separador
Atualizado:
Reportagem publicada no jornal O Globo, em 22/06/2020
RIO - Os planos de saúde registraram, em maio, o menor uso por seus beneficiários desde o início da série histórica iniciada em 2016.O boletim da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), divulgado, nesta segunda-feira, mostra que a suspensão de cirurgias e exames eletivos por conta da pandemia por coronavírus, fez o desembolso das operadoras frente ao valor recebido de mensalidades cair de 76% abril para 66% no mês passado.
Isto é, do que as empresas do setor receberam de seus usuários, gastaram 66% para coberturas de atendimentos assistenciais. A média dos últimos quatro anos era de 76%, sendo o pico de 85%, em abril e junho de 2016.
O levantamento da ANS, com dados fechados em 31 de maio, também mostra uma ligeira alta do número de inadimplentes: a média subiu de 13% para 16%.
Apesar da redução de custos, os planos de saúde não têm facilitado a negociação dos consumidores em dificuldade para pagar as mensalidades, diz Ana Carolina Navarrete, coordenadora de pesquisa em saúde, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec):
— A inadimplência já subiu um pouco e a tendência é se agravar, já que as empresas estão dificultando a negociação de mensalidades. Por isso é tão importante que projetos de lei como PL 1542/20, que suspende os reajustes de planos de saúde, já aprovado no Senado e agora indo para a Câmara, tramite com celeridade e seja aprovado — destaca.
Para médica sanitarista, Ligia Bahia mais do que facilitar as negociações de inadimplentes, as empresas teriam condições hoje de oferecer algumas facilidades a quem perdeu renda:
— A redução da procura por cuidados lhes permite aumentar retornos financeiros porque recebem as mensalidades e estão pagando menos para os prestadores de serviços. Essa “folga” entrada de recursos preservada a inadimplência é pequena e menor saída para o pagamento das despesas assistenciais deveria estimular a redução temporária do valor das mensalidades — sugere.
A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) diz que o crescimento da inadimplência preocupa e que ainda não é possível dimensionar seu real impacto no setor.
Embora diga que as informações do relatório estão dentro das expectativas do setor, a associação disse que deverá solicitar uma reunião à ANS "para se aprofundar nas informações levantadas."
A Abramge chama atenção ainda para o fato que o Brasil é um país continental e cada região, assim como cada operadora de plano de saúde estão em diferentes estágios de combate à Covid-19.
Ocupação de leitos é menor do que em 2019
Os números da saúde suplementar de maio mostram ainda um aumento na taxa de ocupação geral de leitos (com e sem UTI), passando de 51%, em abril, para 61% em maio.Apesar da alta, o percentual ainda é menor do que o registrado em maio do ano passado quando era de 76%.
O boletim aponta ainda um crescimento significativo de leitos para atendimento à Covid-19 de abril para maio: de 45% para 61%.
Segundo o levantamento da ANS, os dados não indicam, até o momento, desequilíbrio assistencial ou econômico-financeiro no setor.
Em maio, registrou-se ainda o aumento na autorizações pelas operadoras de pedidos de exames e terapias. O volume, no entanto, ainda é 46% menor do que o registrado em maio no ano passado.
Em 9 de junho, a ANS acabou com a medida que flexibilizava o prazo para realização de cirurgias, exames e consultas eletivas pelas operadoras.
Hospitais e laboratórios disseram já estarem prontos para atender ao aumento de demanda. No entanto, especialistas analisam que a retormada dos procedimentos vai depender da contenção da evpidemia para que as pessoas se sintam seguras e voltem a sua rotina de cuidados médicos.
Para a elaboração do boletim a agência reguladora, para os dados assistenciais, utiliza informações enviadas por 50 operadoras classificadas que possuem hospitais próprios. Para a análise econômica são analisados os dados de 102 operadoras que juntas somam 74% dos usuários de planos de saúde médico-hospitalares do país.
Agência recebeu 4,7 mil relacionadas à Covid-19
A ANS informou ainda ter recebido, entre março e 15 de junho, 4,7 mil queixas relacionadas ao tema coronavírus, entre as 7.149 solicitações enviadas a reguladora. O o número total de reclamações neste ano, destaca a agência, é menor do que no mesmo período de 2019.
Do total de reclamações relacionadas à Covid-19, 36% (1,7 mil) se referem a dificuldades de atendimento relativas ao exame para detecção ou tratamento da Covid-19. Outros 43% tratam de problemas relacionados outras assistências afetadas pela pandemia e 21% são temas não assistenciais (contratos e regulamentos, por exemplo).
Em nota, a Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde) disse que a redução da sinistralidade, ou seja, da utilização das estruturas de saúde no mês de maio, é consequência direta de orientação expressa das autoridades sanitárias do país no sentido de estimular os pacientes a postergarem procedimentos eletivos.
De acordo com a federação, esse é um resultado que coincide com momento crítico da pandemia no país. "Tende, portanto, a ser pontual e localizado".