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Pesquisa do Idec revela variação de até 66,3% do teor de sódio informado no rótulo de produtos industrializados

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Atualizado: 

15/07/2014
Teste em laboratório revela que os itens mais problemáticos são de marcas famosas, como Sadia, Seara, Batavo e Aurora, e que, em alguns casos, a diferença entre o valor informado e o realmente presente passa de 60%
 
A campeã é a salsicha Viena da Frigor Hans, com 66,3% de variação: a embalagem informa que contém 172 mg de sódio na porção de 50 g, mas o teste revelou que o valor real é de 510 mg/50g.
 
 
 
Entre março e abril, o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) enviou para teste em laboratório 291 alimentos industrializados de 90 marcas, a fim de identificar o teor de sódio presente. Foram selecionados produtos de todas as categorias de alimentos incluídas nos acordos voluntários para redução de sódio firmados entre a indústria e o Ministério da Saúde.
 
Nessa primeira etapa da pesquisa, os resultados foram comparados com a informação da tabela nutricional indicada no rótulo dos produtos, tendo em vista as regras da RDC nº 360 da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O teste em laboratório revelou que alimentos industrializados de grandes marcas têm teor de sódio muito diferente do informado no rótulo. Isso caracteriza desrespeito ao direito de informação correta e clara nas embalagens de alimentos, prevista no CDC (Código de Defesa do Consumidor). 
 
Dos 291 produtos, 27 deles apresentam variação de mais de 20%, para mais ou para menos, desse nutriente. A diferença descumpre a Resolução no 360/2003 da Anvisa, que estabelece regras para a rotulagem nutricional e dá essa margem de tolerância.
 
Embora a quantidade de produtos com erro seja pequena em comparação com o total de produtos avaliados, chama a atenção que os itens problemáticos sejam de marcas famosas, como Sadia, Seara, Batavo e Aurora, e que, em alguns casos, a diferença entre o valor informado e o realmente presente passe de 50%.
 
Entre os 27 produtos reprovados, dez contêm mais sódio do que o informado. Quase todos são de origem animal, com destaque para salsichas, e a maioria ultrapassa em 40% o teor do nutriente indicado no rótulo. A campeã é a salsicha Viena da Frigor Hans, com 66,3% de variação: a embalagem informa que contém 172 mg de sódio na porção de 50 g, mas o teste revelou que o valor real é 510 mg/50g.
 
Os outros 17 produtos apresentam menos sódio do que o informado. A linguiça tipo calabresa da Sadia, por exemplo, informa no rótulo que contém 910 mg de sódio na porção de 50 g, mas, na verdade, tem 566 mg, uma variação de 60,79%. "Não há dúvidas de que teor de sódio mais baixo é desejável, no entanto, o erro abre brechas para se desconfiar da informação nutricional desses produtos como um todo", critica Ana Paula Bortoletto, nutricionista do Idec. "O consumidor tem o direito de receber a informação correta. Declarar a quantidade errada de um nutriente, independentemente de para mais ou para menos, fere esse direito", completa.
 

Tabela 1 - Produtos com MAIS sódio do que o informado no rótulo

Produto

Marca

Teor de sódio - rótulo (mg/100g)

Teor de sódio - teste (mg/100g)

Variação (%)

Salsicha Viena

Frigor Hans  

344

1.020,1

66,3

Salsicha Viena

Ceratti

734

1.380,8

46,8

Requeijão cremoso light

Batavo       

440

811,6

45,8

Salsicha longuete

Seara

960

1.750,8

45,2

Mistura para bolo aerado de chocolate

Renata   

491,10

857,1

42,7

Requeijão cremoso light

Elegê  

440

763,1

42,3

Salsicha para hot dog

Seara

960

1.633,2

41,2

Biscoito água e sal

Panco

470

667,8

29,6

Linguiça frescal mista cozida e defumada fininha

Seara

1.200

1.703,0

29,5

Mortadela refrigerada tradicional

Aurora

925

1.282,1

27,8

 

Tabela 2 - Produtos com MENOS sódio do que o informado no rótulo

 

Produto

Marca

Teor de sódio - rótulo (mg/100g)

Teor de sódio - teste (mg/100g)

Variação (%)

