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Assim como em cada bioma, em cada estação do ano e até em certo período do dia, já notou que a atmosfera à sua volta tem cheiros característicos?
Seja pela comida feita na casa de pessoas vizinhas, ou pela floração de uma árvore, somos convidados a todo momento a exercitar o sentido do olfato.
E fica a pergunta: chegando o Natal, as ruas e os corredores assumem um cheiro característico?
Já sentiu o aroma de canela, noz-moscada ou frutas secas e imediatamente foi transportado para as festas de fim de ano?
Há alimentos que funcionam como marcadores do tempo, demarcando uma data, porque possuem uma simbologia social.
Vai chegando o dia 23, o dia 24 e sentimos cheiros que, na maioria dos casos, surgem apenas nessa época: rabanada, panetone, arroz com especiarias, assados, manjares, bolos de frutas e tantas outras delícias.
São pratos que não fazem parte da rotina do restante do ano, mas que, ao surgirem, despertam lembranças de fim de ano.
Muitas vezes, esses preparos culinários são heranças de pessoas mais velhas guardadas em cadernos de receitas manchados de farinha e afeto.
Curiosamente, mesmo quem não cozinha reconhece esses sinais. As padarias exibem panetones variados. As ruas ganham cheiro de assados e confeitarias disputam a criatividade nos doces natalinos.
Não é apenas a tradição que fala, mas também uma rede de práticas sociais que reforça, ano após ano, que o Natal chegou.
Esse calendário sensorial é tão poderoso que pode ser sentido antes mesmo da ceia.
Pense em como é comum alguém comentar: “já está com gosto de Natal”.
Não se trata apenas da refeição do dia 24, mas de uma atmosfera que se instala no cotidiano.
O sabor de dezembro acompanha encontros no trabalho, confraternizações de amigos e até cafés da manhã reforçados em família. Aos poucos, a mesa se veste para os rituais de celebrações de fim do ano.
Esse vínculo entre sabor e tempo é parte da nossa memória coletiva.
Guardamos não apenas o gosto das comidas, mas as circunstâncias em que elas eram compartilhadas: a pessoa da família que frita rabanadas de madrugada, a pessoa que insiste em fazer cortes artísticos e decorativos nas frutas, a criança que esperava ansiosa para roubar e comer uma fatia da sobremesa.
Cada pedaço conta uma história, e cada história se soma a uma tradição que não precisa ser igual todos os anos, mas que permanece viva enquanto houver quem a prepare.
E esse momento nos convida a refletir sobre a velocidade da vida moderna. Em meio à correria, esses alimentos aparecem como pausas, lembrando que há momentos que precisam ser vividos devagar e experienciados em sua plenitude.
Cheiro também é uma memória potente.
Ele é capaz de transportar pessoas para situações exclusivas, onde só há determinado cheiro.
Além disso, fazer uma torta ou assar um pão pode ser um gesto de resistência contra a pressa, reafirmando que cozinhar ainda é uma forma de marcar o tempo de maneira afetiva.
Talvez essa seja a grande magia de dezembro: lembrar que o ano não é feito só de dias corridos, mas também de sabores que o estruturam.
O calendário que guardamos na pele, das emoções vividas, não está apenas nas datas, mas também no paladar, no tato, no olfato.
E ele insiste em nos lembrar, a cada fatia de preparos da ceia, que o tempo pode ser celebrado com gosto, aroma e memória.
Nós do Idec, aproveitamos a data para desejar boas festas a todas as pessoas consumidoras.
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