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O Idec, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, junto de Conectas Direitos Humanos, Instituto Sou da Paz e Proteção Animal Mundial, lançam nesta terça-feira (09) a nova edição do Guia dos Bancos Responsáveis. É um estudo que avalia 18 temas das políticas de sustentabilidade que os maiores bancos brasileiros possuem em relação às empresas que financiam ou nas quais investem. O objetivo é oferecer aos consumidores um panorama sobre o que as instituições financeiras fazem com seu dinheiro, que tipo de empresas financiam e se consideram aspectos como por exemplo, desmatamento, respeito aos direitos humanos, relações trabalhistas. O trabalho, que é publicado há cada dois anos, baseou-se em dados de 2019 e 2020 e segue a metodologia do Fair Finance International, aplicada em 13 países. Infelizmente, os resultados dos bancos brasileiros foram baixos, ainda que tenham sido identificados importantes avanços desde a última pesquisa realizada em 2018.
Foram avaliados os nove maiores bancos do país: Banco do Brasil, Bradesco, BTG Pactual, BV, Caixa, Itaú, Safra, Santander e BNDES, sobre questões urgentes da nossa sociedade divididas em temas transversais (mudanças climáticas, corrupção, igualdade de gênero, direitos humanos, direitos trabalhistas, meio ambiente e impostos); temas setoriais (armas, alimentos, florestas, setor imobiliário e habitação, mineração, óleo e gás e geração de energia); e temas operacionais: (direitos do consumidor, inclusão financeira, remuneração, transparência e prestação de contas).
Os dados foram coletados em informações públicas e questionamentos enviados às instituições financeiras. O desempenho médio dos nove bancos, numa escala de 0 a 10, ficou em 3,2. Ou seja, apenas “32% responsável”. Ainda que baixo, houve um aumento de 2 pontos porcentuais em relação à 2018, quando a nota média dos bancos foi 3 – "30% responsável".
Na pesquisa mais recente, o BNDES – que tem como foco o desenvolvimento e não atende diretamente à população – é o melhor colocado no GBR, pontuando 4,3. Entre os bancos de comerciais, o Santander obteve a melhor colocação, com nota 3,8, seguido de Banco do Brasil e Itaú, ambos com 3,5. Veja o desempenho médio das outras instituições:
Alguns resultados dos temas avaliados chamam à atenção pela distância em que estamos de um cenário ideal, como:
- A representatividade feminina nas diretorias não chega a 30% em nenhum dos bancos avaliados;
- A maioria não informa quantos de seus diretores e superintendentes são negros;
- Apenas quatro bancos publicam políticas específicas para setores que têm impacto direto no meio ambiente, como petróleo e mineração;
- Em todos os bancos as políticas de sustentabilidade divulgadas priorizam os financiamentos e nem sempre consideram diretrizes sobre os investimentos;
- Os compromissos dos bancos nem sempre se traduzem em ações efetivas e metas mensuráveis;
- Somente dois bancos publicam políticas sobre financiamento da indústria de armas;
- Apenas um terço dos bancos apresenta políticas para prevenção e tratamento do superendividamento de seus clientes;
- Apenas um banco considera o bem-estar animal como requisito obrigatório para financiamento.
Neste último ponto, destacamos que o quesito que avalia como os animais são tratados ao longo da cadeia produtiva atualmente é um dos elementos do tema Alimentos. Porém, com a importante chegada da ONG Proteção Animal Mundial à coalizão brasileira, o bem-estar animal passará a ser um tema independente na avaliação de políticas de 2022, permitindo um diagnóstico mais preciso das políticas dessa área.
O Idec acredita que é viável tecnicamente que a média dos bancos brasileiros alcance os 5 pontos nos próximos anos. “Essa é uma meta absolutamente plausível, pois instituições tradicionais, operando em cenários distintos, cumprem pelo menos 50% dos princípios para ser um banco responsável, como nos mostra as avaliações de políticas do FFI na Holanda, Noruega e Suécia”, pontua Gustavo Pereira Machado de Melo Souza, pesquisador do Idec e um dos autores do estudo.
Os outros países que também têm coalizões dosão avaliados pelo FFI são: Bélgica, Alemanha, índia, Indonésia, Japão, Tailândia, Vietnã, Filipinas e Camboja.
Um passo de um longo caminho
Na comparação com a avaliação realizada em 2018, nota-se que o tema da sustentabilidade ganhou importância ao menos nas peças de comunicação dos bancos. Em 2018, as questões socioambientais não foram tão protagonistas. Já em 2020, observa-se avanços na sua integração, com maior destaque e interesse dos bancos em adotar os princípios de sustentabilidade. Na prática, foram feitas ações concretas relacionadas às mudanças do clima (principalmente fomento à geração de energia limpa) e diretrizes mais rígidas de atuação no bioma Amazônia. O saldo geral é positivo, mas a proposta de geração de valor sustentável ainda tem um longo caminho até se consolidar.
"Essa é a oitava edição do GBR em dez anos, uma iniciativa inovadora sobre critérios de avaliação da sociedade civil. Um processo desafiador que apresentou avanços, como a unificação da metodologia global, possibilitando um novo patamar de boas práticas e incentivo para que as instituições financeiras aprimorem suas políticas de sustentabilidade amparadas em princípios alinhados internacionalmente", avalia a diretora executiva do Idec, Teresa Liporace.
Acesse o conteúdo completo do Guia dos Bancos Responsáveis
Sobre o GBR
O GBR é resultado da coalizão de organizações da sociedade civil brasileira liderada pelo Idec –Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Tem por objetivo avaliar o grau de comprometimento dos maiores bancos brasileiros com diversos temas de relevância social e ambiental e chamar a atenção dos consumidores sobre como o seu dinheiro é usado pelos bancos. A iniciativa faz parte do Fair Finance International (FFI), uma rede internacional que visa o fortalecimento do compromisso das instituições financeiras com padrões sociais, ambientais e de governança.