A insatisfação corporal pode ter como consequências prejuízos no comportamento e na forma como as pessoas se alimentam, o que pode estimular transtornos alimentares, depressão, baixa autoestima, comparação social, ansiedade, aumento de cirurgias plásticas estéticas e diminuição da qualidade de vida.
Outro ponto importante que se deve ter em conta é que emagrecimento e saúde não são, necessariamente, sinônimos. Existem indivíduos com o IMC acima do recomendado, mas com bons indicadores de saúde, e aqueles que são magros, mas adoecidos. Como será explicado abaixo, processos radicais de emagrecimento também trazem prejuízos à saúde.
Uma pessoa com sobrepeso ou obesidade não precisa se encaixar em padrões estéticos radicais para ter benefícios duradouros na saúde. Emagrecer entre 5% e 15% do peso inicial já gera ganhos para a saúde, como diminuição da propensão ao diabetes e melhoria nas funções metabólicas.
Por isso, a perda de peso, quando necessária, deve ser abordada sempre como uma questão de saúde, voltada para a melhoria da qualidade de vida. Isso evita uma cobrança excessiva em indivíduos saudáveis e pode incentivar pessoas que precisam emagrecer a realizar as mudanças corretas na rotina, já que o objetivo final não é ser magro, mas viver bem.
Sobrepeso e obesidade têm causas múltiplas
Quando a questão da obesidade é pensada de maneira populacional, fica evidente que a principal causa para o rápido aumento no número de pessoas com excesso de peso são as mudanças no padrão e ambiente alimentar em que estão inseridas (capítulo 1 e capítulo 2). É o ambiente alimentar – definido pelos ambientes físico, econômico, político e sociocultural – que propicia oportunidades e condições para que a alimentação ocorra.
AMBIENTE OBESOGÊNICO
Se o ambiente possui muita oferta e publicidade de produtos ultraprocessados, enquanto os alimentos in natura ou minimamente processados custam caro e o acesso a eles é difícil (com poucas feiras e hortifrutis à disposição, por exemplo), podemos dizer que esse ambiente é obesogênico, pois dificulta escolhas alimentares saudáveis.
Portanto, não é razoável supor que o aumento do número de pessoas com excesso de peso, que se tornou uma epidemia global, se deu por uma mudança exclusivamente dos fatores individuais, como preferências pessoais e conhecimento sobre alimentação.
De acordo com o imaginário social, parece óbvio concluir que o controle da alimentação e aumento da atividade física são suficientes para a perda de peso. Na realidade, as coisas são mais complicadas. Em ambiente alimentar com abundância de alimentos ultraprocessados, que causam obesidade, é mais fácil ganhar do que perder peso.
Além disso, quando o olhar é direcionado para o indivíduo, outros fatores aparecem para influenciar esse processo. Estudos apontam que nascimento via cesariana, ausência de aleitamento materno, introdução alimentar incorreta, tempo de lazer em frente a telas, fatores emocionais e até poluição do ar afetam o mecanismo de ganho e perda de peso. Ou seja, emagrecer é um processo diferente de pessoa para pessoa. Por isso, soluções isoladas têm pouco efeito individual e nenhum coletivo.
Dietas restritivas não funcionam
Essa afirmação parece polêmica, afinal dietas são a indicação principal para perda de peso por boa parte da imprensa e dos influenciadores digitais. No entanto, todas as evidências científicas apontam para o sentido oposto: restringir severamente o consumo de calorias por um período específico de tempo não tem como resultado um processo de emagrecimento sadio e duradouro.
Dietas restritivas de calorias ou nutrientes específicos são entendidas pelo corpo humano como uma agressão. Comer muito menos do que o necessário provavelmente vai fazer com que as pessoas percam algum peso em um curto prazo, mas assim que a alimentação voltar ao normal, o corpo usará mecanismos de defesa para aumentar a reserva energética – ou seja, gordura – em níveis superiores aos de antes da dieta.
Apesar de geralmente ser descrita apenas como reserva energética, a gordura é parte importante do sistema endócrino. O tecido adiposo pode ser descrito como o centro regulador do metabolismo, produzindo dezenas de hormônios fundamentais para o funcionamento adequado do corpo.
