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Emendas na MP da Eletrobras ameaçam planejamento do setor e pressionam custos dos consumidores, alerta Idec

Mudanças inseridas por parlamentares podem significar enorme retrocesso no setor elétrico, com consequências muito graves para os consumidores de energia

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Atualizado: 

15/06/2021

As emendas inseridas na Medida Provisória 1.031, da capitalização da Eletrobras, marcam um enorme retrocesso no setor elétrico, com consequências muito graves para os consumidores de energia. “As mudanças desmontam a estrutura de planejamento consolidada no setor elétrico. Além disso, os custos são certos, mas os benefícios não”, avalia Clauber Leite, coordenador do programa de Energia e Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

A preocupação com relação ao planejamento diz respeito à determinação de contratação de fontes, como térmicas e pequenas centrais hidrelétricas. O especialista lembra que a definição de quais fontes devem ser contratadas, em que condições e em que regiões do país é feita pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia. “A interferência do Legislativo desorganiza e inviabiliza a continuidade do ciclo de planejamento energético de caráter indicativo e de maximização da eficiência econômica do processo”, alerta. O resultado dessa falta de eficiência econômica são aumentos nos custos da energia pagos pelos consumidores.

A expectativa do Instituto é que a maioria dessas emendas sejam descartadas, tendo em vista que são inconstitucionais. “O entendimento consolidado pelo Supremo Tribunal Federal é de que os congressistas não podem inserir matérias estranhas ao conteúdo original da MP por meio de emendas parlamentares”, lembra Leite.

Confira a seguir um resumo das preocupações do Idec:

Térmicas a gás natural – A contratação compulsória de 6 GW dessas usinas contradiz o modelo de competição do setor inaugurado pela Lei do Gás, além de exigir a construção de gasodutos e linhas de transmissão caríssimos, cujos custos teriam de ser pagos pelos consumidores. Tais usinas não ajudariam a viabilizar o gás das reservas do pré-sal, cuja produção tende a aumentar significativamente nos próximos anos. Por fim, a contratação dessas usinas contradiz a necessidade de transição do país para uma economia de baixas emissões de carbono, bem como a necessidade de maior aporte de flexibilidade operacional no setor elétrico, que pressupõe sua expansão a partir de fontes renováveis.

PCH – A obrigatoriedade de contratação de pequenas centrais hidrelétricas vai contra toda a lógica do setor elétrico: a fonte é a menos competitiva dentre as renováveis, pressionando os custos finais da energia, e não agrega atributos necessários ao setor neste momento. Não há, portanto, qualquer razão técnica, econômica e social para tratamento diferenciado para essa tecnologia.

Renovação de contratos do Proinfa - O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia teve seu mérito ao abrir caminho para a energia eólica, de biomassa e PCHs no país. Mas, hoje, a energia de todas elas, bem como a solar, pode ser contratada no mercado livre ou nos leilões promovidos pelo governo por valores muito inferiores aos do programa. Além disso, a sistemática de leilões de compra de energia desenvolvida no Brasil se mostrou mais barata e eficiente, sendo inclusive reconhecida internacionalmente. 

Energia de Itaipu - Foram os consumidores do ambiente de contratação regulada que pagaram pela depreciação da usina de Itaipu. Nada mais correto, portanto, que se apropriem da renda disponibilizada com o fim do pagamento da dívida. A criação de fundos com tais recursos é muito preocupante, tendo em vista os desafios de governança que implicaria. 

Concentração de mercado - Nos moldes previstos na MP, a nova Eletrobras será responsável por cerca de 30% do parque gerador nacional, ameaçando o direito concorrencial no setor. Esse aspecto é extremamente relevante no contexto de abertura de mercado e também de modernização regulatória. Além disso, ao inserir novas usinas no parque da Eletrobras, a MP aumentou potenciais efeitos adversos à livre concorrência e ampliou a possibilidade de riscos de manipulação de mercado.