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Nos últimos anos, o Brasil tem liderado o mercado de produção e exportação de proteína animal mundialmente, porém, avançou pouco em políticas de sustentabilidade no que se refere à questão da proteção animal. Vendo a necessidade de reavaliar seus métodos, sete grandes empresas produtoras, processadoras e varejista já aboliram gaiolas para matrizes suínas e o comércio de ovos livre de gaiolas da produção nacional. E na pecuária bovina foram criadas linhas específicas de carne de animais tratados sob critérios de bem-estar. Contudo, o setor financeiro, diretamente ligado ao financiamento dessas empresas não incorporou a proteção animal aos critérios sustentáveis para seus investimentos.
Foi em 2014, que o Conselho Monetário Nacional formalizou a incorporação de critérios socioambientais às suas políticas de investimento e financiamento. O objetivo proteger as instituições financeiras de riscos reputacionais e de mercado, além de promover o desenvolvimento sustentável. Contudo, ainda são muito poucas as que consideram o bem-estar animal dentre estes critérios, mesmo com a crescente preocupação do setor.
Hoje, no mercado financeiro há índices de sustentabilidade que contemplam indicadores de bem-estar como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3, e benchmarks, como o Business Benchmark on Farm Animal Welfare (BBFAW), que analisa as informações públicas sobre bem-estar disponíveis nos documentos de empresas que operem com proteína animal - incluindo as brasileiras: Aurora, BRF, Habib's, JBS, Marfrig e Minerva.
Apesar de uma melhora constante desde 2012, ainda há pouca informação sobre essas políticas e demonstração de resultados dos indicadores que impactam na vida dos animais. Neste ponto, a cobrança por parte de instituições financeiras é essencial para promover melhores práticas corporativas.
Até porque cada vez mais a sociedade tem se preocupado com essa questão. Segundo pesquisa da Proteção Animal Mundial, 55% dos brasileiros se preocupam com o método de abate e 91% acreditam que animais criados com bem-estar originam produtos de maior qualidade.
Ao analisar políticas dos bancos para concessão de crédito para o setor, o Guia dos Bancos Responsáveis (GBR) identificou que nenhum dos bancos brasileiros apresenta políticas para o bem-estar animal. Dentre os critérios procurados estavam políticas para diminuir o uso de antibióticos, que promovem a resistência antimicrobiana. Na média dos nove maiores bancos do país em ativos, só foram encontradas 24% das políticas que seriam ideais à agroindústria sustentável.
A situação é muito diferente na Holanda, país que há 11 anos deu início ao Fair Finance International (FFI). No Guia de bancos holandês, a média da nota dos bancos em políticas para o setor de alimentos abarca 79% dos critérios de sustentabilidade considerados necessários para o setor.
Ainda que a integração de critérios de bem-estar animal às políticas dos bancos brasileiros pareça distante, o primeiro passo é realizar um estudo de materialidade, que identifique os riscos da não integração do tema em suas políticas e mapeie as oportunidades. Outra medida é garantir que as empresas financiadas ou investidas reportem sobre suas práticas.
Em 2019 foi lançado um manual para orientar neste processo: o FARMS Initiative, que auxilia instituições financeiras a incorporarem cinco conjuntos de padrões para a maioria das espécies criadas para consumo humano.
Para continuar líder de mercado, o Brasil preciso avançar também na pauta de sustentabilidade e, para isso, as instituições financeiras devem garantir que os Padrões Mínimos de Responsabilidade, conforme colocados pelo FARMS, sejam respeitados por empresas de proteína animal.