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Reportagem da Folha de S. Paulo, publicada em 14/10/2020
Os candidatos à Prefeitura de São Paulo apontam caminhos distintos para melhorar a eficiência do sistema de ônibus na cidade.
Segundo levantamento feito pela Lupa nos planos de governo cadastrados no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 5 dos 14 políticos que disputam o cargo prometem construir mais faixas e corredores exclusivos.
Outros 6 defendem rever os contratos de concessão do serviço. Há ainda os que sugerem uma maior integração com as cidades da região metropolitana e com o governo do estado.
Aprimorar o funcionamento do sistema pode ajudar a reduzir o tempo de deslocamento na capital paulista.
Pesquisa feita pela Rede Nossa São Paulo e pelo Ibope Inteligência em 2019 revelou que os paulistanos que dependem do transporte coletivo gastam, em média, duas horas e 27 minutos para circular pela cidade todos os dias.
Os ônibus apareceram como o meio de transporte de uso mais frequente, fazendo parte da rotina de 47% das pessoas.
Especialistas ouvidos pela Lupa destacam que os problemas desse meio de transporte, contudo, não são simples de serem resolvidos.
Para Carolina Guimarães, coordenadora da Rede Nossa São Paulo, o desafio do transporte público é garantir que ele seja de qualidade, eficiente e acessível para que mais pessoas queiram utilizá-lo.
"Hoje o transporte público acaba perdendo passageiros para os aplicativos e também para o carro”, diz. Guimarães avalia que é essencial o investimento tanto em ações para melhorar o serviço prestado pelos ônibus como em infraestrutura, com corredores e faixas exclusivas.
Além das obras viárias, é necessário otimizar o sistema, na opinião de Mauro Zilbovicius, professor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo).
“Não pode ter um mundo de linhas nos corredores, porque isso favorece a formação de filas em horário de pico”, afirma. “Também é importante tirar a cobrança de dentro do veículo para facilitar a entrada e saída das pessoas.”
O professor explica que medidas como essa podem dar mais fluidez ao tráfego dos ônibus e garantir maior eficiência do modal.
Celso Russomanno (Republicanos) prometeu criar novas faixas exclusivas para ônibus à direita nas ruas, assim como buscar meios de financiar a implantação de novos modais, como o BRT.
Já Bruno Covas (PSDB) comprometeu-se a inaugurar uma linha de BRT na avenida Aricanduva, na zona leste, com objetivo de promover a integração da rede rodoviária com as linhas 15-Prata e 3-Vermelha do metrô. Também trouxeram propostas similares Jilmar Tatto (PT), Andrea Matarazzo (PSD) e Marina Helou (Rede).
Revisão dos contratos
Em relação às concessões, os especialistas concordam que elas podem ser revistas e ajustadas. No entanto, chamam a atenção para o fato de os contratos estarem em período de vigência, o que exige cuidado.
“Deve-se promover readequações, mas a gente não pode simplesmente quebrar os contratos. Tenho severas críticas a isso, porque pode gerar insegurança institucional e afastar o investimento das empresas”, argumenta Flaminio Fichmann, coordenador de transporte metropolitano do Instituto de Engenharia e diretor de mobilidade urbana da Associação Brasileira de Veículos Elétricos.
Arthur do Val (Patriota) afirma em seu programa que irá remodelar os processos licitatórios das concessões de transporte.
Ele propõe que os contratos sejam divididos em dois, de modo que uma empresa seja contratada para fornecer a estrutura (veículos, garagem, manutenção) e outra assuma a gestão do transporte.
Guilherme Boulos (PSOL), por outro lado, fala em auditar e renegociar os contratos com objetivo de adotar a gratuidade na tarifa. Levy Fidelix (PRTB), Joice Hasselmann (PSL), Tatto e Helou também mencionam o assunto em seus planos.
A integração intermodal ou intermunicipal no perímetro da região metropolitana aparece em oito programas e também foi apontada como um problema a ser priorizado pelos especialistas.
“O principal entrave é que o planejamento de transporte e a operação da administração do estado e da prefeitura nunca são compatibilizados”, observa Fichmann. Ele diz ainda que isso se reflete na falta de racionalidade do sistema de transporte —em vez de os modais se complementarem, tornam-se concorrentes.
Sobre isso, Boulos, Hasselmann e Matarazzo assumem o compromisso de estudar meios de integrar o sistema de transporte paulistano com o dos municípios vizinhos.
“O desafio é que esse tema precisa de atenção do governo estadual para ele poder mediar essa integração e ele está indo na contramão, querendo extinguir a EMTU [Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos], que é órgão que tem feito essa discussão”, diz Rafael Calabria, coordenador do Programa de Mobilidade do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
“Mas o prefeito da capital é um ator político importante e pode pautar e debater esse assunto.”
Em relação à integração intermodal, Jilmar Tatto fala em criar um serviço público de aluguel de bicicletas e em ampliar a integração das ciclovias.
Matarazzo, por sua vez, compromete-se a estimular o uso de diversos modais e de aplicativos de integração de diversos meios de transporte.