Esse sistema hormonal tem entre suas funções a de regular o apetite. Pessoas com sobrepeso e obesidade aos poucos têm o equilíbrio hormonal afetado, fazendo com que o mecanismo de fome e saciedade não funcione adequadamente. Quando há uma grande perda de peso em função de privação severa de calorias, o cenário piora. Como há perda de gordura, o nível dos hormônios que contribuem para a saciedade cai ainda mais, o que faz com que o indivíduo sinta fome mesmo quando está alimentado.
Essa resposta é fisiológica e, ainda que possa ser mais forte ou mais fraca dependendo de cada organismo, é inescapável: a tendência é que, depois de uma perda de peso brusca, a pessoa volte a engordar. Esse ciclo acaba gerando o conhecido efeito sanfona, que pode prejudicar a saúde. Além disso, a tendência é que cada tentativa de emagrecer seja menos eficaz que a anterior, o que gera frustração.
As respostas do corpo às dietas restritivas não vão mudar com o efeito da força de vontade. O reganho de peso é um mecanismo adaptativo de sobrevivência, uma vez que a comida nem sempre foi tão abundante para a humanidade.
Dietas, alimentos e nutrientes da moda
Apesar de não funcionarem, novas dietas surgem com frequência. Ao longo dos anos, viraram moda as dietas do shake proteico, dos pontos, da sopa, low carb, paleolítica, jejum intermitente e mais uma variedade incontável de métodos para o emagrecimento.
Esse tipo de estratégia é alvo de grande interesse por parte das pessoas que buscam perder peso. No entanto, os estudos que comparam as dietas são unânimes em confirmar que nenhuma dieta é superior à outra. Todas apresentam, em média, os mesmos resultados, culminando no efeito sanfona.
Da mesma maneira, não existe um alimento ou grupo de alimentos necessários para o sucesso na perda de peso. Comer berinjela, tomar água com limão ou colocar chia no iogurte não faz diferença no emagrecimento e prejudica a formação de um hábito alimentar saudável e duradouro. Focar as escolhas alimentares em nutrientes específicos tampouco é recomendável: optar por comer mais proteínas ou evitar o glúten (salvo para celíacos) não ajuda a emagrecer, muito menos a ser saudável, especialmente se essa substituição for feita por produtos ultraprocessados.
As dietas que proíbem grupos inteiros de alimentos, como carboidratos, ou nutrientes específicos muito prevalentes, como o glúten, são mais difíceis de serem seguidas pois não estão de acordo com a cultura alimentar. Esses alimentos fazem parte dos hábitos brasileiros. Cortá-los não traz benefícios para pessoas saudáveis e aumenta a sensação de inadequação pessoal. Seguir esse tipo de dieta também causa prejuízos à saúde.
Nutrição comportamental
Uma das tendências nos consultórios de nutrição atualmente é a nutrição comportamental. Essa linha não adota dietas prescritivas. Ao contrário, aposta na autonomia do paciente para fazer suas escolhas alimentares. Sem perder a noção de que os alimentos e seus nutrientes são importantes, defende que essas escolhas têm a ver com a história, o estilo de vida e os hábitos de cada pessoa. Ao longo do tempo, esse caminho tende a ser mais sustentável do que seguir dietas complicadas e fora do padrão alimentar individual.
Entretanto, a nutrição comportamental pode ser usada para naturalizar o consumo de certos tipos de alimentos ultraprocessados, tendo como justificativa o fato de que restrição alimentar pode gerar compulsão. Essa orientação é equivocada como recomendação populacional e é frequentemente usada como estratégia de marketing por grandes indústrias de alimentos (capítulo 7). Por isso, é preciso cuidado ao utilizar essa linha como referência para dietas em matérias, já que essa abordagem pode cair nos mesmos riscos das dietas restritivas.
Ultraprocessados voltados para dieta
Produtos ultraprocessados que alegam ter menos calorias, menos gordura e menos sódio comumente aparecem em peças publicitárias, anúncios e em notícias associados à falta de tempo para cozinhar e como a solução para dietas. Contudo, eles não são necessários para o processo de perda de peso e ainda prejudicam a saúde, porque para compensar o açúcar, o sal ou a gordura retirados do alimento, são usadas outras substâncias danosas. Um exemplo é a versão zero (sem açúcar) dos refrigerantes, que, devido ao uso de edulcorantes, contém sódio em quantidades elevadas em sua composição.
