
Diante das emergências climáticas, das desigualdades sociais e do avanço de práticas predatórias que ameaçam a vida e os direitos humanos, a Semana Sustentável 2024 se torna um marco para a reimaginação de um futuro sustentável. Coordenada pelo Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) no âmbito da campanha global Green Action Week, promovida pela Sociedade Sueca de Proteção à Natureza, esta edição reuniu movimentos sociais, coletivos e organizações da sociedade civil para dialogar e agir em prol de práticas de produção e consumo sustentáveis, que promovam a justiça socioambiental.
Este manifesto reflete os aprendizados dessa jornada e propõe um plano político para promover mudanças nos modos dominantes de produção e consumo, garantindo práticas em prol de uma sociedade em que a justiça social caminhe junto com a proteção da natureza, fundamentadas na inclusão, justiça, cuidado e ancestralidade.
Por práticas de produção e consumo transformadoras
1. Resistir aos Imaginários Limitadores:
É urgente reconhecer a diversidade racial, social, de gênero e territorial dos defensores dos direitos humanos e ambientais, para construir um movimento verdadeiramente inclusivo.
2. Cuidado como Prática Política:
Defensores do meio ambiente não podem ser vitimizados em suas ações e práticas políticas. Precisamos de estratégias que promovam o cuidado integral e protejam aqueles que se colocam na linha de frente da defesa da vida.
3. Harmonia com o Ritmo da Natureza:
Propomos um ciclo de produção e consumo que respeite os ritmos naturais, desafiando a lógica do lucro imediato e promovendo uma economia que valorize o equilíbrio ecológico.
4. Diversidade e Território:
As comunidades devem ser incluídas em sua pluralidade, respeitando as especificidades territoriais e adaptando as estratégias de preservação às realidades locais.
5. Fortalecer a Ideia de Comunidade:
É preciso resgatar práticas comunitárias e fortalecer grupos marginalizados, especialmente aqueles cujos saberes ancestrais foram silenciados pela colonização e o capitalismo.
6. Educação para Novas Gerações:
Um olhar atento à formação de crianças e adolescentes é essencial. A justiça socioambiental deve ser incorporada às práticas pedagógicas nas escolas, preparando novas gerações para liderar mudanças estruturais.
7. Tecnologia como Ferramenta Democrática:
Democratizar o acesso e o uso de novas tecnologias é indispensável para ampliar os processos de conservação, com letramento e inclusão digital que empoderem comunidades locais.
8. Ancestralidade ao Centro:
Devemos desenvolver agendas de valores guiadas pelos mais velhos, integrando saberes tradicionais como fonte de inspiração e solução para desafios contemporâneos.
9. Saber Popular e Academia em Diálogo Horizontal:
É fundamental estabelecer uma relação igualitária entre conhecimentos populares e acadêmicos, promovendo soluções práticas e efetivas para os problemas enfrentados pelas comunidades.
10. Desobediência às normas que atentem contra a vida
Não devemos permitir que burocracias e normas se tornem obstáculos para ações de proteção socioambiental. Quando o status quo coloca em risco a vida e o equilíbrio do meio ambiente, a desobediência civil pode ser vista como uma resposta legítima e necessária para evitar danos irreversíveis.
11. Arte e Cultura como Estratégia:
Produzir cultura e arte é uma forma poderosa de educar e sensibilizar para a preservação ambiental, resgatando narrativas e práticas que inspiram mudança.
12. Troca de Saberes e Sustentação dos Projetos:
A multiplicação de conhecimentos, aliada à continuidade dos financiamentos, é essencial para a durabilidade das ações de conservação.
13. Democratização dos Editais de Fomento:
Os processos de financiamento devem ser transparentes, acessíveis e inclusivos, garantindo que coletivos e organizações de base tenham acesso igualitário aos recursos.
14. Antirracismo como Pilar do Consumo Responsável:
O combate ao racismo deve ser central em uma nova ideia de consumo, reconhecendo que as desigualdades raciais estruturam o acesso a recursos e oportunidades.
15. Participação Popular nas Políticas Públicas:
O desenvolvimento de políticas públicas deve incluir a participação ativa e efetiva das comunidades, assegurando que sejam protagonistas nas decisões que impactam suas vidas.
A Semana Sustentável 2024 reafirmou que a justiça socioambiental só será alcançada por meio da inclusão, do respeito e do compromisso coletivo. Este manifesto é um convite à ação, ao rompimento com paradigmas exploratórios e à construção de um futuro onde a sustentabilidade seja um direito de todas as formas de vida. Que cada um de nós, em nossas múltiplas potências, seja parte dessa transformação.
Pelo direito à vida, pela justiça socioambiental, pela preservação dos nossos territórios comuns.
Assinam este manifesto as comunidades, organizações e movimentos reunidos na Semana Sustentável 2024.