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Reportagem da Rádio Nacional, veiculada em 09/03/2021
Apesar de terem renda menor que a dos homens, mulheres pagam mais caro por produtos similares só porque são adaptados ou, simplesmente, embalados para elas.
Taxa rosa, ou em inglês, pink tax. Esse é o nome dado para a prática do mercado, de cobrar mais caro para produtos específicos para mulheres. Apesar de batizado como taxa, não se trata de um imposto, mas a aplicação de preços mais altos para produtos similares, com pequenas adaptações ou simplesmente embalagens específicas para mulheres.
Nós fizemos o teste. Pesquisamos os preços de produtos para homens e seus equivalentes para mulheres em diferentes setores. Farmácias, artigos esportivos, vestuário, acessórios para bebês e cabeleireiros. De 10 produtos pesquisados, em três lojas diferentes, todos tiveram preços mais altos para mulheres em pelo menos uma das lojas. De tênis esportivos a lâminas de barbear azuis ou de depilação cor de rosa.
Em nosso levantamento, a diferença de preço foi, em média, 35% a mais nos produtos destinados a mulheres. A maior discrepância foi a de um analgésico do laboratório multinacional GlaxoSmithKline. O Ibuprofeno 400 miligramas é encontrado nas farmácias com o nome fantasia Advil. A cápsula do mesmo analgésico quem vem na embalagem com palavra ''Mulher'" custa quase o triplo que o mesmo remédio na versão que não especifica o gênero do usuário. Uma diferença de 190%.
Júlia, de 17 anos, não vê sentindo em pagar mais para ter uma embalagem com letras rosas. A Taxa rosa atinge mulheres de todas as idades, e desde as muito novas. No levantamento feito pela nossa reportagem, o mesmo macacãozinho de bebê na versão cor-de-rosa custa, em média 28% a mais que a mesma peça de roupa com detalhes azuis. Letícia tem dois filhos. Um menino e uma menina. E sempre percebeu a diferença.
O professor da ESPM, Escola Superior de Propaganda e Marketing, e especialista em comportamento, Fábio Mariano, explica que a distorção vem da percepção do papel da mulher em relação ao consumo. Em 2017, Fabio Mariano coordenou um estudo que confirmou a aplicação da taxa rosa no mercado brasileiro. E ele chama atenção para um problema que aumenta ainda mais a distorção, a diferença de renda entre homens e mulheres.
Segundo o IBGE, no Brasil, as mulheres ganham, em média, 30% a menos que os homens. Em nota, o IDEC, o Instituto de Defesa do Consumidor, disse que apesar dos fornecedores ou fabricantes terem liberdade de determinar o preço dos produtos, é possível questionar esse tipo de prática de diferenciação de preços por gênero.A recomendação é reunir recibos e notas fiscais para comprovar a distorção e poder formalizar a reclamação nos órgãos de defesa do consumidor.
Em nota, o laboratório GlaxoSmithKline informou que:
Advil Mulher chegou ao mercado para esclarecer sobre o uso do Ibuprofeno 400mg no tratamento de cólicas menstruais e dores relacionadas ao período menstrual. A GSK Consumer Healthcare (CH) é a favor de que todas as mulheres tenham o direito de lidar com este período com naturalidade e que tenham toda informação possível para que possam escolher a melhor maneira de tratar estas dores e seguir com suas atividades. A composição de Advil Mulher também é Ibuprofeno 400mg e vem em embalagem específica e direcionada para as indicações de dores relacionadas ao período menstrual. Entretanto, Advil Mulher pode ser usado em outros possíveis momentos de dor durante o mês. A GSK CH reforça que o preço indicado por cápsula de Advil Mulher é o mesmo de Advil, mesmo que a apresentação dos produtos seja em embalagens diferentes, o que pode impactar no valor por caixa. A empresa ressalta ainda que a escolha do preço final para o consumidor é do próprio estabelecimento comercial.