Os adoçantes artificiais ou edulcorantes, presentes tanto para adoçar preparos feitos em casa como em ultraprocessados diets, são produtos que merecem atenção. Apesar de populares, eles podem prejudicar a alimentação saudável e equilibrada. Isso porque ele causa um efeito rebote: o adoçante engana o corpo com a sensação doce, mas sem as calorias correspondentes ao sabor. Como consequência, o cérebro estimula o consumo de mais calorias para compensar o desequilíbrio entre percepção e ingestão de alimentos. Além disso, há ainda poucas pesquisas sobre os efeitos dessa substância no corpo humano em longo prazo.
Vegetarianismo
Dietas vegetarianas – livres de componentes de origem animal – costumam ser retratadas como saudáveis por si só. Essa impressão, no entanto, está incorreta. É possível ter uma dieta vegetariana tão desbalanceada como qualquer outra. Existem uma série de produtos ultraprocessados voltados para os vegetarianos e veganos que têm os mesmos tipos de problemas que os ultraprocessados em geral: ingredientes de baixa qualidade, excesso de aditivos e composição nutricional desbalanceada. Esse nicho de produtos está em constante expansão e vem recebendo espaço na cobertura jornalística, sem o devido destaque às suas características prejudiciais.
Abordagem sobre obesidade deve ser multifatorial
Se a abordagem das dietas não é eficaz, é também verdade que não há uma receita que garanta sucesso no processo de emagrecimento. Ganho e perda de peso são processos multifatoriais, e alguns desses fatores não estão sob controle. Ambiente alimentar, uso de transporte motorizado, longas jornadas de trabalho, falta de opções de lazer e sensação de insegurança nas cidades são motivos que levam as pessoas a comer pior e a praticar menos atividade física. Mesmo que haja consciência individual desses problemas, não é possível mudá-los com facilidade.
A indicação geral para uma alimentação saudável é a do Guia Alimentar para a População Brasileira: basear a alimentação em alimentos in natura ou minimamente processados, usar alimentos processados com moderação e evitar o consumo de produtos ultraprocessados. Cozinhar com frequência ajuda a manter hábitos alimentares saudáveis. Outro ponto importante é a preocupação com a maneira como se come. Manter horários regulares, não realizar outras atividades e compartilhar refeições com a família ou os amigos, com tempo para conversa, são medidas simples que podem ajudar a melhorar a relação com a comida.
Exercício sozinho não tem efeito no peso
Os conselhos sobre perda de peso quase sempre envolvem aumento da prática de atividades físicas. De fato, aumentar o gasto calórico pode influenciar no emagrecimento, mas esse efeito é bem menor do que se imagina. As evidências mais recentes mostram que, sozinhos, os exercícios não têm impacto sobre o peso. Quando combinados com mudanças na alimentação, eles podem ter uma pequena influência nesse processo. A atividade física aumenta a massa muscular, tecido que apresenta um gasto calórico alto, e aumenta a sensação de bem estar, o que pode ajudar a evitar episódios de descontrole alimentar.
Os exercícios físicos devem ser encarados como uma forma de melhorar a saúde de maneira geral. O aumento da atividade física tem impactos positivos para prevenir infarto, diabetes, hipertensão, acidente vascular cerebral, entre outras doenças. Algumas mudanças simples na rotina, como caminhadas e subir escadas em vez do elevador, podem levar a um gasto maior de energia durante o dia, além de garantirem maior bem-estar e ganhos importantes para a saúde. Já os exercícios, especialmente para pessoas com algum problema de saúde, devem ser prescritos por um profissional qualificado. O uso de séries de exercício pré-definidas obtidas em revistas ou redes sociais é desaconselhado, pois podem causar lesões e sobrecarga de esforço.
Aspectos psicológicos
Enquanto alterações na alimentação e aumento de gasto calórico por meio de exercícios são medidas comuns, as mudanças comportamentais são pouco abordadas quando o assunto é alimentação. Isso é um erro: é pouco provável que outras ações dêem resultado para a melhoria da alimentação sem que o aspecto emocional seja levado em consideração. O Caderno de Atenção Básica – Estratégias para o Cuidado da pessoa com Doença Crônica Obesidade, elaborado pelo Ministério da Saúde em 2014, enfatiza a importância de mudanças comportamentais como um dos pilares para o tratamento dessa condição.
