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Reportagem do jornal O Globo, publicada em 02/01/2021
Diferentemente do que se imaginava no longínquo março de 2020, quando foi decretada a pandemia do novo coronavírus, 2021 começa ainda com incertezas sobre o controle da Covid-19 e sobre o futuro da economia. São cerca de 14 milhões de desempregados e quase 40% dos trabalhadores na informalidade. A fim de atravessar essa turbulência, especialistas traçam uma rota para organizar as finanças e ter mais tranquilidade no ano que se inicia.
— Será necessário repensar gastos, padrão de consumo, renegociar dívidas de acordos não cumpridos. Tudo isso requer planejamento e disciplina financeira — diz Ione Amorim, economista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Veja as recomendações dos especialistas:
Receitas e despesas
O orçamento é o primeiro passo para quem quer organizar as finanças. Liste seus gastos e como variaram durante o ano. Estime as despesas dos próximos três ou seis meses.
O consultor financeiro Fred Marques orienta dividir os gastos por áreas, como alimentação, lazer e transporte. E recomenda que o planejamento leve em consideração gastos como aniversários e datas comemorativas, que não podem ser considerados imprevistos e demandam uma reserva com antecedência.
Pode-se fazer o orçamento em um pedaço de papel, por meio de aplicativos e até em uma planilha — o Idec tem um modelo disponível em seu site. Some também suas receitas, que podem ser de diferentes fontes: trabalho, aposentadoria, pensão, investimentos.
Maratona financeira
Não se deve pensar no salário como “o dinheiro que precisa durar até o dia 30”, alerta a planejadora financeira Vivian Rodrigues. Momentos de crise, como o atual, acontecem com frequência: pode não ser um pandemia, mas a demissão ou um tratamento de saúde repentino.
Por isso, explica ela, é preciso entender que parte dos ganhos mensais tem o papel de suprir esses momentos de instabilidade. É importante sempre reservar parte da sua receita para um fundo de emergência.
Não precisa ser muito, diz Ione, do Idec, mas precisa ser regular. Quanto maior o valor guardado, menor a exposição se surgir alguma emergência.
Qual é a sua prioridade?
Orçamento feito, o educador financeiro Carlos Eduardo Batalha, conselheiro do Procon Carioca, diz que a hora é de estabelecer prioridades. Definir quais despesas são urgentes ou essenciais e não podem ser retiradas do orçamento, ressalta, é uma ótima forma de encontrar gastos que estão comprometendo sua vida financeira.
Está em home office?
A quem passou a trabalhar em casa, a economista do Idec recomenda comparar os gastos antes e depois dessa mudança. É provável, afirma, que a pessoa tenha passado a gastar mais em serviços como energia, água, alimentação em casa e internet.
Por outro lado, é possível que tenha reduzido despesas com transporte, vestuário, lazer e viagens. Se essa situação se mantiver em 2021, faça as projeções. E caso apure que fez economia, guarde essa sobra para a reserva de emergência.
Matrícula escolar
A perspectiva é que o próximo ano letivo ainda comece com aulas à distância ou em sistema híbrido. Algumas instituições de ensino já oferecem descontos lineares, principalmente para a educação infantil. Todas, no entanto, estão abertas a negociar as mensalidades, de acordo com a necessidade do aluno. Negocie e esteja atento à lista de material, avaliando se os pedidos são adequados ao momento.
Perdeu o emprego?
É importante fazer um planejamento, saber o quanto necessita para se manter e planejar o melhor uso da rescisão, orienta Ione. Aproveite cursos gratuitos e busque apoio de associações e cooperativas.
Falta dinheiro?
Identifique os recursos não financeiros que você tem à disposição. Quando falta dinheiro, diz Fred Marques, seu tempo, energia, conhecimento e rede de contatos são ferramentas indispensáveis para atravessar a crise e realizar objetivos.
Estude a possibilidade de vender objetos pessoais e outros bens que você não usa e estejam em bom estado para gerar um dinheiro extra, acrescenta Ione, do Idec. Comprar de pequenos produtores, empreendedores, produções caseiras, ressalta ela, é uma forma de movimentar a chamada economia solidária.
À vista ou a crédito?
A recomendação da economista do Idec é dar prioridade ao pagamento das despesas mensais à vista. O uso do crédito deve ser restrito a gastos de maior valor. Deve-se evitar, por exemplo, parcelar compras de supermercado e farmácia, sobretudo no caso de medicamentos de uso contínuo.
Contas que não falham
Impostos como IPTU e IPVA não deixarão de ser cobrados por causa da pandemia, então é importante que estejam previstos no orçamento para não provocar um desequilíbrio na renda. Só parcele se não puder quitar de uma só vez.
E as dívidas?
Para todas as dívidas, a recomendação é exercitar seu poder de barganha. Dê prioridade a negociar os pagamentos em atraso relacionados a serviços essenciais (água, energia elétrica, telefonia e gás), aluguel e condomínio.
Apresente uma proposta para evitar a interrupção do serviço. Ao negociar, não decida sob pressão, verifique se a proposta é, de fato, adequada a sua capacidade de pagamento.
Vai sobrar para investir?
Vivian lembra que momentos de turbulência registram muita volatilidade nos investimentos. Independentemente da direção do mercado, diz a planejadora financeira, quando os investimentos não são adequados ao perfil e à necessidades do investidor, a tendência é tomar decisões ruins sob pressão. O momento, diz, é para ajustar investimentos e rebalancear a carteira.