Linguiça tipo calabresa defumada temperatura ambiente

Sadia

1.820

1.131,90

-60,8

Linguiça toscana frescal

Aurora

1.428

930,60

-53,4

Margarina com sal

Delícia

550

385,10

-42,8

Bisnaguito

Pullman

388

294,9

-31,6

Bisnaguinha

Qualitá

398

302,5

-31,6

Bisnaguinha Scooby-Doo

Wickbold

350

266,00

-31,6

Margarina

Amélia 

480

364,80

-31,6

Margarina

Becel     

700

532,00

-31,6

Bisnaguinha premium

Panco

442

335,90

-31,6

Bisnaguinha Scooby-Doo integral

Wickbold

334

253,80

-31,6

Bisnaguinha

Kim     

236

179,4

-31,5

Bolo recheado com gotas de chocolate

Bauducco 

150

120,7

-24,3

Bolo de laranja sem recheio

Bauducco   

200

162,1

-23,4

Bolacha recheada de chocolate

Toddy

300

243,9

-23,0

Bolacha recheada waffer de chocolate

Triunfo

113,30

92,8

-22,1

Mistura para bolo aerado de coco

Renata  

571,40

470,6

-21,4

Pão de forma

Qualitá

500

412,2

-21,3

 

 
O que diz a Anvisa
 
Segundo a  Anvisa, a admissão de uma variação de 20% para mais ou para menos nas informações da rotulagem foi estabelecida para compensar as diferenças que podem ocorrer nos métodos empregados para apurar o conteúdo nutricional. A margem, de acordo com a agência, está prevista nas referências do Codex Alimentarius, coletânea de padrões reconhecidos internacionalmente, que estabelece códigos de conduta, orientações e outras recomendações relativas a alimentos e segurança alimentar.
 
Para o Idec, as grandes diferenças encontradas entre o teor de sódio indicado na rotulagem e no teste têm origem no fato de a legislação nacional permitir o uso de tabelas de composição padronizadas, em vez de obrigar que as empresas façam a análise do produto em laboratório.
 
A Anvisa explica que, quando irregularidades de rotulagem nutricional são identificadas nas ações fiscais, são aplicadas as penalidades previstas na Lei no 6.437/1977. Contudo, o Idec vê problemas na fiscalização do processo.
 
"Em alguns, houve mais de 66% de variação", conta. "A lei só faz sentido quando há comprometimento por parte das empresas e fiscalização pelo poder público", defende a nutricionista do Idec.
 
O Idec enviou os resultados do teste para a Anvisa, para a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e para o Procon-SP e o Procon-RJ. "Solicitamos que os órgãos investiguem os problemas de composição nutricional evidenciados, com o objetivo de prevenir falhas e assegurar que as informações passadas ao consumidor sobre as características dos alimentos sejam corretas", informa Bortoletto.
 
Como foi feito o teste
 
Entre março e abril, o Idec enviou para teste em laboratório 291 alimentos industrializados de 90 marcas, a fim de identificar o teor de sódio presente. Foram selecionados produtos de todas as categorias de alimentos incluídas nos acordos voluntários para redução de sódio firmados entre a indústria e o Ministério da Saúde. Nessa primeira etapa, os resultados foram comparados com a informação da tabela nutricional indicada no rótulo dos produtos, tendo em vista as regras da RDC nº 360 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
 
O teste foi realizado com o apoio do International Development Research Centre (IDRC). As análises laboratoriais foram realizadas pelo Laboratório Bioagri da Mérieux NutriSciences Company, entidade particular credenciada pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAPA) para integrar o LANAGRO (Laboratórios Nacionais Agropecuários) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para integrar a REBLAS (Rede Brasileira de Laboratórios Analíticos em Saúde).
 
Confira a tabela com todos os produtos avaliados em: http://www.idec.org.br/pdf/teste-teor-de-sodio-julho-2014.pdf
 

 
 
 O Idec é uma associação de consumidores que não possui fins lucrativos. Promove, desde 1987, a educação, a conscientização e a defesa dos direitos do consumidor, por relações de consumo mais justas. Sem vínculos com governos, partidos políticos ou empresas, mantém sua independência pela contribuição de pessoas físicas. Membro da Consumers International e integrante do Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor e da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais.