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Matéria publicada originalmente por Folha de S. Paulo
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Diego Portales, Universidade do Chile e UNC Gillings School of Global Public Health descobriu que novas regulamentações alimentares chilenas para a redução da obesidade têm um impacto positivo. Feito com grupos de mães de crianças e adolescentes, o estudo motrou que elas avaliam positivamente o sistema de alertas nas embalagens de alimentos.
Publicado no último dia 14 de fevereiro, no International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, o artigo "Respostas à lei chilena de rotulagem de alimentos e publicidade: Explorando conhecimentos, percepções e comportamentos" mostra que a combinação de estratégias está tendo boa receptividade.
No Chile, um quarto dos estudantes e um terço da população adulta são obesos. Em 2016, o governo adotou políticas de regulamentação de alimentos em três frentes: rotulagem frontal nas embalagens de alimentos processados, restrições de comercialização e regulamentações escolares.
Segundo essa rotulagem, os alimentos com alto teor de açúcar, gorduras saturadas, calorias e sódio adicionado devem exibir um selo preto na embalagem. Um mesmo produto pode ter quatro rótulos se todos os quatro nutrientes críticos excederem os limites do regulamento. Esses produtos não podem ser vendidos ou promovidos nas escolas, anunciados em mídia direcionada a crianças ou incluir estratégias de marketing que as atraiam, como o uso de personagens, em brinquedos, ou propaganda com esportistas e celebridades.
O estudo mostra que as mães compreenderam bem o sistema simbólico - que os produtos com mais rótulos são as escolhas menos saudáveis - e relataram que a mudança das escolas para refeições mais saudáveis afetou principalmente os seus filhos mais novos.
Elas perceberam também que o ambiente escolar ficou mais saudável do que antes da nova regulamentação.
Para a líder do programa da Alimentação Saudável do Instituto de Defesa do Consumidor, Idec, Ana Paula Bortoletto, a pesquisa traz resultados interessantes que podem ajudar na discussão que está sendo feita no Brasil.
A pesquisa mostra que as mães, que são, em geral, as responsáveis pelas decisões de compra, consideram os selos úteis para fazer escolhas mais saudáveis e citam o fato de as advertências desmascararem as produtos que se vendem como saudáveis e não o são.
"No Chile, a nova rotulagem está sendo usada com material educativo, nas escolas. É uma forma de divulgação importante. As crianças levam isso para casa e isso contribui para ajudar a tomar decisões mais conscientes sobre os produtos", diz Ana Paula.
Se todos os prazos correrem dentro do esperado, tecnicamente é possível que uma nova regulamentação sobre alertas de ingredientes nas embalagens de produtos processados entre em vigor no segundo semestre deste ano.
No final de março, deve estar pronto o relatório final de avaliação de impacto regulatório feito pela Anvisa. Depois disso, o texto da norma deve entrar em consulta pública aberta, por dois meses. Com as contribuições recolhidas, será finalizado o texto.
O Idec defende o sistema de selos advertência inspirado no modelo chileno. A Anvisa, em seu relatório preliminar, apontou que os selos seriam o mais adequados para o Brasil, segundo Ana Paula.
A indústria de alimentos não apoia o projeto e defende um outro sistema, sem o aviso na parte frontal das embalagens.
Matéria publicada originalmente por Folha de S. Paulo