No entanto, a proposta não mostra como a prefeitura poderia motivar a população a se engajar nesse propósito. Russomanno, Covas, Boulos, França e Helou também apresentaram metas parecidas.
Veja abaixo as principais propostas dos candidatos à Prefeitura de São Paulo para transporte público. A lista está organizada conforme as intenções de voto dos eleitores, aferida pelo Datafolha entre os dias 5 e 6 de outubro.
Celso Russomanno (Republicanos)
Fala em integrar os modais na região metropolitana e traz uma série de propostas para melhorar o serviço prestado pelas linhas de ônibus, como aumentar o número de faixas exclusivas. O candidato promete expandir os terminais urbanos de integração e incentivar o uso de biodiesel para reduzir a emissão de gases poluentes.
Bruno Covas (PSDB)
Aposta na integração máxima dos modais; na implementação do sistema BRT, com integração com as linhas 15-Prata e 3-Vermelha do metrô e de ciclovias da região; na entrega do primeiro corredor exclusivo para ônibus da zona leste; e na criação do Aquático, sistema de transporte por barcos a ser prestado nas represas da cidade.
Guilherme Boulos (PSOL)
Propõe a desinfecção dos ônibus e o estabelecimento de lotação máxima de uma pessoa em pé por metro quadrado, por causa dos cuidados exigidos pela pandemia. O candidato fala em implementar a tarifa zero de forma gradual e acelerar a substituição da frota de ônibus movidos por combustíveis fósseis por veículos elétricos.
Márcio França (PSB)
O ex-governador prometeu ampliar as calçadas; conectar as ciclovias da cidade; manter o preço atual da tarifa do transporte público e instituir a gratuidade aos finais de semana. Para colaborar com a redução dos congestionamentos, França propõe a criação de mais vagas de estacionamento para motocicletas.
Arthur do Val (Patriota)
Aposta na verticalização da cidade para que a população possa morar mais perto do trabalho, evitando assim os longos deslocamentos pela capital. Ele também defende a divisão da concessão de ônibus em duas: uma para a operação dos veículos e outra para a gestão de garagens e outros equipamentos necessários para o serviço.
Andrea Matarazzo (PSD)
Promete ampliar os corredores exclusivos para ônibus; estudar unificação das secretarias de Transporte e Desenvolvimento Urbano; reduzir os subsídios das tarifas; a substituição da frota movida a combustíveis fósseis por veículos menos poluentes; e adotar o conceito de tranquilização do trânsito, para garantir a circulação segura de modais não motorizados.
Levy Fidelix (PRTB)
Repete a proposta de construir mais trilhos de aerotrem e fala em canalizar os rios Tietê e Pinheiros para fazer o Boulevard do Aerotrem. Fidelix diz ainda que vai incentivar os paulistanos a usarem mais táxis, cuja tarifa básica promete reduzir, e ampliar a frota existente e os pontos espalhados pela cidade. Também promete usar ônibus elétricos e movidos a gás.
Antônio Carlos Silva (PCO)
Não apresentou propostas para mobilidade e transporte público.
Filipe Sabará (Novo)
Comprometeu-se a buscar parcerias com os moradores e a iniciativa privada para executar obras de alargamento das calçadas, assim como para a implantação de um bilhete único digital. O candidato também fala em acabar com a “indústria da multa”, adotando um modelo de atendimento e de defesa do cidadão digital e mais transparente.
Jilmar Tatto (PT)
Ex-secretário municipal de Transportes, o candidato propõe a criação de um sistema público de aluguel de bicicletas; quer retomar a construção de 500 quilômetros de ciclovia a cada quatro anos; e pretende instalar bicicletários próximos a estações de metrô e trem. A ampliação da integração intermodal também aparece como um de seus compromissos.
Joice Hasselmann (PSL)
Promete usar o 5G para fiscalização da prestação de serviço dos ônibus, assim como para fornecer informações sobre horários e tempo de deslocamento para os usuários por meio de um aplicativo, que seria usado como ferramenta de anúncios e geraria receita para ser investida no setor. Ela fala ainda em criar um cartão virtual para turistas.
Marina Helou (Rede)
Além de se comprometer a adotar o uso de combustíveis menos poluentes nas frotas de ônibus e incentivar que as pessoas andem mais a pé e de bicicleta, a candidata se compromete a criar o Fórum do Transporte Sustentável. Ela também pretende fazer um estudo das atuais concessões de transporte e criar um canal para acompanhar de perto a prestação do serviço.
Orlando Silva (PC do B)
Propõe implantar uma nova agenda urbana, que seja alinhada ao conceito de sustentabilidade. Para isso, Silva compromete-se a expandir as ciclovias e a priorizar o transporte coletivo ante ao individual. Ele também fala em adotar o passe livre para as pessoas desempregadas.
Vera Lúcia (PSTU)
Propõe a estatização dos transportes públicos e defende a reconstrução da CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), empresa que era responsável pela administração e operação do sistema de ônibus na cidade e que foi extinta por Paulo Maluf em 1995. A candidata compromete-se a expandir o metrô e a reduzir a tarifa até atingir a gratuidade, embora o modal seja administrado pelo governo do estado.