NA PRÁTICA
A abordagem da imprensa sobre dietas e emagrecimento é considerada por especialistas como uma das mais sensíveis dentro do campo da alimentação. São comuns sugestões de dietas, orientações sobre exercícios, textos com foco em estética e outros equívocos.
Recomendações para embasar a cobertura:
- Evitar escrever sobre dietas em geral e, quando for imprescindível, apontar evidências de que esse tipo de prática não funciona.
- Mudanças de hábito alimentar devem ter como foco ganhos na saúde, não a perda de peso.
- Não escrever sobre alimentos específicos como heróis ou vilões da alimentação.
- Focar na construção de um padrão alimentar prazeroso e sustentável como objetivo na construção de uma relação benéfica com a comida.
- Não culpabilizar o indivíduo em relação às escolhas alimentares. Em vez disso, abordar a alimentação de maneira coletiva e apontar estratégias de publicidade que enganam as pessoas.
- Obesidade não é vencida apenas com força de vontade. Considerar os fatores individuais e coletivos envolvidos para o aumento do peso, levando em consideração as evidências científicas.
- Existem pessoas com sobrepeso ou obesidade que são metabolicamente saudáveis e pessoas magras com doenças como diabetes e pressão alta. Peso e forma física não são formas eficazes de diagnóstico clínico para indivíduos.
- Ter critério na escolha de fontes. Avaliar o currículo Lattes no caso de pesquisadores. Quando o entrevistado é um profissional com foco em consultório, buscar suas publicações em redes sociais e artigos publicados. O número de seguidores em redes sociais não é garantia de que um profissional está atualizado.
- Nem sempre associações voltadas a um determinado assunto são formadas pelos profissionais mais atualizados.
- Não publicar matérias que tenham como foco o corpo de celebridades. Essas pessoas têm como obrigação adequar seu corpo às exigências profissionais e muitas vezes seguem dietas não saudáveis. Não podem servir como parâmetro para a população em geral. O mesmo vale para influenciadores em redes sociais.
Questões para considerar ao escrever e representar pessoas com sobrepeso e obesidade
- Escolher as palavras certas para definir pessoas com sobrepeso e obesidade em textos jornalísticos é uma tarefa complexa. Não há consenso definitivo sobre os termos. Existe uma disputa em torno da palavra gordo. Há uma corrente que defende que é uma palavra descritiva e que ser gordo não é uma característica negativa, portanto, não haveria problema em usá-la. Por outro lado, em uma sociedade gordofóbica, muitas pessoas sentem-se incomodadas ao serem chamadas de gordas, já que isso pode servir para estigmatizar. É importante manter-se atualizado sobre essa discussão, já que os termos mudam conforme os debates na sociedade evoluem.
- Para evitar problemas, uma opção é usar os termos médicos: pessoas com sobrepeso e obesidade. Se o contexto da matéria exigir uma diferenciação entre os graus de obesidade, não se deve usar a expressão obesidade mórbida, e sim a classificação em graus: obesidade grau 1, 2 e 3, com a devida explicação de seu significado.
- As imagens relacionadas à obesidade também são um ponto sensível. É comum que, para ilustrar textos que falem de dados de obesidade na população, doenças crônicas relacionadas ao aumento de peso e consumo de alimentos ricos em açúcar e gordura, sejam usadas imagens de corpos de pessoas com obesidade se alimentando de forma descontrolada. Em outros casos, são apresentados apenas os corpos, geralmente cortando a cabeça. A intenção pode ser boa: não estigmatizar o indivíduo da foto. Contudo, o resultado é o oposto, pois um corpo gordo sem personalidade é alvo mais fácil para o exercício da gordofobia. Existem bancos de fotos gratuitos com imagens adequadas de pessoas com obesidade, como o da Associação Europeia para o Estudo da Obesidade, da Federação World Obesity e da Obesity Canada.
- É preciso, ainda, refletir se há a necessidade real de usar imagens de pessoas com excesso de peso em matérias negativas. É mais benéfico usar a imagem de pessoas gordas para ilustrar matérias em geral. A sub-representação de tipos físicos gordos é uma realidade e é considerada um fator de desumanização dessas pessoas, além de incentivar atitudes gordofóbicas. Em uma população em que o sobrepeso atinge o índice de 50%, não representar pessoas com essa característica é um equívoco.
