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Bancos melhoram políticas, mas ainda ficam devendo em responsabilidade socioambiental

Estudo que há mais de 10 anos avalia as políticas de sustentabilidade das maiores instituições bancárias brasileiras aponta longo caminhos a ser percorrido

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Atualizado: 

10/11/2022

O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), a Conectas Direitos Humanos, o Instituto Sou da Paz e a Proteção Animal Mundial lançam nesta quinta-feira (10) a 9ª edição do Guia dos Bancos Responsáveis (GBR), estudo que avalia 18 temas das políticas de sustentabilidade que os maiores bancos brasileiros possuem em relação às empresas que financiam ou nas quais investem. 

Os resultados indicam que os oito bancos avaliados em 2022 apresentaram evolução em seu comprometimento com políticas de responsabilidade socioambiental, mas ainda estão muito longe de uma situação aceitável.

No estudo de 2020 a nota média dos bancos era de 3,2. Em 2022 o desempenho médio passou, em uma escala de 0 a 10, para 3,8. Isso significa que, na média, essas instituições cumprem 38% das políticas avaliadas, um aumento de 6 pontos percentuais em relação à última avaliação, considerado ainda insuficiente. A nota mais alta foi de 5,2, do BNDES, e, a mais baixa, de 3,1 do banco BTG Pactual. “Considerando nossa escala de notas, os bancos ainda estão muito longe de serem responsáveis. Para serem classificados como tal, eles deveriam ter, no mínimo, média 8”, afirma o advogado Fábio Machado Pasin, pesquisador do programa de Serviços Financeiros do Idec.

Veja abaixo a tabela de notas dos bancos em todos os temas:

“O GBR é uma análise minuciosa dos documentos públicos das instituições financeiras e consolida uma classificação dos bancos de acordo com a abrangência de suas políticas de responsabilidade socioambiental”, explica Pasin. “Nesta crise profunda, ficou ainda mais evidente a necessidade de dar prioridade às questões socioambientais, inclusive por meio da responsabilização das instituições financeiras, considerando que estas orientam significativamente, por meio de compromissos e diretrizes, o caminho trilhado pelas empresas do País”, completa Julia Catão Dias, advogada do programa de Serviços Financeiros do Idec e também responsável pelo estudo.

A novidade desta edição do GBR foi a inclusão da análise de “Bem-estar Animal”, na qual todos os bancos zeraram no tema por não o considerarem em suas políticas socioambientais. Nele, avalia-se se as instituições financeiras possuem diretrizes que levam em conta o tratamento adequado dos animais de produção, de acordo com as diretrizes internacionais da Farms Initiative, e que asseguram proteção aos animais silvestres, considerando que investem e financiam empresas nos setores da pecuária, pesca, peles e couro, produtos farmacêuticos, cosméticos, criação de animais de estimação, entre outras. 

Para José Ciocca, zootecnista e gerente de Agropecuária Sustentável na Proteção Animal Mundial, o resultado, embora decepcionante, era de certa forma esperado, já que esse é um tema novo dentro do mercado financeiro. “Porém, como o agronegócio é fundamental para o PIB [Produto Interno Bruto], esse primeiro resultado traz um alerta da importância de se trabalhar esse tópico. Os bancos precisam se conscientizar de que a forma como produzimos animais para a alimentação afeta não só a vida dos animais, mas a nossa vida e o meio ambiente”, ele avalia.

Os bancos

Abaixo do líder BNDES, em segundo lugar, com 4,1, ficou o Itaú Unibanco, que recebeu a segunda maior nota em “Mudanças Climáticas” e subiu duas posições no geral em relação ao último levantamento. 

A terceira colocação ficou para o Santander. Seu destaque positivo são as políticas setoriais específicas, que permitem um detalhamento dos critérios socioambientais aplicados para carteiras relacionadas a atividades de alto impacto socioambiental, como os setores bélico, de energia, mineração e commodities.

O Banco do Brasil (BB) passou a ocupar o quarto lugar, com 3,7 pontos. Embora tenha melhorado em muitos temas, tirou nota 0 em “Armas”, junto com a Caixa Econômica Federal e o Bradesco; e recebeu a pior pontuação em “Impostos” (0,9), principalmente porque não divulga informações relativas a subsídios recebidos, receita, lucro e pagamento de impostos nos países onde opera.

Embora tenha ficado em penúltimo lugar, o Safra foi o que mais melhorou sua nota de 2020 para 2022, principalmente pela revisão da sua Política de Relacionamento com o Cliente e de sua política para o setor de armas, que passou a incorporar diversos critérios previstos pelo GBR, como o impedimento de se relacionar com empresas que produzem armas nucleares, biológicas, químicas e munições cluster.

E o lanterninha foi o BTG Pactual, que embora tenha evoluído bastante em relação à última avaliação – principalmente por conta do tema “Florestas”, que somou apenas 3,1 pontos. O destaque negativo foi ter tirado a pior nota em “Inclusão Financeira”.

Responsabilidade de todos

O objetivo do estudo é oferecer aos consumidores um panorama sobre o que as instituições financeiras fazem com seu dinheiro, que tipo de empresas financiam e se consideram aspectos como por exemplo, desmatamento, respeito aos direitos humanos, relações trabalhistas. O trabalho, que é publicado há cada dois anos, baseou-se em dados de 2020 e 2021 e segue a metodologia do Fair Finance International, aplicada em 15 países. 

“Os seguidos estudos do GBR dão um panorama completo de como as instituições financeiras se relacionam e se preocupam com a sustentabilidade socioambiental no país. É um processo que foi se fortalecendo ao longo do tempo e conta com avanços como a unificação da metodologia global, instaurando um novo patamar de boas práticas para que as instituições financeiras aprimorem suas políticas de sustentabilidade amparadas em princípios alinhados internacionalmente", ressalta a diretora executiva do Idec, Carlota Aquino.

Os outros países que também têm coalizões e são avaliados pelo FFI são: Bélgica, Holanda, Noruega, Suécia, Alemanha, Índia, Indonésia, Japão, Paquistão, África do Sul, Tailândia, Vietnã, Filipinas e Camboja.  

Acesse o conteúdo completo do Guia dos Bancos Responsáveis

Sobre o GBR

O GBR é resultado da coalizão de organizações da sociedade civil brasileira liderada pelo Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Tem por objetivo avaliar o grau de comprometimento dos maiores bancos brasileiros com diversos temas de relevância social e ambiental e chamar a atenção dos consumidores sobre como o seu dinheiro é usado pelos bancos. A iniciativa faz parte do Fair Finance International (FFI), uma rede internacional que visa o fortalecimento do compromisso das instituições financeiras com padrões sociais, ambientais e de governança.