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Após investigação do Ministério do Trabalho, Zara confirma trabalho escravo em sua cadeia produtiva

<i>Para Idec, a associa&ccedil;&atilde;o de produtos de grifes a condi&ccedil;&otilde;es de trabalho degradantes mostra que algumas empresas ainda apostam que o consumidor &eacute; um ser alienado</i>

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Atualizado: 

22/08/2011

A marca de roupas Zara reconheceu na quarta-feira (17/8), em nota, que há trabalho irregular de bolivianos em uma de suas confecções no interior de São Paulo. O caso foi investigado pela SRTE/SP (Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo), que culminou numa inspeção realizada por equipes de fiscalização do Governo Federal em junho, quando, por três vezes, as equipes flagraram trabalhadores estrangeiros submetidos a condições irregulares de trabalho, produzindo peças da marca Zara, do grupo espanhol Inditex.

Na operação que vasculhou duas fornecedoras da rede, acompanhada pela ONG Repórter Brasil, foram encontradas cerca de 15 pessoas, incluindo uma adolescente, mantidos em situações completamente ilegais, as quais incluíam jornadas de trabalhos que ultrapassavam 16 horas diárias, além de proibições como a de deixar o local de trabalho sem avisar.

Segundo a ONG, para sair das oficinas, que também eram moradia, os trabalhadores precisavam pedir autorização. O programa "A Liga", da TV Bandeirantes, mostrou na última terça-feira (16/8) que os trabalhadores recebem centavos para fazer uma peça e, se causarem algum dano, são obrigados a pagar pelo preço que é vendida em loja.

As vítimas libertadas pela operação de fiscalização na capital paulista são, em sua maioria, vindos da Bolívia e do Peru, de onde saíram buscando melhores condições de trabalho. No entanto, chegando aqui, a situação encontrada foi bem diferente. Tendo de trabalhar inicialmente por meses em longas jornadas, apenas para quitar as dívidas referente às supostas passagens e documentos, a situação dos trabalhadores se tornava insustentável. Os cadernos encontrados na oficina mostravam que os salários recebidos pelos funcionários variavam entre R$ 264 e R$ 460, valores inferiores ao salário mínimo vigente no País (R$ 545).

Para Lisa Gunn, coordenadora-executiva do Idec, a associação de produtos de grifes a condições de trabalho degradantes mostra que algumas empresas ainda apostam que o consumidor é um ser alienado ou que um fato ocorrido em um país distante não será conhecido em outros. "Porém, felizmente, e graças à atuação de organizações e autoridades sérias, ocorre justamente o contrário. É lamentável o caso Zara, e diante dos fatos reunidos na investigação, não é plausível que a empresa não soubesse de nada. De todo modo, as empresas precisam assumir a responsabilidade sobre suas cadeias produtivas", afirma Lisa.

Posição da empresa
A Inditex, empresa administradora da marca Zara, classificou o caso envolvendo as oficinas subcontratadas como "terceirização não autorizada", a qual violou o Código de Conduta para Fabricantes estipulado pela empresa. Ainda de acordo com a Inditex, a assinatura do Código de Conduta é obrigatória para todos os fornecedores da companhia e foi assumido pela intermediária AHA (que também assumia o nome de SIG Indústria e Comércio de Roupas Ltda).

No entanto, vale lembrar que a Zara foi notificada do flagrante no momento da ação pelos auditores fiscais, e convidada a ir até a oficina de costura, porém não compareceu.

A equipe de fiscalização, composta por dois agentes da Polícia Federal, integrantes do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, auditores da SRTE/SP e dirigente do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco, lacrou a produção das oficinas vistoriadas.