- As imagens que representam a alimentação saudável também podem ser equivocadas. Uma busca simples por imagens usadas nas matérias sobre o assunto mostra que a representação de alimentação saudável é focada apenas em frutas e vegetais. Esses alimentos fazem parte de uma dieta adequada, porém não podem se representadas como a totalidade da alimentação. Alimentos saudáveis como arroz, feijão e outras leguminosas e mesmo massas e carnes são pouco representadas em matérias quando o assunto é uma dieta saudável.
- Quando há uma oposição entre alimentação saudável e não saudável, as imagens costumam ser ainda mais estereotipadas. Hambúrguer e batata frita de um lado e uma maçã de outro é uma das representações mais comuns desse quadro. Mais uma vez, ninguém pode ter uma alimentação saudável comendo apenas frutas, e um hambúrguer não é necessariamente um problema. A recomendação, portanto, é seguir nas imagens as mesmas indicações do Guia Alimentar para a População Brasileira: alimentos in natura e minimamente processados devem ser representados na maior variedade possível nas imagens de alimentação saudável, enquanto produtos ultraprocessados são mais adequados para representar a alimentação não recomendada e prejudicial à saúde.
Sirtfood, dieta que Adele adotou, aposta no chocolate e vinho
Essa matéria descreve a dieta da cantora Adele. A artista sempre recebeu destaque por ter sobrepeso e agora aparece como exemplo por ter emagrecido.
PONTOS DE ATENÇÃO
- O título é sensacionalista. Dá a impressão de que a dieta é baseada em chocolate e vinho, quando na verdade esses alimentos são permitidos com moderação, desde que tenham boa qualidade nutricional.
- Usam uma celebridade – que tem à disposição tempo e dinheiro para investir nos melhores profissionais e alimentos – como exemplo para a população em geral.
- Descreve a dieta com detalhes, com o número de calorias permitidos em cada fase. Como já mostrado, isso é um equívoco, já que dietas altamente restritivas não apresentam resultados satisfatórios em longo prazo. Além disso, não é aconselhável indicar qualquer tipo de restrição alimentar sem que a pessoa tenha o acompanhamento de um nutricionista
Aprenda a contar calorias e veja como é possível perder peso com isso
Publicada em 2019, a matéria ensina o leitor a contar as calorias de cada alimento e a fazer o cálculo de qual deve ser sua ingestão calórica diária.
PONTOS DE ATENÇÃO
- O cálculo das necessidades calóricas deve ser feito com acompanhamento profissional e apenas quando a pessoa tem uma doença específica.
- Contagem de calorias não é uma maneira adequada de incentivar a alimentação saudável.
- Apesar de o emagrecimento em si ser um processo de perda calórica, muitos fatores estão envolvidos: biológicos, sociais, culturais e psicológicos. É inadequado dar a entender que basta comer menos calorias do que o gasto calórico diário para perder peso.
8 superfoods que não podem faltar na dieta da mulher 50+
O texto, de fevereiro de 2020, lista 8 alimentos de deveriam ser consumidos por mulheres acima de 50 anos.
PONTOS DE ATENÇÃO
- O enfoque da nutrição como uma lista de alimentos corretos é equivocado, portanto esse tipo de matéria deve ser evitado.
- O texto, em alguns momentos, informa que a dieta deve incluir outros alimentos, mas a mensagem central é de que sem os alimentos listados, a dieta estará incompleta.
- Alguns alimentos, como tahine, romã e linhaça são de difícil acesso para uma boa parcela da população e não são fundamentais para uma dieta saudável.
Número de obesos entre jovens cresce mais de 60% em uma década
O texto traz informações sobre obesidade em crianças no Brasil, por ocasião da divulgação dos dados do Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis) de 2018. Os dados estão contextualizados e há uma reflexão sobre os fatores sociais que levam a esse quadro. Contudo, a imagem utilizada é problemática.
PONTOS DE ATENÇÃO
- A foto mostra uma criança com obesidade, com a cabeça recortada do enquadramento, com um hambúrguer em mãos, o que desumaniza e reforça estereótipos gordofóbicos.
- Hambúrgueres podem estar presentes em dietas saudáveis, desde que não sejam ultraprocessados.